Viva a inteligência dos pais!


Recebemos hoje a carta de mais um pai de aluna disléxica, em Belo Horizonte, descrevendo de forma inteligente a situação difícil e o esforço que envolveu toda a família, na tentativa de ajudar a criança a passar da 3ª à 4ª Série, numa escola particular. Fica bem nítido o elitismo dessa escola, que tende a expulsar os alunos que não lhe servem para manter-se nos primeiros lugares do ranking no mercado. Realmente, no Brasil a educação ou é comércio (na rede particular) ou corrupção (na rede pública). Se ficar o bicho pega, se correr o bicho come...

O pai da aluna nos pediu uma orientação: bem, Antonio, essa escola merece ser processada por Oferta irregular de ensino - Art VII - Parágrafo 2º do Estatuto da Criança e do Adolescente, pois ela não ofereceu à aluna as "estratégias de recuperação paralela" a que tinha direito conforme o Art 12º - IV da LDB, mencionado em sua própria mensagem, nem se sensibilizou com a excelente recuperação oferecida pela própria família, que fez a criança melhorar a ponto de quase fechar a média. A escola também passou por cima de todos os laudos que comprovam a dislexia da aluna, diagnosticada aliás na própria escola. Fica assim caracterizada a reprovação como medida punitiva e não recurso pedagógico!

Se um número maior de pais de alunos processar as escolas que praticam o capitalismo selvagem, algo vai ter que mudar para melhor na educação deste país!

Senhores pais, leiam com muita atenção a carta recebida, pois seus argumentos podem ajudar todos aqueles que tenham problemas com filhos disléxicos ou que sejam discriminados dentro da escola, seja pública ou particular.

Quanto à dislexia, nossos arquivos antigos estão repletos de posts a respeito do assunto, mas a atitude mais prática e rápida é entrar em contato imediato com a ABD - Associação Brasileira de Dislexia http://www.dislexia.org.br/


Tenho 3 filhos e todos estudam(ram) no Colégio Magnum - Unidade Cidade Nova (Belo Horizonte – Minas Gerais ), escola renomada e de alto custo. A minha filha (18), após o término do ensino médio, ingressou em medicina na UNIRIO e o meu filho (17) nunca teve nenhum problema com notas, inclusive tem seu boletim com médias muito acima do necessário. Digo isto para demonstrar a educação e desprendimento igualitário para com todos eles.

Minha filha caçula, com 9 anos, passou a apresentar problemas com troca de letrinhas, (g com j - ss com ç - l com u e outras) desde a primeira série do ensino fundamental. Tínhamos conhecimento do fato, mas acreditávamos que tal situação era algum déficit de ensino ou, em instância maior, de aprendizado.

Fomos informados que ela necessitava de ajuda com uma professora particular no primeiro semestre de 2007 (já no terceiro ano do ensino fundamental), a qual providenciamos de imediato. Como não tivemos, com os outros filhos, nenhum problema com estudos, acreditávamos que ela também iria superar as dificuldades impostas, sejam elas por excesso de atividades escolares ou por outro qualquer motivo;

Em agosto ou setembro participamos de uma reunião com a orientadora pedagógica da escola, onde fomos informados da possível dislexia e fomos direcionados a uma fonoaudióloga, indicada pela própria escola, para fazer um laudo, laudo esse que fizemos e que sinalizou uma possível ou provável dislexia com percepção de déficit de atenção. Particularmente, quando da apresentação do resultado, saí completamente desesperado porque a postura da profissional em questão (indicada pela escola) não me agradou;

Daí para frente passamos a pesquisar o problema de forma brutal, inclusive levando nossa filha a outros profissionais, neuropediatra e outros para um diagnostico preciso (Depois deste calvário passo a acreditar que tal diagnóstico é extremamente difícil de ser dado).

No último bimestre ela apresentava problemas com algumas matérias escolares. A mãe passou a estudar junto, aproximadamente, 4 a 5 horas por dia. Ela conseguiu notas espetaculares nas últimas avaliações (comprovadas via boletim da escola), mas não obteve pontos suficientes em português, obrigando-a a fazer uma prova final. Fizemos então um esforço concentrado em português, até porque ela conseguiu atingir as notas necessárias para aprovação nas outras matérias.

Quando recebemos a notícia da reprovação entramos em contato com a escola e procuramos explicações que nos levassem a crer que realmente, uma repetência fosse um recurso pedagógico largamente utilizado em casos como esse e não uma medida puramente punitiva.

Analisando a legislação pertinente, observei que a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - (Lei No.9394/96), em seus artigos 12 e 13, é clara:

Art. 12º. Os estabelecimentos de ensino, respeitadas as normas comuns e as do seu sistema de ensino, terão a incumbência de:
[...]
V -prover meios para a recuperação dos alunos de menor rendimento;
[...]
VII -informar os pais e responsáveis sobre a freqüência e o rendimento dos alunos, bem como sobre a execução de sua proposta pedagógica.

Art. 13º. Os docentes incumbir-se-ão de:
[...]
III -zelar pela aprendizagem dos alunos;
IV -estabelecer estratégias de recuperação para os alunos de menor rendimento;
VI -colaborar com as atividades de articulação da escola com as famílias e a comunidade.

