Igualdade de condições


O assunto da semana é o Champinha e não dá para fugir dele. Bem que eu gostaria! Acho doentia a tendência da sociedade em procurar um bode expiatório para o grave problema da segurança pública e continuar a atirar a sujeira para baixo do tapete. A sociedade brasileira tem sede de sangue e carne jovem. Basta satisfazer esse desejo e ela se acalma por um tempo.

A foto aí ao lado não é do Champinha: o Champinha é preto, negro, pobre e tem ar de assassino. Essa foto é de outro psicopata: o promotor “de justiça” Thales Ferri Schoedl, também assassino confesso, mas que foi reintegrado ao quadro do MP, voltou a receber salários e reivindica na justiça os atrasados de R$ 284.352. Informações sobre este rapaz de boa aparência, que poderia ser o namorado de uma das minhas filhas (cruz credo!), na Revista Consultor Jurídico http://www.conjur.com.br/ (dica da amiga professora Glória).

Mas eu não dou a mínima para dinheiro: se quiserem que paguemos (sai do nosso bolso, né?) mais esse dinheirinho para o Thales, por mim, tudo bem! Não me preocupo nem mesmo com os rios de dinheiro da educação que vão para o ralo, neste país que se mantém no limbo da ignorância. Pois não é a falta de dinheiro que consegue essa façanha, é o nem-te-ligo da classe formadora de opinião – que compreende os professores - pela infância e juventude, a não ser por seus próprios filhos e sobrinhos. Mas mesmo a atitude de ligar apenas para filhos, sobrinhos e netos é absolutamente caolha, pois eles não estão a salvo de Champinhas, Thales, Pimentas e Igors, esses últimos livres e soltos (você lembra deles?...), enquanto Champinha vai “pagar” por todos. Também não acredito que seja possível “pagar” por um assassinato ou reparar um crime hediondo. Mas o que percebo é que a sociedade toda vai ficar apaziguada por algum tempo, se algum “herói” resolver acabar com a vida do Champinha. Haca, toro!

Uma pesquisa da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação – Undime (dica do Mauro do COEP) revela que 54% de seus membros indicaram a redução da maioridade penal como solução para a diminuição da violência urbana. Esse resultado é a comprovação do que digo acima. E não se trata de “meros” professores: são os Dirigentes de Educação, “la crème de la crème” da nossa educação!

Eu não vou aqui julgar o Champinha nem qualquer outro assassino, esteja preso ou solto. Se o EducaFórum é contra a constituição de tribunais de exceção para expulsar alunos da escola, muito menos cabe aqui julgar crimes hediondos. Entendo que se a sociedade fosse mais ética, menos hipócrita e tivesse como objetivo oferecer igualdade de condições para todos, dentro de alguns anos poderíamos ter um país melhor. Quando falo em “igualdade de condições”, repito (e não precisaria repetir): não se trata de esmolas, mas de uma escola pública de qualidade para todos. E essa escola não vai mudar com melhores salários para os professores que querem o rebaixamento da idade penal. Ela vai mudar no dia em que esses professores matricularem seus filhos nela.

