Comunidade presente???


A violência tem-se constituído num dos principais desafios contemporâneos aos responsáveis por políticas públicas. Sua manifestação está em todas as instâncias do tecido social. Concepções estabelecendo a origem da violência como fenômeno unicamente vinculado à existência da pobreza mostraram-se insuficientes para compreender e explicar as situações concretas dos dias atuais. Certamente, os componentes inerentes à violência encontram o cenário apto para suas manifestações onde a pobreza se traduz em restrição permanente. Porém, hoje parece não haver dúvidas acerca da relação entre a violência, a agressividade e a exclusão social, que perpassa a sociedade como um todo, independentemente, de sua situação sócio-econômica e cultural. A violência está associada a questões mais amplas, de natureza estrutural, revelando problemas INSTITUCIONAIS, SOCIAIS, POLÍTICOS.

O texto acima foi retirado do site da Secretaria de Educação do Estado de São Paulo http://www.educacao.sp.gov.br/, esse “paquiderme” a serviço da corporação, onde não se encontra uma palavra sequer sobre a eleição do Conselho de Escola, o órgão que permite a gestão democrática e participativa dos pais de alunos. Esse texto bem que poderia ser o fundamento teórico para introduzir esse assunto, já que fala em “questões mais amplas, de natureza estrutural, revelando problemas INSTITUCIONAIS, SOCIAIS, POLÍTICOS”.

Mas não é nada disso! O texto acima se refere ao Programa Comunidade Presente da SEE, que tem o objetivo de “sensibilizar e instrumentalizar assistentes técnico pedagógicos (ATPs), diretores, professores, funcionários, pais e alunos, para que as escolas sejam espaços de exercício de participação e de organização dessa comunidade. As interfaces indivíduo/família/sociedade/governo podem possibilitar o estabelecimento de medidas preventivas de caráter educativo, complementando outras ações na área da segurança pública que venham atuar sobre fatores geradores da violência”.

Palavras muito bonitas! As intenções são bem menos...
Em primeiro lugar, “sensibilizar” os profissionais da educação da importância da participação dos pais não é o que está na lei! Depois que a própria Constituição prevê a participação da comunidade na gestão da escola http://educaforumtxt.blogspot.com/2007/01/gesto-participativa-na-escola.html, não se pode voltar ao estágio anterior, de “sensibilizar” os profissionais a abrir as portas da escola para os pais. Essas portas já precisam estar abertas! E o caminho é a eleição democrática do Conselho de Escola, órgão sequer mencionado no site da SEE. O discurso da corporação costuma repetir que é difícil “aproximar” os pais da escola... Conversa mole para boi dormir! Que o digam os pais de alunos que nos procuram constantemente, queixando-se do autoritarismo de professores, coordenadores e diretores de escola, apoiados nas Diretorias e Coordenadorias de Ensino, bem como nas Secretarias da Educação.

A fim de evitar minha habitual verborragia, vou tentar resumir os problemas tão bem colocados no texto da SEE (e tão mal administrados na própria rede de ensino!):

Problemas INSTITUCIONAIS
A gestão democrática e participativa da escola, que está na Constituição, é sumariamente boicotada pela buRRocracia oficial, que não é nem um pouco ingênua, acredite... Não interessa para a INSTITUIÇÃO escola ter a participação da comunidade em sua gestão. É por isso que 98% das escolas procedem à eleição do Conselho de forma irregular e é também por isso que o site da SEE, da SME e da maioria das Secretarias da Educação em todo o Brasil não mencionam uma vírgula sobre essa eleição, que deveria ocorrer no primeiro mês do ano letivo...

Problemas SOCIAIS
O perfil dos profissionais da educação na rede pública é muito diferente do perfil do usuário. A prova é que a maioria deles têm seus filhos estudando na rede particular. Por mais polêmica que seja esta questão, em algumas situações a classe docente mostra direitinho o abismo que a separa do usuário da rede. É quando o professor se dirige ao seu aluno desta forma:
“Aqui eu falto mesmo! Não posso é faltar na escola particular, onde meu filho estuda e onde garanto a sua educação.”
(Muitos alunos já ouviram seus professores falarem dessa forma, inclusive meus filhos.)
Será que interessa para o profissional da educação encurtar as distâncias sociais que os separam de seu aluno?...

Problemas POLÍTICOS
Esta é meu ver a questão mais complexa, pois pode ser abordada de várias formas:
  • A falta de VONTADE POLÍTICA da maioria dos diretores de escola em dividir seu PODER com a comunidade.
  • O poder POLÍTICO da classe docente, talvez a maior base eleitoral de toda a sociedade, disputado a tapa pela CLASSE POLÍTICA brasileira. Será que interessa aos Secretários da Educação, que se encontram em CARGOS DE CONFIANÇA, perder a simpatia e o apoio de seus maiores CABOS ELEITORAIS, a favor de uma comunidade que, talvez, só venha a criticar suas obras?...
  • Por último, mas não menos importante, o prazer POLÍTICO de adultos imaturos em testar seu PODER sobre crianças e adolescentes, seres em formação e com suas defesas ainda incompletas.

Finalizando, gostaria de citar mais uma “pérola” do texto da SEE retirado de seu próprio site e colocado como argumento para a implantação do seu Projeto Comunidade Presente:

"Conscientizar a comunidade a ocupar melhor seus ESPAÇOS DE DIREITO."

Ora bolas! O ESPAÇO DE DIREITO da comunidade escolar é dentro do Conselho de Escola. E esse espaço costuma ser-lhe negado, ou então lhe é oferecido de forma precária e em condições inconfessáveis. Enquanto não houver paridade de condições na gestão da escola pública, qualquer outro programa será pura cortina de fumaça. E a violência na escola vai continuar!

Comentários

Anônimo disse…
Giulia,

Não preciso dizer mais nada, pois vc sabiamente já disse TUDO!