Como já dissemos várias vezes, o esquema de desvio de verbas do ensino na região de Araraquara deve ser apenas a ponta do iceberg, neste país continental. O que mais choca é a naturalidade com que os diretores de escola e funcionários da diretoria de ensino se deixaram envolver. Para eles, tudo era "normal", como se notas frias e superfaturamento fossem a coisa mais natural do mundo. Devia ser isso mesmo, pois se tratava de prejudicar apenas os filhos da classe trabalhadora, esses são de qualquer forma apenas uns "coitadinhos". Tirar migalhas de quem já só tem migalhas: quem iria perceber? Quem se importaria?
Para quem ainda não acredita nesse esquema, veja as imagens acima: a nota fiscal número 095, no valor de R$ 75,00, com a anotação de "comissão", foi registrada no acerto de contas como sendo "serviço de limpeza", no valor de R$ 3.386,99!!!
Para quem ainda não acredita nesse esquema, veja as imagens acima: a nota fiscal número 095, no valor de R$ 75,00, com a anotação de "comissão", foi registrada no acerto de contas como sendo "serviço de limpeza", no valor de R$ 3.386,99!!!
(clique nas imagens para ampliá-las e ler os valores)
Leia mais este depoimento de uma diretora de escola, que serve de "cronograma" do esquema:
Sou diretora de escola, hoje aposentada, me efetivei em 1998 e assim começei a ter que fazer fazer parte de um esquema de notas fiscais frias já em andamento na diretoria de ensino havia muitos anos.
Logo que assumi meu cargo na escola, de cara a dirigente Sandra Rossato me chamou em seu gabinete e mandou que providênciasse 12 mil reais de notas fiscais frias para acertar a situação da escola junto à FDE. Na conta da APM nada existia, mas nos balancetes constava um débito da escola no valor de 12 mil e pouco, que deveria ser acertado com notas compradas no escritório de contabilidade Atlas. Na época eu estava fazendo um curso em SP para diretores e comentei com colegas e até com uma supervisora de ensino sobre esse procedimento estranho, a mesma disse ser normal e que todos faziam. Os diretores que conversei também disseram ser normal.
Então procurei o escritório de contabilidade Atlas e paguei com dinheiro de cantina (recursos arrecadados na própria escola) 20% pelas notas, sendo que a proprietária do escritório sabia o que devia conter no corpo de cada nota para empenho, ou seja, material de limpeza, prestação de serviços, etc. Ela mesma fazia o relatório, eu passava para pegar e os pais de alunos membros da APM assinavam os relátorios sem questionamentos. Era um procedimento normal, esses pais eram do conselho fiscal da APM em vigor naquele ano e a verba que foi amortizada com notas fiscais frias era da FDE, um convenio existente até hoje com as escolas.
Depois disso passei a usar esse procedimento em todas as verbas enviadas à escola e uma parte ia para a diretoria de ensino, em dinheiro,diretamente para a dirigente, que justificava não ter verbas para algumas necessidades da DE.
Assim agiam todos os diretores de escola. Reformas da escola, a dirigente negociava ela mesma com a construtora e parte do dinheiro ficava com ela, a escola só fazia a prestação de contas. Conserto de computadores da sala de informática, o mesmo procedimento, aquisições enviadas pelo fundo nacional do desenvolvimento de ensino, a mesma coisa, ela utilizava a verba e a escola apenas fazia o pagamento e a prestação de contas.
Sempre faltava material, até armários, mesas, computadores, e a justificativa era que ela havia repassado a outras escolas que necessitavam mais.
Me removi desta escola e fui para outra. Lá continuou o esquema, mas tomou uma dimensão muito grande, porque a dirigente usava essa escola para tudo e para conseguir mais verbas.
Foi feita a cobertura de quadras poliesportivas, a dirigente tinha contato com um engenheiro que fazia orçamento muito barato, que era aprovado pela APM, e ela ficava com parte do dinheiro, como "comissão". E assim era em todas as escolas, porque nós diretores participávamos em reuniões na diretoria de ensino tratando deste assunto. Fazíamos a vontade dela que era uma ditadora e todo mundo tinha medo de denunciá-la porque ela tinha força politica junto à Secretária Rose Neubauer, ao governandor e deputados da região, todos seus aliados. Quem ousasse enfrentá-la perdia o cargo.
Em 2005 o esquema estava no auge, muitas pessoas estavam mamando nessa teta, toda a sua assessoria comprando pesqueiros, carros importados, etc. Então decidi me remover para outra escola e a dirigente ficou uma fera, porque naquela escola tinha um esquemão antigo e ainda mais lucrativo. Resolvi enfrentar , mas a dirigente me ameaçou de exoneração por desobediência. Assim fui processada e rapidamente afastada do meu cargo em janeiro de 2005. Ela conseguiu tudo isso com o coordenador da CEI Elcio Antonio Selmi (falecido). Fui processada por emissão de notas fiscais frias e fizeram parte da comissão de averiguação preliminar os mesmos supervisores que disseram ser normal e de praxe tal procedimento. Mesmo assim ainda achei que o processo não iria dar em nada, como ela poderia fazer isso comigo se todos os diretores faziam a mesma coisa e ela própria era a diretora do esquema?
