Quem cala, consente

Em comemoração a este "dia da Mentira" uma famosa frase de Robert Louis Stevenson:
As maiores mentiras são ditas através do silêncio.

Nosso objetivo aqui neste blog não é resolver os problemas de ninguém. É orientar os pais de alunos para que aprendam a resolver seus próprios problemas, com atitudes firmes e argumentos fortes, baseados na legislação. Foi assim que nós mesmos pudemos defender e ajudar nossos próprios filhos a passar pela difícil experiência de estudarem na rede pública de ensino. Não adianta dizer que “em Bananópolis existe excesso de leis e ninguém as cumpre”. Essa é a mais pura verdade, mas ela só pode ser modificada se as leis vierem a ser cumpridas de fato. Os pais estão começando a parar de serem vaquinhas de presépio. A realidade está mudando e esse caminho é sem volta.

Em janeiro já relatamos o caso espetacular da mãe do Campo Limpo, uma pessoa simples que foi humilhada por uma supervisora de ensino autoritária e ignorante, mas mesmo assim teve a coragem de enfrentar de igual para igual o próprio Dirigente de Ensino e foi por ele tratada com toda a educação que merece. Ela levou para a reunião todas as informações legais sobre os seus direitos e compreendeu que ia falar não com uma “autoridade”, mas com um funcionário pago por ela e por todos nós. O resultado foi que seus direitos foram respeitados.

O caso que relatamos em fevereiro sobre a EE Brasílio Machado, onde a direção da escola suspendeu as aulas e chamou a polícia para dispersar e ameaçar com spray de pimenta os alunos não uniformizados, também foi bem resolvido. O pai que nos procurou enfrentou as autoridades com um calhamaço de leis debaixo do braço e as obrigou a recuar. Os alunos não estão mais sendo barrados no portão da escola por qualquer motivo e certamente por um bom tempo a direção não se atreverá a tomar atitudes absurdas e arbitrárias. Mesmo que seja por medo...

Trata-se porém ainda de casos raros. Nem todos os pais que entram em contato conosco entendem a importância de meter a mão na massa e tomar atitudes. Alguns querem que os problemas se resolvam num passe de mágica, outros querem apenas desabafar. Mas a situação mais crítica é daqueles pais que não se acreditam capazes de enfrentar as autoridades e se sentem em situação de inferioridade, por não saberem “falar bonito” ou se sentirem humilhados devido à baixa escolaridade. Bobagem! Lembremos o Chefe Sioux que deu um banho de dignidade e civilidade no presidente dos Estados Unidos, na época da invasão das terras indígenas.

A solução é óbvia: no dia em que um número maior de pais virar a mesa, ficará claro que a escola é propriedade da população e não dos diretores e professores que demarcam seu território no início de cada ano letivo, excluindo a comunidade do Conselho de Escola e cercando-se apenas de vaquinhas de presépio. É também óbvio que essa situação só ocorre com a bênção das autoridades “superiores”, diga-se Secretarias de Educação e Diretoria de Ensino, que se sentem de alguma forma protegidas pelo autoritarismo vigente dentro das próprias escolas: enquanto os pais estiverem às voltas com problemas “triviais” como a aula vaga, que chega a consumir 30% do ano letivo, a repetência e a desmotivação dos filhos na escola, não terão tempo nem disposição para se preocupar com questões macro, como o desvio das verbas do ensino, a manipulação e o loteamento de cargos, que muitas vezes deixam as escolas sem diretor e sem professores, o desperdício de toneladas de livros didáticos comprados com dinheiro público e vendidos como sucata, o fechamento de turnos e classes etc. etc. etc.

O maior problema do Brasil, não apenas na educação, é que assuntos graves como incompetência, má vontade, falta de ética e corrupção são tratados com permissividade, ad aeternum. Ainda não há um claro consenso de que os crimes precisam ser punidos e que a responsabilidade é proporcional ao nível intelectual e de maturidade de cada um. Basta uma incursão rápida pela Internet para ver que questões seríssimas são tratados em tom queixoso ou jocoso, dificilmente contundente.

Nunca é demais repetir que quem cala, consente. Por isso estamos vendo uma luz no fim do túnel, na medida em que os pais de alunos estão começando a se mobilizar e a enfrentar os desmandos e as autoridades de cabeça erguida, olho no olho.