Comentários

Anônimo disse…
Giulia, o problema da escola é meio aquela história do "se correr o bicho pega, se parar o bicho come". Isso de dizer que a escola só melhora com a ingressão da filhos da classe média tem dois equívocos: 1- quer dizer que se for só para as classes populares não pode se produzir educação com qualidade? 2- As escolas públicas mais centrais e com alguma "fama de boas" são as piores com os alunos pobres, porque atrai a clesse média e mais exclui os pobres, desenvolve a discriminação lá dentro mesmo.
Você não viu no resultado de um desses exames do governo que se surpreenderam com melhores resultados em escolas em locais mais simples e com população homogênea?
Giulia disse…
Ah, Glória, adoro discutir este assunto contigo! O que eu quero dizer vai mais fundo. É claro que é possível ter escolas de qualidade com apenas alunos humildes, mas não é essa a questão. O problema é o desprezo que os professores de classe média e alta sentem pelos seus alunos da rede pública! A maioria deles dá aula na pública e na particular para ter bolsa para os próprios filhos. Porque não querem mistura! No fundo o que acontece no Brasil é um apartheid. Você acha que a família do meu marido não se "ofendeu" quando matriculei meus filhos na rede pública? Se ofendeu, sim, e os primos viviam com ares de superioridade. Ter os filhos na rede particular, neste país, é sinal de status. E é isto que quero discutir. Inclusive porque muita escola particular é até pior do que a pública...
O Colégio Porto Seguro, em Sampa, do qual o Gilberto Dimenstein vive falando, mantém uma escola para os alunos da favela vizinha. É tudo igual: mesmos professores, mesmo material, mas não há mistura!!! Os pais dos alunos do Porto Seguro nunca deixariam seus filhos sentar nos mesmos bancos escolares com alunos da favela. Daí vem o GB dizer que o rendimento escolar dos alunos favelados do Porto Seguro é muito inferior ao dos alunos pagantes e atribui isso à influência da família: onde a família tem cultura, o rendimento é melhor... Mas como é que será que os professores do Porto Seguro (todos de alto nível) lidam com os alunos da favela? Este é o meu questionamento. Será que o tratamento dado é igual ao dos alunos que eles consideram como seus próprios filhos (que aliás estudam lá)?...
É uma questão muito mais sutil do que parece. Trata-se aqui principalmente de preconceito. E eu não vejo saída para o Brasil a não ser a mistura social.
Ricardo Rayol disse…
Belo exemplo de pilantra. Quanto ao animal não sei por que a policia paulista não agiu como policia paulista.
Unknown disse…
Não importa o quanto você se importe algumas pessoas simplesmente não se importam...
É triste mas é a verdade aqueles que podem fazer não estão nem ai e tem pessoas com poucos recursos e vão muito além das possibilidades para tentar fazer uma escola dignina e com qualidade para que tenhamos no futuro pessoas pobres, humildes mais que lutam pelos seus direitos e que buscam oportunidades.
Se tratarmos nossas crianças e adolescentes como marginais é o que teremos deles, tiram sua dignidade e masacram seus sonhos depois é só prender, jogar as margens da sociedade virar as costas para eles pois são marginais mesmo.....
Giulia disse…
Bom, eu sempre falo que não me importo com dinheiro, mas não é bem isso e essa é uma explicação chata que eu não quero impingir pra ninguém. Queria muito saber o que aconteceu exatamente com esse criminoso confesso: ele foi exonerado do MP, entrou com liminar, foi reintegrado, recebe, mas não exerce a função? Além de assassino, ganha sem trabalhar??? E ainda quer receber uma bolada dos atrasados? Caro Ricardo, bem que você podia colocar o Heitor Caolho pra dar uma assuntada clarividente no caso, que agora aliás fugiu da alçada da polícia. Ele virou um caso de corrupção judicial, mesmo.
Anônimo disse…
Giulia, o Thales é outro que precisaria mofar na cadeia, não só ele mas inúmeros políticos que desfilam no Congresso nacional.
O caso Champinha é notório. Ele presia de tratamento psicológico ou psiquiátrico.
Quando digo que defendo a maioridade penal a partir de 16 anos estou estampando uma idéia que tenho desde quando comecei a militar no direito penal, em 1999. Defendo-a porque entendo que o jovem de 16 anos tem, hoje, perfeita noção dos seus atos e, na omissão estatal, é usado nas periferias para assumir delitos perpetrados por maiores e isso não está solucionando o caos brasileiro e sim agravando-o.
