Professora, você é do mal! (O viés anti-aluno)


O que você acha que aconteceria se um aluno falasse isso para uma professora?...

Ele seria facilmente expulso, provavelmente pelo Conselho de Escola, que se tornou instrumento "soberano" para violar qualquer lei ou até a Constituição. Assim é no Brasil, onde o próprio presidente da UDEMO (associação dos diretores de escola) diz: "Não me interessa o que a lei diz, na minha escola... (faço o que eu quero)." Veja o vídeo http://br.youtube.com/watch?v=awyT3o876Gg

Se você tiver interesse, tempo, disposição ou vontade, faça uma pesquisa com apenas cem alunos da rede pública de ensino e pergunte se algum professor, coordenador ou diretor já os chamou de "retardado", "jumento", "pivete", "laranja podre", "bicha" (esse póóóóóóóde, conforme a SEE - trata-se de expressão carinhosa para cativar o aluno, rsrs) etc. A última moda é dizer para o aluno que ele é "do mal", como fez a diretora da EE Padre Josué Silveira de Mattos com a aluna que ela tentou expulsar da forma mais sórdida possível.

Professor xingar o aluno? Póóóóóóóde!
Coordenador pedagógico xingar o aluno? Póóóóóóóde!
Diretor xingar o aluno? Póóóóóóóóde!

Aluno xingar professor, coordenador pedagógico, diretor???
Nós pais achamos que não deve, aliás fazemos de tudo para que nossos filhos aprendam a respeitar professor, coordenador, diretor de escola, não por serem autoridades, mas porque TODAS AS PESSOAS, independentemente de sua idade ou posição social, MERECEM RESPEITO. Essa é a educação que tentamos dar para os nossos filhos em casa. Infelizmente não é o que eles aprendem na escola.

Vamos lá: mesmo que o seu filho nunca tenha sido xingado por algum profissional dentro da escola, certamente ele ouviu algum professor, coordenador ou diretor xingar, agredir ou gritar com algum aluno. Mas esses profissionais são tão covardes que, quando confrontados, negam.

Assim foi com a professora que xingou a classe inteira de uma das minhas filhas de "merda" e teve a pachorra de negar!

Você sabe que a criança e principalmente o adolescente costumam imitar os adultos e transpor limites. Não é simples teimosia, isso faz parte do seu desenvolvimento, que se dá através de erros, acertos e desafios. E o aprendizado, todos nós sabemos, não se dá por sermão ou lavagem cerebral: se dá pelo exemplo.

Então, como é que fica, dentro de uma escola onde professores, coordenadores pedagógicos e diretores dão o belo exemplo de xingar seus alunos?...

E porque então só a criança e o adolescente são punidos quando xingam seus "superiores" e as "autoridades" ficam impunes? Não é uma inversão de valores?

O que acontece no Brasil é um fenômeno que mereceria ser estudado por sociólogos. (Quantas vezes eu preciso repetir: faltam socióóóóólogos neste país!) Esse fenômeno é aquilo que Gustavo Ioschpe chama de "viés anti-aluno".

Ninguém ouve, dentro de uma escola, professor xingar professor, coordenador xingar diretor de escola ou vice-versa. Esse exemplo o aluno não recebe. Porque, então, professor xingar aluno póóóóóóóóóde? Porque aluno é considerado pessoa "menor". Aluno, no Brasil, ainda é "de menor". Na rede particular isso acontece em menor proporção, porque muitos pais não admitem esse tratamento e mudam seus filhos de escola. Na rede pública, a mãe que fez BO porque a diretora queria expulsar a filha "do mal" foi arrastada para um tribunal!!! Veja o vídeo e saiba que o juiz declarou a aluna inocente http://educaforum.blogspot.com/2008/02/denncia.html
Mas a diretora continua na escola, leve e solta, porque a SEE diz que não é da sua alçada o que um diretor faz fora da escola!

Mas todo este blá-blá-blá, na verdade, é para comentar a declaração da Secretária Estadual da Educação, que DESMENTIU a APEOESP (o maior sindicato de professores do país!) quando essa divulgou que 87% dos professores já sofreram ou assistiram a um ato de violência de aluno contra algum colega. A Secretária de Educação declarou na mídia que se trata de apenas 0,08%.

OK, Sra. Secretária, desta vez a Sra. deu uma bola dentro. Queremos agora saber se e como a SEE vai levantar os atos de violência dos profissionais da educação contra os alunos. Ou será que isto não interessa? Será que o que interessa é apenas a percentagem - seja alta ou baixa - dos atos de violência sofridos pelos profissionais da educação?...

