Eu fiquei profundamente chocada com o comunicado do PCC, que não reproduzo aqui porque está em todos os jornais. Chocada porque ele está corretíssimo, não há uma vírgula de inverdade. Chocada principalmente porque não havia necessidade de se chegar a esse ponto. Depois da grande repercussão do livro Carandiru, de Dráuzio Varella, que também virou filme de enorme repercussão, tudo o que se fez para "melhorar" o sistema prisional foi destruir a prova documental, o próprio Carandiru. Isto é típico do Estado brasileiro: quando trocar o nome da instituição não é suficiente para engambelar o cidadão, destrói-se a prova mais evidente, para poder deixar tudo como está. E o pior: quando se fala em sistema prisional, não se fala na Febem, que é o verdadeiro celeiro da criminalidade, o lugar onde crianças e jovens perdem completamente sua integridade moral, para entrar definitivamente na marginalidade. E hoje, para que um jovem seja despejado na Febem, é um pulo: basta ser expulso da escola, uma realidade que ninguém quer ver.
Nossa sociedade é ainda muito hipócrita para que o problema da segurança possa se resolver a curto prazo. O enorme boom das "religiões" que se vê por aí não está cumprindo em nada seu principal papel, que é demonstrar aos seres humanos sua igualdade perante uma ordem superior. Infelizmente o brasileiro ainda prefere atirar seus irmãos (irmãos?...) em campos de concentração, na esperança de que lá apodreçam, bem longe da sua presença e de seus filhos, que prefere manter atrás de grades domésticas. Mais uma vez, porém, a tática do avestruz não está funcionando. Não era de se esperar?
Eu estive diversas vezes na Febem, na época em que entidades de direitos humanos tinham acesso à instituição. Hoje elas são barradas na entrada, com o pretexto de "incentivarem a rebelião". Contei em verso e prosa os horrores que presenciei e hoje nem me atrevo a imaginar o estado da situação, a ponto de terem proibido as visitas. Mas as pessoas em geral não se chocam com esses relatos, é como se pensassem assim: "Lavo minhas mãos, não são meus filhos, esses eu sei como educo!".
Quem sabe agora, que foi obrigada a ouvir os próprios bandidos fazer suas reivindicações, a sociedade começe a refletir no assunto. Mas não tenho muitas ilusões: a discussão deverá ficar na superfície, na brincadeira de "mocinhos e bandidos"...
Comentários
A nossa perversa elite pálida já tomou uma decisão enérgica para a questão da Febem-SP:
Vão mudar seu nome para "CASA".
Fundação Centro de Atendimento Socioeducativo ao Adolescente.
é pra rir ou pra chorar?
É isso aí, Giulia, como você definiu bem.