Comentários

Ricardo Rayol disse…
Minha querida Giulia

Fez um belo resumo do teu trabalho do qual sou fã.
Giulia disse…
Obrigada, Ricardo, vou arrumar uma "carteirinha" para você... rsrs
Ah! Quero que fique claro que não estou fazendo apologia da ignorância, muito ao contrário. Entendo que pessoas humildes podem ter o raciocício tão ou mais desenvolvido do que outras mais escolarizadas, mas isso não invalida absolutamente a importância do estudo e da atualização. Senão eu não estaria me dando ao trabalho de escrever neste blog. Quanto a pessoas que ocupam cargos públicos, entendo que elas têm a obrigação de aprimorar constantemente seus conhecimentos, mas acontece exatamente o contrário, pois elas chegam "lá" e se acomodam. Começa pelo "nosso" presidente, que tem sido um péssimo exemplo, passando anos a fio como eterno candidato, sem adquirir experiência nem conhecimentos na área administrativa, a não ser nas desastrosas finanças de seu partido... (ou ainda existe alguém que acredita que ele não sabia de nada?). Vamos e convenhamos: ele poderia pelo menos ter feito um cursinho de português, né não?
Santa disse…
Giulia

Parabéns pelo blog. Um blog formador de opinião, de utilidade pública, combatível, e que na verdade o efeito multiplicador é muito maior do que se possa imaginar.

Bjs
Santa disse…
Aproveito para desejar um belo domingo de Páscoa!
Bjs
Anônimo disse…
Giulia,

Muito boa a sua participação na Rádio da Cidade (AM 1370 e FM 100.5). Tem mais é que denunciar os "conselhos de escola" que são frequentemente manipulados pela direção escolar. São verdadeiros tribunais de exceção.
Achei muito importante você informar que não "resolve os casos", pois o objetivo do Educafórum é orientar os pais para que eles reivindiquem seus dirreitos.

Sabe do que mais eu estou "sentindo falta"?
Estou sentindo falta das declarações da Apeoesp (sindicato dos professores)... Será que eles perderam a voz?

S. aulo, 04/04/2007
Mauro
Movimento Comunidade de Olho na Escola Pública
http://www.geocities.com/coepdeolho/
Anônimo disse…
Grande Giullia

Você foi soberba, hoje na rádio cidades.
Espero que seja convidada outras vêzes.
Parabéns.
Giulia disse…
Obrigada, caros amigos sem copo e com MUITA cruz! rsrs
O que seria de nós sem esta união?
Anônimo disse…
IMAGINA SE A APEOESP VAI SE MANIFESTAR.
ESTÃO É COM O RABINHO NO MEIO DAS PERNAS E PENSANDO O QUE FARÃO AGORA
ESTÃO ÓRFÃOS DO CHALITA.
SEM O CHALITA E FORA DA SECRETARIA DE EDUCAÇÃO ELES NÃO TEM COMO FALAR GROSSO MAIS....
Giulia disse…
Anônimo, que coisa feia... Você podia pelo menos inventar um nome, né?...
Quanto à Apeoesp, não tenho nenhuma esperança de que esteja com o rabo entre as pernas. A corporação continuará forte enquanto professor da rede pública tiver seus filhos estudando na particular. O apartheid no Brasil começa nos bancos escolares, como disseram claramente os alunos do colégio Santa Cruz no filme Pro dia nascer feliz: "são dois mundos diferentes e nós estamos como dentro de uma bolha". Pena que os adultos deste País não se dêem conta disso, ou façam questão de não enxergar. Mas, como sempre foi na história da humanidade, o futuro são as crianças... Ainda bééééém!
Anônimo disse…
Giulia,

Vc acertou bem na cabeça do prego. Informação, informação e mais informação ainda. É a única maneira dos pais adquirirem o poder para mudar essa situação desastrosa.
Feliz Páscoa pra vc.
Ricardo Rayol disse…
Giulia, usarei a carteirinha com orgulho, dá desconto no cinema? rs
Giulia disse…
Ricardo, você é muito engraçado! Não, infelizmente é uma carteirinha que não dá direitos, só deveres! rsrs