Chame o ladrão!


Entre as pérolas que “abrilhantaram” este Carnaval está a agressão a um grupo de 6 estudantes entre 13 e 17 anos, acompanhados por um adulto, por parte de 5 policiais militares. Lá em Recife, a cidade mais violenta do Brasil, de acordo com a Santa,
http://blogdasanta.blogspot.com, que nos repassou a informação.

O fato aconteceu no sábado, no bairro pacato de Casa Forte, durante o desfile de um bloco carnavalesco. Os policiais supuseram que um dos garotos, de 14 anos, estivesse cheirando uma substância contida em um frasco caído no meio da avenida. Eles começaram a bater com cassetete no adolescente e nos colegas, que tentaram defendê-lo. No final, um dos policiais despejou na cabeça do garoto o ácido contido no frasco, provocando seu desmaio e queimaduras no rosto e pescoço. O adulto acompanhante relata que, após derramar o líquido no menino, os policiais entraram numa viatura e foram embora tranqüilamente.

A sorte desse garoto é que, por ironia do destino, seu próprio pai é policial militar - há 22 anos. Revoltadíssimo, ele denunciou o caso à Corregedoria e certamente (?...) os culpados serão punidos. Só assim!!

Este episódio chama a atenção sobre a truculência de supostos defensores da ordem, que nem ao menos se preocuparam por agredirem adolescentes, protegidos pelo ECA. Sinal da certeza de impunidade. Ou se trata de policiais corruptos, habitualmente acobertados por superiores igualmente envolvidos em todo tipo de ilegalidade, ou o treino de policiais em nossos centros urbanos é tão precário que justifica o ditado “Chame o ladrão!”. Uma terceira hipótese: os 5 policiais estavam drogados. Qual das situações se aplicará a este fato?...

Certamente, o caso não teria a repercussão que está tendo e muito menos qualquer solução, se os adolescentes estivessem desacompanhados, se o pai do garoto agredido não fosse policial militar e, principalmente, se ele estivesse realmente envolvido com drogas. Mesmo que estivesse, o que não é o caso, nada justificaria a atitude dos policiais. Eles se valeram de uma tendência da sociedade brasileira no sentido de apoiar a punição de jovens considerados “problemáticos”: cassetete neles! Febem neles! Expulsão da escola!
E, principalmente, operação abafa...

Não foi à toa que precisou criar o Estatuto da Criança e do Adolescente no Brasil. Os brasileiros menores de idade correm perigo em casa, na escola, na rua. Que país é este que maltrata justamente seus cidadãos mais necessitados de atenção, cuidados e respeito? Que seres humanos são esses que se deixam levar por impulsos bestiais num espaço público, como se estivessem numa caçada?

O ECA é bastante claro: quem assiste a uma cena de constrangimento, violência ou tortura contra uma criança ou um adolescente, sem denunciar, é conivente. Doa a quem doer. Imitando nosso amigo Serjão: a verdade dói e aqui machuca mais...

Leia sobre o assunto: http://www.fundaj.gov.br/notitia/servlet/newstorm.ns.presentation.NavigationServlet?publicationCode=16&pageCode=852&textCode=7952&date=currentDate

Comentários

Anônimo disse…
Oi Giulia.
Sinto muito por não ter visto antes a mensagem que vc me deixou no blog Rosanova. Certamente vou atender a seu apelo.Daqui uns dias vou estar postando sobre o nosso conselho de escola e também como está sendo construido o nosso planejamento 2007.Te aviso qdo postar. Mudarei algumas coisas no blog para este ano pq quero a participação dos alunos, pais e comunidade. Espero que eles possam interagir, entende? Bem...te mando notícias e me desculpe...acabei de ver sua mensagem. Bjos e gostaria de ter seu email para contato e parabéns pelo seu blog e obrigada por suas palavras.
Até mais,
Madalena
Giulia disse…
Oi, Madá, obrigada por sua resposta! Não tem do que se desculpar, sei como você anda ocupada. Não se preocupe, vou ficar de olho nos seus posts sobre o Conselho de Escola e a participação da comunidade. Esses são de longe os assuntos mais importantes para nós do EducaFórum. Grande abraço!
Guilia,parabéns pelo seu texto.

A truculência policial em Pernambuco é de meter medo. Conhecida. Não abordam sem antes quebrar no pau. Depois verificam se a suspeita tem procedência. Isso em qualquer lugar, inclusive no charmoso Recife Antigo, onde pais levam suas crianças pequenas.

Esse caso, em particular, foi revoltante porque não se tratava de um arrastão, assalto ou de um grupo de drogados como aconteceu no show promovido pelo Estado na praia de Boa Viagem com repercussão nacional pela violência acompanhado de garrafadas e morte. Nesse caso o Governador teve que responder pela falta de policiamento. Cenas assim é comum nos focos de Olinda ou no centro de Recife (os mais violentos).

Já os 2 adolescentes (14 e 17 anos) de uma mesma família, acompanhados pelo tio (adulto) e mais 4 amigos tb menores e estudantes, foram espancados (todos) pelos policiais, além de queimar o rosto do filho do policial militar. Existem dezenas de testemunhas, fotografias, placa da viatura, denúncia, exame de corpo delito, imprensa, etc. e o comando diz que abrirá uma sindicância para apurar, etc. etc. O que levará meses.

Vc colocou bem as causas possíveis que geram maus policiais, mas no País da corrupção e da impunidade, esse tipo de desajuste só reforça o plano de imputar o medo da sociedade.

E, com todo o respeito à família agredida, esse policial (pai) está provando do mesmo veneno que é oferecido à população pacífica, vítimas de supostos protetores da segurança pública.

Um beijo.
Só para completar, nós, fotógrafos do Lata Mágica estávamos presentes no local.

William&Odilene
Anônimo disse…
Lamentável saber destas atrocidades com os jovens deste país. É preciso denunciar. Sou professora e defendo na minha escola a filosofia da não-violência. Recebo mtas críticas por isso, mas não desisto. Como ensinar um aluno a paz se eu não praticá-la.
Santa disse…
Obrigada por publicar essa notícia. A violência é generalizada em todas as grandes cidades do País, mas Pernambuco continua na frente de todos os índices. Denunciar é a única defesa que restou a população.
Bjs
Ricardo Rayol disse…
O despreparo da polícia, em todos os níveis, é assustador..
Luisete disse…
Oi Giulia,
Eu também estou bastante apreensiva com essa revolta que o cidadão dirige ao menor. Durante uma semana deixei meu tema principal de lado para comentar esse assunto no meu blog e houve quem postasse comentário cheio de indignação chamando de "pouca vergonha" a posição que eu estava defendendo.
Espero que as pessoas "esfriem" a cabeça e enxerguem a realidade como você descreveu: Que país é este que maltrata justamente seus cidadãos mais necessitados de atençao ...