Tortura na Febem


A questão da Febem, esse antro de tortura cuja única solução é o fechamento, continua sendo tratada de forma leviana e absurda. O Estadão e a Folha de SP informam hoje que finalmente foi julgado, mas ainda não em última instância, um processo iniciado em 2000, quando 35 internos foram espancados com barras de ferro e pedaços de pau por 14 "servidores " e ex-funcionários. Tratava-se de uma rede de funcionários de dois complexos, organizada para promover torturas. Um assessor da presidência da Febem e um ex-diretor também foram condenados. Mas a condenação é absolutamente hilária: todos os réus juntos foram condenados a um total de 925 anos de prisão pelo crime de tortura, mas poderão recorrer em liberdade. Isto significa que, seis anos após o crime, esses torturadores foram condenados a uma média de 80 anos cada um, ou seja, o juiz entende que eles são "bastante" culpados, aliás nunca neste País foram dadas penas maiores para o crime de tortura. No entanto, "só Deus" sabe se os réus serão realmente condenados em última instância e, até lá, poderão continuar gozando a vida em liberdade. O detalhe mais interessante é que os diretores do complexo, nas "barbas" de quem ocorreu o fato, foram condenados a apenas dois anos, dois meses e 20 dias de detenção por omissão, mas poderão substituir a pena por prestação de serviços à comunidade. Ao contrário, se um garoto rouba um tênis ou uma bicicleta é internado no inferno da Febem e cumpre "pena" de três anos, sujeito aos maus tratos e às torturas que continuam soltas dentro de todas as unidades...

Comentários

Anônimo disse…
E por que não estão incluidas as outras aoutoridades que são cumplices no descalabro denominado Torturabe/Febem? qual seria a responsabilidades de secretários, governadores,´advogados, promotores e juízes? Será que as trotruas cessaram após o ano 2000?

Espero que os prefeitos que estão recebendo unidades da Torturabem/Febem fiquem atentos a esta questão: as novas ações judicias colocarão os prefeitos como cúmplices da Torturabem/Febem.
Giulia disse…
Mauro, você que está mais por dentro da questão, como é que você avalia? Eu fiquei meio maluca pra entender os fatos, pois os dois jornais deram a notícia de uma forma muito pobre e até confusa, principalmente o Estadão. Afinal, quando seria a "última instância"? Se um processo desses, depois de seis anos, ainda não deu em nada, o que esperar daqui para frente?... E cadê as novas ações judiciais? "Quem" vai colocar os prefeitos como cúmplices? E quantos anos depois eles vão ser julgados? O que eu percebo aí é que a sociedade não quer saber de nada e que talvez preferiria que as torturas já dessem em morte, para se livrar de uma vez do problema. Eu tenho essa impressão: que a sociedade brasileira gostaria de ver todas as unidades da Febem implodidas com todos os internos dentro...
Anônimo disse…
Somos um país que odeia suas crianças e adolescentes pobres... É histórico, cultural, o ECA só exarcebou mais este ódio, ao colocar na lei a defesa dos excluídos do sistema. E se o Alckim vencer a eleição, vai ser o fim das esperanças de mudar este quadro macabro. Quanto à condenação dos torturadores, isso é só para dar satisfação aos organismos internacionais que cobram atitudes do Judiciário brasileiro. Para efeito junto aos órgãos controladores de violações dos direitos humanos, a "justiça condenou", entenderam como funciona?
Giulia disse…
Pois é, eu fui duramente criticada quando saí da Comissão de Direitos Humanos da OAB com uma carta dizendo que eles não estavam nem aí com nada... Pau nessas entidades de direitos humanos que deixam o barco correr a nem se dão ao trabalho de informar os organismos internacionais!
Anônimo disse…
Oi, Giulia. É, foi um erro ter falado daquela maneira com a moça lá no blog da Rosely Sayão - depois eu me arrependi, mas já era tarde. É que na hora me subiu o sangue. Veja você: quando comecei meu blog só postava as coisas ruins do dia. Está certo que uma diretora ficou meio assim comigo e isso me fez sair (e agora dou razão para ela, porque a escola pública não é daquele jeito todos os dias). Mas eu tinha de voltar e mostrar que as coisas dentro da escola podem sim ser bem bacanas, e que, se no dia estou pra baixo e vejo as coisas pra baixo, eu não posso tentar derrubar também tudo o que está a minha volta.

E o que aquela moça fez? Foi lá e ajudou a destruir a imagem da escola. Ela podia ter dado uma idéia positiva, ou então, desiludida, poderia até demonstrar sua tristeza (como eu fazia antes no meu blog). Mas o que ela fez foi discriminar a escola e seu próprio filho. Do jeito que ela escreveu, parecia alguém tentando pichar e generalizar uma situação: o filho leva o celular, porque ela precisa controlá-lo, já que ele pode morrer lá dentro, mas ao mesmo tempo ele não leva o telefone porque o professor rouba o celular??? Absurdo!!! Ele leva ou não? Você vê que é mentira, ou exagero. Então eu fiz a besteira de falar daquele jeito. Foi mal. É a impaciência juvenil mesmo, para não dizer que foi um ato fascista (e logo eu?)... rss. Abraço
Giulia disse…
Olha, Rodrigo, eu sou "macaca" muuuito velha! (velha eu sou, macaca nem tanto, hehe) Então eu conheço muito bem os papos dessas diretoras que falam assim: "Você não pode denegrir a imagem da escola!" É uma bela hipocrisia, na verdade elas têm medo de sofrer processo administrativo se for mostrada alguma irregularidade. As falhas da escola precisam ser apontadas sim. E mais, solucionadas! Mas veja: se você, que é um professor de português que domina perfeitamente sua língua, o que é raro (não estou jogando confete, vejo isso em seu blog), se atrapalha na hora de se colocar, imagine uma pessoa que não teve a oportunidade de estudar e de estruturar o pensamento lógico. Então muita gente acaba "jorrando" as idéias pensando que está conseguindo se comunicar e só bagunça o meio de campo. Eu acho que entendi o que aquela pessoa quis dizer, mas não me coloquei porque achei confuso e não vou me meter em diálogo de surdos. Mas eu queria muito continuar este papo sobre Febem e ninguém se interessa! Acho que a Glória tem mesmo razão: somos uma sociedade que odeia suas crianças e adolescentes pobres. Febem neles!