Creio que a renovação do pensamento da sociedade depende da boa educação. Tenho tios professores, lecionando há muitos anos. Já se aposentaram e continuam lecionando em colégios particulares. Lecionam por amor e não mais por necessidade de subsistência. A educação é a peça motriz da mudança social, mas hoje a educação não existe porque o Estado não permite que exista. Remunera vergonhosamente os seus professores, pune-os sem a mínima noção de justiça e persegue-os até que desistam de trabalhar. Minha cunhada, por perseguição pessoal, foi transferida para a pior das escolas da períferia paulistana, porque um figurão não gostava da atitude dela nas aulas.
Champinha, a meu ver, é o retrato atual de uma sociedade fracassada e Thales é o outro lado da mesma moeda. Sei disso. Entretanto, vejo com horror que os crimes de agora são sempre efetuados na companhia de menores e sei porque o são, para que os verdadeiros delinquentes possam ir para suas casas e os menores respondam pela barbaridade.
A sociedade é bem como você falou, sempre quer um bode expiatório e por isso Fernando Collor renunciou à Presidência da República, porque chegara a vez de ele ser o bode.
O problema brasileiro é sempre esta hipocrisia social que traz frutos terríveis.
Militando, soltei muitos menores e minore a situação de diversos. Vez por outra, seus familiares voltam a me procurar para ajuda-los de novo porque estão novamente presos.
Sendo assim, hoje eu prefiro acreditar que a mudança da lei possa não fazer mais bodes expiatórios, porque a lei não retroage e não valerá para o Champinha. Mas possa, isto sim, desarmar os bandidos que usam dos menores como válvula de escape.
Claro que está não é a solução perfeita, claro que não., É preciso muito mais e nesse mais alterar a lei de execução penal, contruir novos presídios, jamais admitir que uma cela possa conter mais de 4 presos, ainda que provisórios, nunca coadunar com o abuso das autoridades e dos policiais, em hipótese alguma permitir que preso seja tratado como se não fosse um ser humano. Preso tem que ter aulas, religião, estudar, ler revistas e jornais, trabalhar no presídio, ser profissionalizado, ter tratamento de saúde digno de um ser humano, só ser preso após julgado, ter boa alimentação, roupas para vestir, acessórios pessoais necessários, ter acesso a banho quente, TV, rádio, internet. Segregar alguém da sociedade não deveria ser o que fazemos e pouco importa quanto isso custe ao Estado porque a criminalidade é um filho nosso e se custar 10 bilhões de reais é o nosso dever bancar este custo. Preso, a meu ver, deveria ter direito a cursar faculdade e especializar-se e o Estado deveria bancar tudo isso sem nem abrir a boca.
Só que nem aqui fora nós é dado este direito... e esse é um grande problema e que precisa ser equacionado. Então como reagir, admitindo que alguns possam matar impunemente, possam estupara impunemente, possam destruir impunemente, possam traficar impunemente?
Precisamos mudar o Congresso Nacional e a mentalidade que ali impera. Este passo é mais importante do que reduzir a maioridade penal. Por ser bem mais dificil, parece-me que precisamos pelo menos desarmar os bandidos que utilizam-se de manores para livrarem-se do crime que cometeram.
Giulia, ao Estado a educação é assunto de pouco interesse. Povo educado não vota em corrupto porque tem um rostinho bonito.
Excelente post. Grande abraço.
Giulia disse…
Muito obrigada pelo seu brilhante comentário, Mário! Apenas acho que você é mais generoso do que eu, rsrs. Eu não acho que preso deva levar a mesma vida que nós aqui fora, não. Entendo, sim, que ele deva ficar preso somente após ser julgado com justiça e ter condições dignas de sobrevivência, inclusive preparando-se para voltar à sociedade depois. Mas acho que precisa receber algum freio, senão não adianta. Entendo por isso: nada de visitas íntimas (um perigo para a entrada de armas dentro do presídio), muito trabalho, cursos profissionalizantes, MUITO PROGRAMA EDUCATIVO PELA TELEVISÃO: TV Cultura neles! Nada de Globo,BBB, novelas e outros lixos. E livros à vontade. Mas este é um papo muito longo e não acho que mudança de legislação vai resolver. O que precisa mudar é a mentalidade da população. Isso leva tempo...
Anônimo disse…
Advogo no Guarujá e sei que lá só tem bandido. O promotor se defendeu dos ataques de marginais. Não sou a favor de nenhum homicidio mas a cadeia do Guarujá está cheia de malandros que matam para roubar só para saber como é o o barulho da vítima cair no chão..... Imaginem leitores a situação de um jovem rapaz saindo de um baile de madrugada com a namorada e atrás vem uma quadrilha mexendo com sua companheira, vários homens e o promotor só....e os insultos aumentam...que que é gente vamos deixar de hipocrisia... É matar ou morrer mesmo....no Guarujá só tem bandido, criminoso e assassino.Sou advogada lá e sei de muitos casos. Quem estiver defendendo o marginal que vá até a cadeia do Guarujá para visitar os presos e passar a mão na cebaça deles e saibam quais os motivos que eles matam....NENHUM!