Estão lembrados de uma escola de Sampa que iniciou este ano letivo sem mesas para servir merenda aos alunos? Foi o Gilberto Dimenstein que pôs a boca no trombone. É a EE Victor Oliva, uma escola estadual que havia sido incluída no sistema de período integral e que conta inclusive com classes especiais. Fiquei sabendo agora que o assunto só havia chegado à mídia graças à denúncia de pais de alunos de duas meninas gêmeas, que haviam se proposto a ajudar a escola em tudo o que fosse preciso para suprir suas deficiências. Pois é, sempre que um assunto como esse, bastante corriqueiro, chega a ser divulgado na imprensa, estão na retaguarda pais aflitos tentando resolver os problemas. Mas esses pais de primeira viagem, muito empenhados em oferecer às suas filhas, no primeiro ano do ensino fundamental, uma educação de qualidade, tiveram que perceber que o buraco é muito mais embaixo. A falta da mesa para a merenda era apenas a ponta do iceberg de um sistema educacional perverso e excludente, que se revelou a esses pais de forma bastante clara, meses depois.
Nós, que teimamos em manter nossos filhos na rede pública de ensino, sabemos muito bem do que esses pais estão falando. E gostaríamos que eles pudessem ter ficado para continuar a luta conosco, mas podemos entendê-los, pois a súplica de duas crianças de seis anos pedindo trégua é de cortar o coração de qualquer mãe ou pai. A hipocrisia da classe docente brasileira chega ao cúmulo de dizer que "criticar a escola pública é denegri-la". Boa desculpa para deixar tudo como está, já que os filhos "deles" estudam na rede particular.
Reproduzimos a seguir a carta aberta dos pais das duas alunas da EE Victor Oliva, um depoimento forte e corajoso. Pedimos que seja lido com muita atenção. Tivemos uma longa conversa com esses pais e percebemos que só jogaram a toalha depois de muito esforço. A escola fica num bairro nobre de São Paulo, portanto teria todas as condições para oferecer um serviço no mínimo razoável. Se o sistema não fosse exatamente o que é. E dele não se foge.
Um semestre se passou, lutamos para melhorar a escola, mas não agüentamos. Não agüentamos o olhar triste de nossas filhas ao entrar na escola diariamente, não agüentamos as súplicas diárias para faltar à aula (fora os dias que ligavam da escola para pegá-las, por conta de dor de cabeça, dor de barriga, dor de dente, por apanhar dos coleguinhas... etc). Ao final das férias, elas pediram mais “um ano” de férias... alegando que não faziam nada de novo e não tinham mais nada para aprender! Desmotivadas aos seis anos e meio... Ficamos revoltados por muito tempo, porque após reclamações insistentes, vocês da Secretaria de Educação e Delegacia de Ensino já as conhecem, porque leram as cartas e responderam 2 delas. A primeira praticamente negando tudo que havíamos colocado... mas sabendo que estavam se omitindo. Omitindo sim, talvez para enganar a si próprios e - talvez diminuir a culpa ao deitar suas cabeças no travesseiro – tentando esconder com belas palavras a verdadeira realidade da escola: sem profissionais adequados para orientar e supervisionar o almoço e o lanche das crianças; sem professores de verdade – não aqueles que estão lá para assinar ponto e receber o salário – colaborando cada vez mais para a estatística vergonhosa do analfabetismo crescente das crianças vindas de escolas públicas; sem direção responsável; sem coordenação pedagógica, aliás, sem planejamento pedagógico, cada professor fazendo o que bem entende – ou melhor, não fazendo nada. Tudo uma grande mentira...
A maioria dos professores dessa escola, (só posso falar dela porque é a realidade que conheci, mas já dá para imaginar então a realidade das escolas nas periferias de nossa cidade), não merecem o salário que recebem todo mês, não merecem ser chamados de educadores, são sim, aproveitadores...parasitas do Estado, cidadãos sem ética e sem capacidade para entender a importância da Educação para o presente e o futuro de nossas crianças...e seus dirigentes...diretores, supervisores...todos se omitindo, porque é impossível que não enxerguem essa realidade, é impossível que não consigam resolver as mínimas solicitações das crianças e pais. Uma vergonha geral! E a responsabilidade é de todos que fazem parte desse sistema educacional podre e pobre! Pobre de dignidade...não podemos achar digna uma professora que não dá nada em sala de aula para seus alunos, menos digna a direção da escola que diz que não pode fazer nada, menos digna ainda a supervisora que não supervisiona nada, porque não vê problemas nem da diretora e nem da professora, e menos digno ainda o papel dos dirigentes que revisam e assinam embaixo relatórios mentirosos dessa cadeia vergonhosa de mentiras e alucinações...chegando então à Secretaria de Educação que assiste a tudo isso sem se abalar. Que mundo é esse? Que Estado é esse? Que cidadãos são esses que sairão dessas escolas podres e pobres de dignidade. O que podemos esperar? E como podemos cobrar um país melhor no futuro? Que futuro? Se nossas crianças ficam abandonadas nesses “circos” (no pior sentido dessa palavra) chamados de escolas estaduais!
Denise e Edvard Luiz
Pais de ex-alunas da E.E. Victor Oliva/SP
Comentários
Estamos cansados de ouvir as autoridades dizerem que os pais devem fiscalizar as escolas públicas e que a escola é da sociedade. Palavras bonitas, mas como fazer isso se essas mesmas autoridades não dão um mínimo de apoio aos pais que tenham a coragem de denunciar a má administração e as falcatruas que ocorrem e jamais se mostram dispostas a resolver os problemas apontados? É para qualquer um jogar a toalha e infelizmente é isso que as autoridades, dirigentes, diretores e maus professores querem, ou seja, uma escola sem alunos!
Muito bom ver a educação sendo discutida e denunciada. Creia, isso se replica pelo País inteiro. Conheço a realidade de escolas no nordeste. É alarmante, mas como educação não dá votos e muito menos vende jornal, raramente é divulgado números negativos, falta de políticas públicas, etc. E se esse fato teve alguma repercussão se deve ao Gilberto Dimenstein que tem espaço na mídia, além de ser um dos donos de uma ong que atua na área.
Um abraço,
“Esta campanha está chata, sem gana, sem raça, sem graça. Todo mundo aderindo a filosofia do “paz e amor”. Lula não fala, ou melhor, nem aparece. Alckmin está apático (os números das pesquisas que o digam). Heloísa e Cristóvam trocam elogios e carícias como um casal de namorados. Bivar (quem?) e Eymael (agora é com quem?)...
Eis o que eu queria dizer, como escreveria Nelson Rodrigues, tucanos e pefelistas tem o comportamento igualzinho ao da Seleção brasileira na última Copa do Mundo”
Abraços
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