Entre o justo e o legal


Ainda que amparado por lei, o direito de se ausentar não pode contrapor-se ao dever maior de construir uma escola de qualidade.

Com esta frase do Prof. Júlio Groppa Aquino, da USP, quero terminar com chave de ouro o assunto "greve", que nos tem ocupado durante meses, ao acompanhar o sofrimento dos pais do Colégio Pedro II, no Rio de Janeiro. Alguns trechos de seu artigo publicado na revista Nova Escola:

No esporte, diz-se que a maior desonra é perder por W.O. (abreviatura de walk over, lê-se dáblio ó). O termo é usado quando a vitória é dada a um dos competidores graças à desistência do outro. Desonra para quem perde — porque fugiu da disputa — e também para quem ganha — pois não houve empenho na conquista.
No jogo escolar, tudo é possível — menos a ausência dos jogadores. Infelizmente, não é o que ocorre. Nas escolas brasileiras, principalmente as públicas, o W.O. é freqüente. Absenteísmo é o termo apropriado para esse fantasma silencioso, contra o qual deveríamos lutar com toda a coragem.
Faça as contas: se 25% é o limite de faltas permitido por lei aos estudantes, ao final de 200 dias letivos são 50 de ausência — mais de dois meses de aulas. Nos oito anos do Ensino Fundamental, o jovem pode permanecer dois anos fora da escola e, ainda assim, ser aprovado. Um descalabro!
Situação igualmente danosa ocorre entre os colegas professores, sobretudo nos grandes centros urbanos. É quase impossível encontrar uma escola pública em que estejam presentes, num mesmo dia, todos os docentes que lá deveriam estar. Na maioria das vezes, as faltas garantidas por lei são usufruídas no limite máximo. Isso sem falar nos abonos, afastamentos, licenças etc.
Pouquíssimas profissões carregam o hábito das faltas ao trabalho de forma tão nítida quanto a nossa. O resultado são aulas vagas à profusão, calendários fictícios, conteúdos aligeirados. Enfim, a praga do W.O. pedagógico!
De um modo ou de outro, a cultura do absenteísmo aponta para uma mentalidade pedagógica que se norteia mais pelo descanso do que pela labuta. Mais, ela se opõe aos princípios da ética profissional docente. Isso porque os ociosos não conhecem o sono dos justos...

O sono dos justos... Como terá sido o sono dos professores do Colégio Pedro II durante sua greve "legal", recebendo seus salários normalmente, chopinho na mão, assistindo à Copa do Mundo?...
Os professores da rede federal são os que ganham mais neste País tão dado às desigualdades. Mesmo assim, eles aproveitaram a onda de seu sindicato e optaram pelo ócio, que ninguém é de ferro. Aliás, o "ócio criativo" está muito na moda. Pódis crê que esses professores vão voltar para a sala de aula revigorados e com muitas novas boas idéias para melhorar a qualidade do seu ensino!...

A verdade é uma só: não são seus filhos que estudam naquela escola. E, se estudarem, nota zero para eles como pais. Aliás, em qualquer situação, nota ZERO para eles como pais! Nota zero por não ensinarem a seus filhos o que é igualdade social, o que é democracia, o que é solidariedade. Quando os professores falam sua frase preferida, "A educação vem de casa", não pensam no exemplo que estão dando a seus próprios filhos: "Filhão, já tá indo pra escola? Muito bem! Papai não vai, porque pra você eu pago escola com o dinheiro que ganho sem precisar dar aula. Boa aula, viu filhão?".

Quanto ao limite de faltas permitidas "para o aluno", fique claro para todo o Brasil que a percentagem de 25% foi estipulada exatamente para JUSTIFICAR o DIREITO A FALTA do professor, em nível nacional. Um direito legal, mas injusto.

Enfim, entre o justo e o legal, neste País, as distâncias são tão enormes quanto as desigualdades sociais. Ainda bem que alguns professores renomados põem a cara para bater e nos lavam a alma com sua coragem.

Leia toda a série de artigos de Júlio Groppa "A escola como ela é" em www.novaescola.com.br, link Opinião.

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Olá, Parabéns pelo blog. Escrevi artigo sobre o tema W.O. Pedagógico em meu blog também, confira no Escolhendo a Pílula Vermelha, www.escolhendoapilulavermelha.com.br,até lá! JL