Mídia nota zero - A série - I


Nada pode ser pior, em um país dito democrático, do que uma mídia desinformada e preguiçosa, para não dizer dependente das verbas públicas para sobreviver ou manter o padrão de vida de seus editorialistas, chegados a um bom charuto e whisky 16 anos...

No Brasil, não existe jornalismo investigativo na educação. Quem manda na mídia são os sindicatos das categorias "docentes", que manipulam os meios de comunicação a bel prazer.

Apenas um exemplo, entre os que daremos durante esta nova série, que promete ser longa:

É de grande interesse da classe "docente" acabar com a progressão continuada, que dá muito trabalho. Não que ela seja efetivamente praticada, ela está apenas no papel, mas "pegaria mal" para dirigentes e supervisores de ensino, diretores de escola, coordenadores "pedagógicos" e professores, se "um dia" a mídia finalmente investigasse e divulgasse o descalabro que é o sistema de ensino de modo geral: planejamento deficiente e mesmo assim ignorado pela maioria dos professores, 25% em média de aulas vagas, recuperação de alunos inexistente ou ineficiente, professores entrando em sala de aula com até meia hora de atraso, bibliotecas fechadas e... que alunos e pais não se atrevam a reclamar: é perseguição ou expulsão na certa!

(Calma, srs. professores: exceções existem e estamos sempre aqui para aplaudi-las! Mas o IDEB e o IDESP confirmam que A MAIORIA DAS ESCOLAS DO PAÍS ensina mal.)

Então a "estratégia" é a seguinte: divulgar meia dúzia de escolas "fortes", aquelas que escolhem seus alunos a dedo e "puxam" a matéria. Se o aluno não entender, que a família se vire para pagar professor particular (afinal, é para isso que essas escolas escolhem os alunos, além de as famílias poderem pagar altas taxas de APM, cobradas religiosamente). Nessas escolas, o diretor bate no peito ao falar "minha escola", não admite a entrada de alunos sem uniforme e convoca o Conselho para expulsar os indesejados. Essa "meia dúzia" de escolas não podem ser tomadas como escolas "padrão", pois são na verdade excludentes e preconceituosas. Trata-se, efetivamente, de "escolas publicas de classe média", ou melhor, de "escolas semiparticulares ilegais", devido às altas taxas de APM que os pais são convidados a pagar, o que exclui automaticamente os alunos mais pobres.

Mas quem, no Brasil, está interessado em efetivar o que está na Constituição: uma escola pública de qualidade PARA TODOS? Quando, finalmente, a repetência for reconfirmada em todo o país, será o triunfo da classe "docente" preguiçosa e incompetente, que se livrará da sua responsabilidade com apenas uma canetada: REPROVADO! No ano seguinte, o aluno que permanecer na escola vai "aprender" o mesmo que no ano anterior e, no subsequente, vai levar o pontapé final para a marginalidade.

Se os podres poderes públicos do país estão, principalmente, interessados em manter a ignorância da população, a mídia também não fica atrás.

Vejamos então a preguiça e a malemolência do Jornal da Tarde em seu editorial de hoje, Escola bem avaliada reprova no meio do ciclo, que exalta uma "escola pública de classe média" como se seus resultados positivos no Enem fossem indicativos de qualidade, quando TODOS OS CIDADÃOS MINIMAMENTE INFORMADOS SABEM QUE ESSE EXAME NÃO REFLETE A QUALIDADE DO ENSINO MÉDIO, POR SE LIMITAR A UMA AMOSTRAGEM MANIPULADA PELAS ESCOLAS. É muito cômodo, para o jornal, fazer coro ao sindicalismo, que quer acabar com os ciclos antes que se comprove que o fracasso é devido à incompetência e preguiça da classe "docente" e seus dirigentes.

Na brilhante análise de nosso amigo Mauro, o Jornal da Tarde perdeu uma boa oportunidade de publicar uma "receita de bolo" em lugar desse editorial, que valoriza a postura ditatorial do diretor dessa escola. O mesmo diretor declarou a outro jornal, o Agora São Paulo, que "a democracia não se aplica ao ensino".

Este exemplo é realmente típico da tendenciosidade e preguiça da mídia: em vez de buscar fontes de informação variadas para investigar a "qualidade das escolas pelo Enem", um jornal copia do outro... Pra que aprofundar o assunto? Pra que informar que o Enem é um exame facultativo e que as escolas desestimulam os alunos fracos e incentivam os melhores a fazê-lo?... Pra que investigar como as escolas trabalham em seu dia-a-dia?... E isso seria tão fácil! Bastaria conversar com os alunos entrando e saindo do portão sem se identificar como jornalista, e fazer perguntinhas básicas:
  • Quantos professores faltaram hoje?
  • Quando a aula é vaga, para onde vão os alunos?
  • Durante as aulas de educação física o professor fica com os alunos na quadra?
  • Quais professores costumam chegar no horário?
  • Em que dias a biblioteca da escola está aberta para os alunos?
  • As aulas são claras?
  • Os professores explicam as dúvidas?
  • Existem aulas de recuperação? Elas funcionam?
  • O coordenador pedagógico atende os pais e alunos?
  • O diretor da escola costuma estar presente e atender os pais e alunos?

Há alguns anos, jornalistas da Rede Globo e da Folha de São Paulo nos pediram "estatísticas" que confirmassem os 25% de aulas vagas que os alunos da rede pública "recebem" durante o ano letivo. Respondemos que cobrassem essas estatísticas do INEP(t), para o qual cansamos de pedi-las. Não o fizeram. Sugerimos então que distribuíssem para seus funcionários operacionais (vigias, faxineiros, motoristas) o formulário de controle de aulas vagas do Site PaisOnline. Também não fizeram. Enfim: a verdade incomoda!

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