Comentários

Anônimo disse…
Mãe de aluno diz.
Vcs nao ficam desmotivado quando veêm esse tipo de absurdo?? eu fico chocada, que instituição é essa aonde o seu diretor diz que nao segue a lei.
é uma terra sem dono, cada um faz o que quer? cade as secretarias estaduais e municipais?
Isso tudo vai ficar de graça, ninguem vai cobrar nada? nem ao menos um pedido de desculpa?
Deixo aqui meu manifesto de indignação.
Giulia disse…
Pois é, mãe de aluno! Nós cobramos!!! Mas cadê as autoridades?...
Anônimo disse…
Giulia,
Que pergunta fácil, no mínimo, devem estar no salão, o restaurante de 5 estrelas, o ‘coquitele’ para puxar o saco de algum ‘otoridade’ ainda maior do que eles, ou simplesmente em casa, talvez até recém reformada com dinheiro público, escrevendo um livro (ou vários livros) que depois irão aproveitar para vender nas suas andanças pelo país afora para inaugurar prédios e eventos promovidos supostamente para melhorar a educação, mas que em realidade servem apenas para melhorar o ibope deles...;-) De qualquer forma, vc e Mauro estão de parabéns pela atuação. Certamente, o caminho para enquadrar a turma do mal é através da justiça mesmo, já que as nossas autoridades educacionais são por demais corporativistas e nunca vão apurar devidamente esses casos que envolvem seus pares e muito menos aplicá-los qualquer punição.
Grande beijo pra vc e pra Vera.
Anônimo disse…
Oi Giulia,
Eu li a sua resposta sim. O meu e-mail é dani_simoes_freitas@hotmail.com. Não deixei antes pq me sinto meio estranha no ninho, haja visto que sou professora. Gosto muito das discussões que leio aqui e dou a maior força para vcs. Boa sorte!
Dani
Giulia disse…
Oi, Danielle, sinta-se em casa aqui! Só não vale vestir a carapuça de professor mal intencionado, rsrs, pois você parece ser uma profissional muito séria. A gente não exige muita coisa do professor, pois de um modo geral os cursos de formação são fracos. Mas o que não podemos tolerar é a perversidade de profissionais como esses que foram denunciados aqui, que agem com requinte de crueldade.
Anônimo disse…
Obrigada Giulia,
A gente se esforça, mas tá difícil, pois para cada um que faz vem uma dúzia e desfaz. Estou aqui pq gosto de ver a coragem e o engajamento de vcs. Quanto ao concurso fique sabendo que foi sugestão de aluno.
Dani
Giulia disse…
Dani, uma prefeitura que dá voz ao aluno já mostra alguma abertura. Mesmo assim, é uma pena que os Conselhos de Escola no Rio sejam apenas consultivos, o que porém pode não ser tão importante, nesta terra "sem lei". Quero dizer: de que adianta, aqui em São Paulo, os Conselhos serem DELIBERATIVOS se eles são manipulados a bel prazer pelos diretores de escola?...
Anônimo disse…
É verdade...
Dani
Anônimo disse…
Inocentada!? Mas porque ela teve que pagar 1 real então? Não estou entendendo...
Giulia disse…
Não, ela não teve que pagar nada!
Quando percebemos que em São João da Boa Vista a diretora da escola e a dirigente de ensino eram como "deusas", ficamos com receio de deixar a defesa da aluna para a defensoria local, porque em cidade pequena todo mundo se conhece e a corrupção é mais fácil. Então o Mauro, do COEP, teve a idéia de entrar com pedido de Habeas Corpus Preventivo na Promotoria do Estado aqui em São Paulo, usando dois argumentos:
1. que a garota era inocente;
2. que, mesmo se ela fosse culpada, o "dano ao patrimônio" alegado para entrar com ação contra a aluna seria mínimo, pois qualquer lixeira de plástico pode ser adquirida por 1 real.
Entende? Foi uma sacada brilhante e inclusive irônica. O Mauro é muuuuuito craque!!!
Mas, aparentemente, o juiz nem precisou ler o habeas corpus, pois em cinco minutos percebeu que a aluna havia sido vítima de uma armação, já que os quatro garotos arrolados pela diretora como "testemunhas da acusação" entraram em contradição uns com os outros. Moral da história: a diretora convocou o Conselho de Escola para expulsar a garota SEM AO MENOS CONFERIR O TESTEMUNHO DOS COLEGAS. Mas o mais grave veio depois: quando ela foi obrigada pela Secretaria da Educação a reintegrar a aluna na escola, ficou tão cega pelo sentimento de vingança que levou a garota e os colegas ao tribunal, provavelmente ameaçando-os de expulsão se não testemunhassem contra a aluna. Este crime é tão grave e tão sórdido que só uma Secretaria da Educação omissa como a do Estado de São Paulo se negaria a punir essa diretora...