Os tristes acontecimentos do "dia das mães" prolongado em São Paulo exigem uma reflexão mais profunda. Depois de todos esses atentados, ainda é possível fazer uma separação entre a criminalidade "comum" e o crime organizado? Não será o preso principalmente um ser humano? E depois de ser atirado num depósito de corpos como é uma delegacia de polícia ou um presídio no Brasil, qual sua chance de ser reintegrado à sociedade? Sabemos que é quase nula. É ísso que permite ao crime organizado se fortalecer cada vez mais. O crime organizado é uma indústria, uma enorme empresa que a cada dia tem mais chances de recrutar um número maior de seres humanos...dentro e fora dos presídios, pois o mercado de trabalho convencional está saturado e a desesperança tende a dominar as comunidades carentes. O crime organizado está infiltrado também nas Febens, os presídios juvenis que o Estado de São Paulo teima em alimentar há décadas, ferindo o Estatuto da Criança e do Adolescente, uma lei que se fosse cumprida poderia mudar o destino de milhares de jovens caídos no crime por falta de opção ou de regeneração. Mas o drama desses seres humanos que a sociedade perde para a marginalidade se inicia na escola, que tende a excluir e a expulsar o aluno carente, o diferente, o inteligente. Esse é o início da exclusão e disso não se fala, é assunto tabu. Da escola para a Febem é um pulo, da Febem para o crime organizado é outro. Esta é a realidade que estamos vivendo aqui em São Paulo, a "locomotiva" do Brasil. É uma situação diferente da do Rio de Janeiro, onde as facções criminosas lutam entre si. Aqui, em São Paulo, a criminalidade conseguiu criar um sistema organizado que acabou de dar mostras de sua força de maneira incontestável. Se as rebeliões nos presídios e a onda de violência foram sustadas em tão poucas horas, não podemos ser tão ingenuos de pensar que isto saiu de graça, como querem nos impingir. Certamente houve uma "boa negociação" entre um governo omisso e um sistema criminoso que nunca escondeu suas exigências. O que nos espera daqui para frente?
São questões que não podemos ter medo de enfrentar. O governo se dobrou diante do crime organizado, numa situação que poderia ter prevenido, considerando que os atentados já haviam sido anunciados. Negociar com o crime é o mesmo que compactuar com ele. O crime organizado não dá valor à vida, mas ao poder, ao dinheiro, ao domínio. E qual é o valor que o governo tem dado, todos esses anos, à vida humana? Não é também crime permitir a exclusão de crianças e adolescentes da escola? Não é também crime apinhar esses garotos dentro de mini-presídios onde são "dominados" através de espancamentos e torturas? Durante os últimos anos ficou patente a infiltração do PCC dentro das Febens, tentando arregimentar meninos acuados e desiludidos para o crime organizado. Qual a medida que o governo tomou? Desde o início da década de noventa, o ECA determina com toda clareza que as crianças e adolescentes em conflito com a lei precisam ser atendidos em seus municípios de origem, em regime municipalizado. Qual o interesse do Estado de São Paulo em manter esse monstro que é a Febem, onde um garoto de Presidente Prudente ou de Ribeirão Preto é transferido para a Capital e torna-se uma possível vítima do crime organizado, que está atuando dentro de todas as unidades? Interesses existem, é claro. Cada interno da Febem custa ao Estado de R$ 1.800 a 2.000 por mês. Para onde vai esse dinheiro? Com muito menos qualquer família teria condições de dar uma vida digna a seu filho. Se temos que discutir o crime organizado, vamos então também discutir o crime LEGALMENTE organizado, esse que permite a exclusão de seres humanos das escolas, da sociedade, da vida. O crime organizado não dá valor à vida, certo? Aqueles que saem com uma arma na mão sabem que sua vida pode terminar no mesmo dia. E o crime LEGALMENTE organizado, dá valor ao quê? Vamos refletir sobre isto?...
Comentários
Estou cheio de ouvir a frase pessimista e lugar comum:
“Tudo vai acabar em Pizza”
Até numa situação séria como essa dos ataques do PCC não deixamos de ouvi-la.
Hoje dei uma sugestão de receita de pizza. Se puder, dê uma olhada.
Um abraço
Marco Aurélio