Pública ou particular, barco à deriva


Já disse que escola, neste país, é barco à deriva, seja ela pública ou particular. Aqueles 5% de escolas particulares “de elite” só servem para aumentar as distâncias sociais no país, que já é o campeão mundial da desigualdade. Os restantes 95%, salvo uma ou outra escola realmente “bem intencionada” e que consegue (ou pretende...) cumprir o que promete aos pais e alunos, fazem puro comércio sem escrúpulos.

Nos últimos dias, recebi informações de duas escolas, uma pública e outra particular, que se encaixam direitinho na média de cada rede. Quero sua opinião!

  • Primeiro caso: escola da rede pública - Um aluno de dez anos, distraído durante a aula, foi agarrado pelo pescoço e arremessado contra a parede pelo professor irritado. A mãe de um colega de classe soube do caso pelo seu filho e foi procurar a direção da escola, preocupada com outras possíveis agressões aos alunos, quem sabe, ao seu próprio filho. Mas o que lhe informaram foi que o pai do aluno agredido pelo professor estava preso... (você que acompanha este blog há tempo já sabe o que isso significa, não?). A mãe do colega do menino respondeu que não estava lá para saber detalhes da família do aluno agredido, mas para saber que providências a escola ia tomar. De repente, apareceu... o pai da vítima, que obviamente não estava na prisão, mas esse é um mero detalhe, pois, neste país, quem foi preso uma única vez continua levando a pecha de criminoso. Aliás, professores e diretores de escola entendem que pais “criminosos” transmitem esse DNA para os filhos... Encurtando a história, a supervisora já estava no local e mostrou para o pai do menino agredido um livro relatando as "indisciplinas" do aluno. O pai, muito nervoso, afirmou que chegando em casa o seu filho "ia ver".
    A mãe do colega do aluno, inconformada, tentou convencer aquele pai de que ele não podia aceitar que seu filho pequeno fosse agredido de forma tão covarde e violenta. Hipocritamente, a direção da escola informou que o pai do menino poderia ir à delegacia de polícia fazer um BO. É claro que ele não aceitou. Quem tem problemas com a justiça foge de uma delegacia como o diabo da cruz... Além disso, ia ser a palavra de uma criança de 10 anos contra um monte de adultos mentirosos e covardes. Essa história continua, sim, mas só Deus sabe como: criança espancada em casa, professor aliviado, tudo volta ao “normal”.

  • Segundo caso: escola da rede particular - A mãe percebe que a escola escolhida para sua filha não corresponde às expectativas: ensino ruim, ao ponto de o caderno da aluna voltar com correções inexatas, a professora se ausenta constantemente da sala de aula e repreende a aluna por contar em casa o que acontece na escola, a aluna é discriminada pelas constantes reclamações da mães na diretoria. Infelizmente, existe uma única classe para a série da filha, portanto, nem seria possível mudá-la de sala. A mãe quer trocar de escola, mas pretende receber de volta o dinheiro da matrícula e mensalidades já pagas, pois entende que foi ludibriada. Ela tenta protocolar um documento na escola com todas as suas reivindicações, mas a diretora se recusa a assinar, aliás, diz que precisa levar esse documento ao seu advogado. Ela ainda alega que a mãe não teria testemunhas para comprovar os fatos e ameaça inclusive processar a cliente com base no documento recebido, pois a professora e demais funcionários da escola negam a maioria dos fatos e entendem que a aluna mentiu... Além disso, a diretora afirma que “só essa mãe” reclama da escola, todos os outros pais estão absolutamente satisfeitos e blá-blá-blá... Você vê alguma forma de essa mãe receber de volta seu rico dinheirinho?...

Acredite, ambas escolas são típicas. Com isto não quero dizer que todo professor agrida aluno e que em toda escola particular tenha professor “analfabeto” (como parece ser a professora da menina...) A questão é que nenhuma escola dá o braço a torcer, o corporativismo sempre fala mais alto! Por isso, na rede pública, professor “pode até matar uma criança que nada lhe acontece”, conforme aquela célebre frase divulgada pela professora Glória Reis. E, na rede particular, cliente insatisfeito é convidado a se retirar. Justiça? Aqui não!

Como você vê, a encrenca da educação brasileira vai muito além do mero ensino do bê-a-bá, considerado o maior problema do país... A única forma de melhorar essa situação seria a criação de um órgão público para o qual a comunidade pudesse encaminhar denúncias e realmente ser atendida. Nossos amigos do COEP – Movimento Comunidade de Olho na Escola Pública http://www.geocities.com/coepdeolho/ já cansaram de propor duas excelentes sugestões, que não decolam por causa da omissão e da corrupção governamental:

  • A criação de uma Promotoria da Educação
  • A criação de uma Ouvidoria do Aluno

Por que uma Promotoria da Educação? Porque os próprios Conselhos Tutelares costumam ficar à disposição de professores e diretores contra os alunos, como ocorreu, por exemplo, em São João da Boa Vista: quando a mãe de uma aluna pediu ajuda porque a filha de 15 anos havia sido expulsa da escola, a conselheira respondeu que não podia atender, pois “só podia tratar de crianças até 12 anos”, mas, quando a diretora da escola se queixou de que a aluna não havia aceito mudar para outra unidade “escolhida” para ela, a mesma conselheira se apressou a entrar em contato com a mãe da aluna para questionar o porquê...

E por que uma Ouvidoria do Aluno? Porque as ouvidorias “da educação” existentes são exatamente o que o nome diz: ouvidorias da corporação, compostas por ex-diretores e supervisores de escola, a serviço da classe docente. Elas são "surdorias", fazem ouvidos moucos às denúncias dos pais e alunos. Só uma Ouvidoria DO ALUNO, desvinculada da corporação, poderia atender casos como esses e entrar no mérito dessas questões escabrosas, que continuam assunto tabu.

Ah! Uma piadinha: o EducaFórum recebeu e-mail da Comissão de Educação da Câmara Federal, assinado por... NINGUÉM, ou seja, pela “Secretaria da Comissão”. A mensagem nos parabeniza pela matéria “Tropa de elite” dentro da escola http://educaforum.blogspot.com/2008/04/espancamento-em-escolas.html e diz que “esses assuntos também são preocupação dos membros desse órgão técnico”. Imagine se algum deputado iria assinar embaixo, rsrs! Ah, que pena que Brasília seja tão longe, senão ia bater na porta desses deputados amanhã mesmo e pentelhá-los até à quinta geração...

Comentários

Anônimo disse…
Amanhã, que dia??? rsrs
Esqueceu que eles trabalham de segunda a quinta? Aliás, esta semana, de segunda a quarta!
Anônimo disse…
ESCOLA PÚBLICA: Uma funcionária readaptada cursando faculdade de PEDAGOGIA "CUIDANDO" dos alunos em AULA VAGA,da uma sapatada em um aluno.Até a data de hoje a SME ciente do assunto nunca deu um parecer sobre esse caso.
Giulia disse…
Pois é, todos sabemos que funcionária readaptada não deveria pisar em sala de aula, mas, na hora da aula vaga, vale tudo! Só para dizer que a escola cumpriu o número mínimo de aulas durante o ano...