Do blog da Rosely Sayão, trecho de post publicado no dia 18/08:
Como a escola tem reproduzido sem crítica alguma a cultura do mundo atual, observamos a dificuldade da presença do diferente no espaço escolar. E não estou me referindo aqui aos alunos portadores de algum tipo de deficiência. Como bem disse uma internauta, basta um aluno ser diferente da maioria para ser discriminado, tanto pelos profissionais quanto pelos colegas. Aliás, é isso o que sustenta o comportamento hoje chamado de bullying.
Rosely faz colocações interessantes, mostrando que em nosso mundo globalizado ainda estamos longe de aceitar a integração com o "diferente". Quando se fala em ensino público no Brasil, a situação torna-se trágica, principalmente nas periferias das grandes cidades e em pequenos centros urbanos como por exemplo Leopoldina/MG, de onde recebemos constantemente denúncias expressivas através de nossa amiga Glória, professora aposentada que hoje se dedica ao trabalho de inclusão das crianças e adolescentes expulsos ou nem admitidos na escola. Glória vive recebendo ameaças de diversas autoridades locais, mas não se intimida e continua bravamente. Conte sempre com a gente, Glória!
Qualquer discriminação dentro de uma escola, mesmo partindo de uma criança ou de um adolescente, torna-se crítica se as autoridades - professor, coordenador pedagógico, diretor - permitirem. Trocando em miúdos: se um professor ou outro profissional da educação percebe que um aluno ou grupo de alunos está discriminando algum colega, precisa intervir dando esclarecimentos, estabelecendo o diálogo, intermediando a paz. Se ele perceber que não consegue ajudar, então que peça ajuda para uma autoridade mais experiente ou competente. Não é isso, educar?
O que dizer então quando o próprio preconceito e seus "filhotes" - o descaso, a discriminação, a perseguição, o abandono - vêm das próprias autoridades educacionais? Como diz a própria Glória, quanto mais graduadas essas autoridades, maior o preconceito. Nós também já percebemos isto, nas falas duras e arrogantes de secretários e diretores de ensino, supervisores e diretores de escola, quase todos, paradoxalmente, do sexo feminino. Essas "autoridades" só se comportam desse jeito porque podem, ou melhor, porque ninguém as enfrenta, lhes tapa a boca ou as obriga a responsabilizar-se pelos estragos que provocam.
O que falta para as autoridades da educação - secretários e diretores de ensino, supervisores e diretores de escola, professores e demais profissionais - é espírito público. Eles trabalham para a REDE PÚBLICA de ensino, mas não têm ESPÍRITO PÚBLICO. Por que? Porque seus filhos estudam na rede particular, esse instrumento que a sociedade brasileira escolheu há décadas para manter as distâncias sociais e que continua separando o Brasil em dois. Na rede pública de ensino, os "iguais" são as autoridades da educação, os "diferentes" são os alunos e seus pais. Aqueles que ousam cobrar justiça, compromisso e competência das autoridades educacionais correm o risco de tornarem seus filhos vítimas de perseguições e represálias. É principalmente por esse motivo que os pais de alunos da rede pública se calam diante de tantos abusos e desmandos. Que dirá os alunos sem família ou sem a tão falada, decantada e desejada "família estruturada"?...
Nada indica que algo poderá mudar a curto prazo. Como faria diferença ter um Gilberto Dimenstein, uma Rosely Sayão, uma Miriam Abramovay, uma Fanny Abramovich com filhos ou netos matriculados na rede pública e participando do conselho de escola! Como mudaria o comportamento das autoridades educacionais! Alguém duvida?
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