"Tropa de elite" dentro da escola


Neste blog quase não se fala de flores. Infelizmente. Aquele arco-íris que eu postei no dia 15 de abril continua sem legenda...

E no dia 17 de abril, em Almirante Tamandaré, Paraná, houve um fato que eu entendo deveria ter chocado todo o Brasil, mas eu mesma só tomei conhecimento dele - e com muito atraso - porque nossa amiga Vera Vaz, de Curitiba, me enviou o link de um vídeo veiculado pela emissora local: mais uma vez a patrulha escolar foi chamada numa escola para “resolver o problema” de uma professora insultada por alunos.

Os policiais chegaram rapidinho – como sempre nesses casos – e começaram a espancar, a socos e pontapés, quatro alunos de 13 a 17 anos que se encontravam no local, sentados em um banco. O assunto teria morrido ali, se os PMs não tivessem errado o alvo, agredindo alunos inocentes. O fato: O ERRO DO ALVO, revoltou a comunidade local, que chamou a mídia na escola. Assista o vídeo no link ao pé da página e preste bem atenção no depoimento da secretária da escola:

A gente pediu para que parassem, que não eram eles (os alunos que haviam insultado a professora), mas eles (os policiais) são autoridade, estavam dentro da função deles, a gente não teve como impedir...

Provavelmente, se o diretor, o supervisor ou o dirigente responsável por essa escola tivessem tido coragem de dar a entrevista, teriam sido bem mais espertos do que a secretária, empurrada nesse fogo cruzado por autoridades covardes e omissas. Com toda espontaneidade e sem um pingo de hipocrisia, a pobrezinha entregou aquilo que todos aqui estamos cansados de saber: se os policiais tivessem acertado o alvo, estaria tudo bem e o fato passaria em brancas nuvens, pois, na rede pública de ensino, insulto de alunos a professor se paga com a violação da integridade física ou moral, com espancamento (entre quatro paredes) ou indiciamento (na delegacia ou na “torturabem” local).

Assistindo o vídeo com mais atenção, você pode formar um quadro da classe social dos quatro alunos espancados “injustamente” - se é que é justo a patrulha escolar espancar alunos, que é exatamente a questão aqui!!! Se você tiver alguma vivência dentro da rede pública de ensino, saberá que os pais desses alunos não têm a menor chance de cobrar a reparação de quaisquer danos físicos ou morais, como teriam facilmente os pais da rede particular numa situação “parecida” (mas nunca igual, pois é claro que nenhum diretor de escola particular mandaria a polícia espancar seus clientes, certo?...). Esses pais não têm condições de pagar advogado para cobrar uma indenização milionária do Estado, o que poderia criar um precedente histórico em todo o país. Além disso, esses pais precisam tomar muito cuidado com o que vão reclamar daqui para frente dentro da escola, pois seus filhos poderão ser perseguidos até à expulsão... Por isso mesmo, esses pais vão ficar bem quietinhos e apenas agradecer a esmola da solidariedade recebida pela agressão sofrida “injustamente” por seus filhos...

Se estivéssemos em outro país (não vou dizer qual, pois já estou pensando em três ou quatro...), o caso teria repercussão nacional e certamente algum advogado de renome se prestaria a atender de graça essas quatro famílias, iniciando um lindo processo de indenização contra um estado omisso e criminoso. É claro que o dinheiro da indenização para esses quatro garotos inocentes sairia dos nossos bolsos, mas eu não me incomodaria com isso. O ressarcimento a essas quatro famílias profundamente violadas em sua dignidade seria mais do que justo. Mas... estamos por acaso em um país justo?...

Tudo o que a sociedade brasileira deseja para garantir a segurança nas escolas é a presença da polícia. Ponto pacífico.

Este blog discute o assunto há anos, rebatendo essa idéia e mostrando alternativas, mas nada muda a posição da sociedade brasileira a esse respeito. Mesmo quando ocorrem as ações mais absurdas e truculentas da polícia dentro de uma escola, como essa do dia 17 de abril, a reação da mídia e da população é tão mínima que os fatos passam batido e caem no esquecimento. Até a próxima ocorrência, que também vai passar em branco, e assim por diante...

Assista aqui http://tvparanaense.rpc.com.br/index.phtml?Video_ID=23678&seq=&autostart=1
Assista também outros vídeos sobre a presença da polícia em escolas, já trazidos aqui este ano http://educaforum.blogspot.com/2008/01/revista-na-escola-abuso.html

Comentários

Anônimo disse…
FALA VERDADE É CHOCANTE LER ESSAS COISAS, E O PIOR É SABER QUE NAO VAI DAR EM NADA. TUDO É NORMAL, TUDO SE PODE, ATE ACONTECER COM ALGUEM QUE TENHA UM SITUAÇÃO FINANCEIRA MELHOR QUE PODE CONTRATAR UM ADVOGADO P/ COBRAR DO ESTADO.
Ricardo Rayol disse…
isso é uma coisa que não dá nem para comentar
Anônimo disse…
HORROR!!! BARBÁRIE!!!! Isso deveria ser manchete nas primeiras páginas dos jornais e provocar uma comoção nacional. E que patético uma funcionária da escola, lá no fim da matéria (professora, diretora??) dizer que "eram autoridades", não podiam fazer nada. Que nível de cidadania tem uma pessoa dessa que está ali para educar? Perdoe-me, Giulia, mas podemos enterrar a esperança!
Giulia disse…
Ricardo, sem comentar é que podemos mesmo enterrar a esperança, como diz a Glória!...
Glória, a pobre coitada é uma mera secretária, ela fica o dia inteiro tirando papelzinho de um lugar e colocando em outro. Observei bem como funcionava a secretaria das escolas dos meus filhos. Numa hora dessas, diretor, coordenador, supervisor e demais autoridades fogem da raia. É a mesma coisa que estourar um escândalo numa empresa e entrevistar a recepcionista! Veja também a omissão do jornal, que não se dá ao trabalho de buscar uma autoridade maior. Por que será, hein?...
Anônimo disse…
Giulia,

Sugiro que troque o nome para TROPA DE COVARDES