Que elite é essa?


Segue o artigo A elite brasileira, de Patrícia Botari, enviado pela professora Glória Reis.

Não há país no planeta que vença o Brasil em desigualdade social, a não ser a pequena Serra Leoa, um país africano que vive em constante guerra civil. (Luis Victorelli)

No sentido estrito da palavra, elite, segundo o dicionário Aurélio, significa “Aquilo que há de melhor numa sociedade. Minoria prestigiada e dominante no grupo e constituída de individualidades merecedoras por si mesmas”.

Eis aqui o momento de se fazer uma pausa para reflexão: será que a nossa elite corresponde a essa denominação? A pirâmide social no Brasil obedece, cada vez mais, a sua estrutura: base larga e ponta estreita, onde a base representa o número cada vez mais crescente de pobres e miseráveis e a ponta indica a alta concentração de renda nas mãos de cada vez menos pessoas. Num país capitalista, há que se dizer da esperança da mobilidade social. Entretanto, temos que levar em consideração que existe uma ínfima perspectiva do ocupante da base da pirâmide em ascender ao nível intermediário e quase nula de chegar ao topo, devido ao nosso IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), que não acompanha o crescimento do PIB (produto interno bruto). Isso nos leva a crer que o país enriquece, mas o povo não consegue se desenvolver à altura, não lhe são dadas condições, nem estímulo. Não podemos continuar a conservar essa cultura de “salve-se quem puder”, não podemos denominar a elite como se esta não fizesse parte de um povo que compõe uma nação. Já é passada a hora da conscientização, de direcionarmos nossas atitudes a melhorar as condições do país e não as nossas próprias, senão resumiremos o Brasil a uma nação corrupta por natureza, um berço esplêndido que abriga sob o mesmo teto uma minoria que goza de uma qualidade de vida digna de um país desenvolvido de alto escalão e uma esmagadora maioria que sofre como se penasse com uma guerra civil de um país africano, sem riquezas, sem esperança... (essa, definitivamente não seria uma mãe gentil). É aí que demonstraremos o amor cívico pela nação, é aí que bateremos no peito com orgulho, é aí que saberemos identificar onde está nossa elite, onde está nosso melhor.

Chega de hipocrisia, coloquemos a ‘mão na massa’ e comecemos a fazer a nossa parte. Este país é a herança que recebemos de nossos antepassados, não cometamos os mesmos erros com nossos descendentes. Nós somos a elite, a elite honesta, pensante, que luta, que não se corrompe, isto se identifica com o melhor. Chega de denominarmos corruptos, abastados e autoridades de elite. Identifiquemo-na como os melhores, mas os melhores seres humanos.

Patrícia Botari

Comentários

Ricardo Rayol disse…
Elite hoje é qualquer um que compulsoriamente paga impostos. Triste país esse.
Unknown disse…
O saudoso economista Celso Furtado enunciava e denunciava o infeliz desejo das minorias privilegiadas de viver tal qual os milionários dos países economicamente desenvolvidos, nem que para isso precisassem concentrar o fluxo monetário em pouquissimas mãos. O resultado desse processo é um país extremamente depredador de seus recursos naturais, com uma imensa população pouco instrumentalizada para o trabalho qualificado e desassistida de direitos básicos como educação, saneamento e saúde, para sustentar ilhas de prosperidade no mar de pobreza. Isso é o Brasil?
Elitismo é um conceito mais forte do que o de elite, a qual não se restringe por isso a elite econômica ou financeira. Elite pode ser econômica, política, administrativa, intelectual, religiosa, entre outras formas. E como são poderosas em seu discurso. E como são espertas. E como são falsas. Conceber que elite odeia o pobre é um discurso sem compromisso com um pensamento social mais cuidadoso e revelador. A elite também fala "em nome do ..." e ela também fala "para ele" e em "seus interesses". Elite não sabe falar "com o pobre", dialogar com ele e ouvir seus interesses, ideias e críticas. Para a elite pobre não tem ideia ou projeto ou crítica ou vontade. Para a elite pobre sempre é beneficiário de suas boas intenções. Ele não é sujeito. No dia em que nossa cultura evoluir e entendermos essa dimensão de elite, poderemos estar iniciando uma nova fase na história brasileira. Sou professor e tenho um amigo papeleiro, aliás a família vive desse trabalho. Enquanto a sociedade for elitista seu trabalho não será valorizado. Pois, bem. Para ele a elite são alguns conhecidos seus que já tem bolsa familia porque, segundo ele, eles tem condições de ir atrás - tem até carro e celular - e "alguém providenciou para eles"; enquanto sua familia ainda não tem e não sabe quando conseguirá. Para a elite brasileira interessa fazer para postar na vitrine; não interessa se os que estão recebendo precisam ou não!!