Ao dizer que é responsabilidade da escola e do professor zelar pela aprendizagem dos alunos, assim como estabelecer estratégias de recuperação para alunos de menor rendimento, acrescenta a necessidade disso ser feito ao longo do ano, paralelamente e com qualidade sendo mais importante do que quantidade, ou seja, pontos obtidos ao final do ano:

Art. 24º. A educação básica, nos níveis fundamental e médio, será organizada de acordo com as seguintes regras comuns:
[...]
V -a verificação do rendimento escolar observará os seguintes critérios:
a) avaliação contínua e cumulativa do desempenho do aluno, com prevalência dos aspectos qualitativos sobre os quantitativos e dos resultados ao longo do período sobre os de eventuais provas finais;

e) obrigatoriedade de estudos de recuperação, de preferência paralelos ao período letivo, para os casos de baixo rendimento escolar, a serem disciplinados pelas instituições de ensino em seus regimentos;

As escolas privadas, com preços absurdos, não se interessam em alunos que não coloquem o nome das entidades no mais alto patamar (vide a quantidade de faixas que são expostas nas escolas, no mês de janeiro, após a aprovação dos seus alunos nas diversas faculdades do país).

Traduzindo, estou fazendo o possível para auxiliar a minha filha ESPECIALMENTE em relação à sua auto-estima, que pode causar um estrago maior do que o da dificuldade propriamente dita.

Finalizando, não se trata portanto de querer 'passar' ela de ano, mas de oferecer-lhe a chance de progredir e superar as suas dificuldades, não necessariamente pessoais, mas resultantes de infinitas variáveis.

Antonio Albino de Abreu Mendes

Comentários

Anônimo disse…
A maioria das pessoas quando vai visitar uma escola ou uma rede escolar observa dados como aspectos físicos, asseio, localização, segurança, normas disciplinares e equipamentos, deixando de lado o currículo, a política pedagógica e o modelo pedagógico que é aplicado no estabelecimento de ensino.
Qual o comprometimento da direção escolar, da equipe docente e de técnicos com a pesquisa e o aprendizado permanente, na busca de uma troca constante educador—educando—comunidade, objetivando o fortalecimento do diálogo nas atividades educacionais, como caminho para o crescimento mútuo?
SERÁ QUE ISSO É UMA UTOPIA???????
Ricardo Rayol disse…
entre a cruz e a caldeirinha, fico pasmo quando leio essas coisas.
Anônimo disse…
Excelente post, Giulia. A dislexia é um distúrbio de aprendizagem que causa imensos sofrimentos às crianças e também aos adultos, pois os sintomas persistem por toda a vida. Todo este sofrimento e dificuldades que os disléxicos passam poderiam ser evitados se não vivêssemos na cultura da sacralização da leitura, do livro, do intelecto. E sabemos o quanto isso se dá principalmente nas escolas, justamente onde o estudante deveria ser visto como um todo, com suas múltiplas potencialidades, independente da sua dificuldade com a escrita e a leitura. Certa vez li sobre um dos maiores cirurgiões dos EUA, que só conseguiu estudar Medicina porque nos países mais adiantados não há repetência nem vestibular. Então, ele conseguiu terminar o ensino básico e ser aceito numa faculdade, embora com notas baixíssimas. E este médico, hoje, salva milhares de crianças sendo especialista em cirurgias de tumores no cérebro. Se fosse no Brasil seria, certamente, mais um refugo da escola.
Precisamos tocar mais nessa questão da dislexia, já coloquei o link do site no meu blog.
Anônimo disse…
Tem um tempo que produro informação a respeito disso, pois fui chamada na escola particular que meu filho estuda e fui informada que eu teria de pagar aulas de reforço por que meu filho no alto dos seus 3 aninhos não estava acompanhando o rendimento escolar das outras crianças e a professora ainda disse que se eu não o fizesse ele praticamente não seria alfabetizado e se um dia fosse ele ficaria lá, bom fui para casa muito magoada, triste mesmo pois já sabia das limitaçãoes do meu filho ele sempre foi lento mesmo, um bebe lento ,uma criança lenta mas pra mim, para nos nunca foi impecilio para o crescimento, pelo contrario com muito amor,carinho e principalmente PACIÊNCIA sempre conseguimos, então porque aquela educadora teve a atitude infaliz de dizer que meu filho não teria potencial para nadam isso me levou a pensar que a inclusão social e todos esse direitos a educação de qualidade só existe no papel mesmo,certamente alfabetizar uma criança dislexa (tenho horror a essa palavra,pra mim ela vem carregada de pre conceito)ou mesmo uma criança autista é uma tarefa um pouco mas dificil mas garanto não é impossivel.Bom achei esse post muito bom,vi que não estou só nisso mas garanto meu filho terá educação de qualidade sim e eu não vou pagar nada a mais por isso, vou garantir que ele tenha esse direito.
Giulia disse…
Oi, anonima (desculpe a falta de acentos, e o teclado...), isso que fizeram com seu filho e um crime! Aulas de reforco aos 3 anos??? Essa escola deveria ser processada e voce deve entrar com uma denuncia na Secretaria da Educacao da sua cidade. Nenhum professor pode diagnosticar dislexia, isso e um processo complexo feito por ESPECIALISTAS, nunca antes dos seis anos de idade! Em qual cidade voce mora? Hoje, na maioria dos municipios, as escolas infantis das prefeituras costumam ser bem melhores do que essas "escolas" que massacram as criancas e so pensam em ganhar dinheiro! Mande e-mail com mais dados para educaforum@hotmail.com