Mas Sandra tinha poder e ela subiu meu processo administrativo, PAD 55/2005, que está sendo julgado.
Então resolvi pegar o nome de todas as empresas que forneciam notas fiscais às escolas e sequenciadas e enviei à FDE, que depois de muito custo fez uma auditoria e foi averiguada a existência de empresas fantasmas, bares, lojas de calçados, casas de rações, oficinas de motos, etc. Então 18 diretores foram processados e a dirigente também foi, só que ela alegou que não mandava os diretores usarem desse expediente. Como havia políticos envolvidos, ela recebeu uma pena branda (suspensão), que nem foi aplicada, porque Sandra aposentou-se. O PAD dela, 95/2006, já era.
O certo é que todos os diretores sejam processados, e os supervisores de ensino também. Os repasses de verbas para a Diretoria de Ensino anualmente eram mais de 2 milhões de reais, isto em 12 anos dá quanto? E as outras verbas oriundas da União, reformas em escolas, aquisição de materiais etc? A Sandra Rossato também tinha um esquema de diárias de viagem "fantasmas", as viagens não eram feitas e o dinheiro repassado para ela, existem fitas gravadas com funcionários que falam sobre o assunto. Soubemos que ela usou em sua defesa o argumento do arrependimento e devolveu algum dinheiro, mas a averiguação foi ridícula, apenas uma passada de olho.
Várias cabeças do esquema de notas fiscais frias estão refugiadas em gabinetes de políticos. Muitos envolvidos queimaram sacos e mais sacos de notas fiscais frias, mas ainda existem muitas provas e a FDE se recusam a refazer a auditoria e dar continuidade à averiguação. Muito poder e dinheiro está envolvido nesse esquema, mas alguém tem que lutar por esta causa. São muitos milhões de verbas roubadas da educação estadual e todos indistintamente devem pagar pelos crimes que cometeram.
Sou diretora de escola, hoje aposentada, me efetivei em 1998 e assim começei a ter que fazer fazer parte de um esquema de notas fiscais frias já em andamento na diretoria de ensino havia muitos anos.
Logo que assumi meu cargo na escola, de cara a dirigente Sandra Rossato me chamou em seu gabinete e mandou que providênciasse 12 mil reais de notas fiscais frias para acertar a situação da escola junto à FDE. Na conta da APM nada existia, mas nos balancetes constava um débito da escola no valor de 12 mil e pouco, que deveria ser acertado com notas compradas no escritório de contabilidade Atlas. Na época eu estava fazendo um curso em SP para diretores e comentei com colegas e até com uma supervisora de ensino sobre esse procedimento estranho, a mesma disse ser normal e que todos faziam. Os diretores que conversei também disseram ser normal.
Então procurei o escritório de contabilidade Atlas e paguei com dinheiro de cantina (recursos arrecadados na própria escola) 20% pelas notas, sendo que a proprietária do escritório sabia o que devia conter no corpo de cada nota para empenho, ou seja, material de limpeza, prestação de serviços, etc. Ela mesma fazia o relatório, eu passava para pegar e os pais de alunos membros da APM assinavam os relátorios sem questionamentos. Era um procedimento normal, esses pais eram do conselho fiscal da APM em vigor naquele ano e a verba que foi amortizada com notas fiscais frias era da FDE, um convenio existente até hoje com as escolas.
Depois disso passei a usar esse procedimento em todas as verbas enviadas à escola e uma parte ia para a diretoria de ensino, em dinheiro,diretamente para a dirigente, que justificava não ter verbas para algumas necessidades da DE.
Assim agiam todos os diretores de escola. Reformas da escola, a dirigente negociava ela mesma com a construtora e parte do dinheiro ficava com ela, a escola só fazia a prestação de contas. Conserto de computadores da sala de informática, o mesmo procedimento, aquisições enviadas pelo fundo nacional do desenvolvimento de ensino, a mesma coisa, ela utilizava a verba e a escola apenas fazia o pagamento e a prestação de contas.
Sempre faltava material, até armários, mesas, computadores, e a justificativa era que ela havia repassado a outras escolas que necessitavam mais.
Me removi desta escola e fui para outra. Lá continuou o esquema, mas tomou uma dimensão muito grande, porque a dirigente usava essa escola para tudo e para conseguir mais verbas.
Foi feita a cobertura de quadras poliesportivas, a dirigente tinha contato com um engenheiro que fazia orçamento muito barato, que era aprovado pela APM, e ela ficava com parte do dinheiro, como "comissão". E assim era em todas as escolas, porque nós diretores participávamos em reuniões na diretoria de ensino tratando deste assunto. Fazíamos a vontade dela que era uma ditadora e todo mundo tinha medo de denunciá-la porque ela tinha força politica junto à Secretária Rose Neubauer, ao governandor e deputados da região, todos seus aliados. Quem ousasse enfrentá-la perdia o cargo.
Em 2005 o esquema estava no auge, muitas pessoas estavam mamando nessa teta, toda a sua assessoria comprando pesqueiros, carros importados, etc. Então decidi me remover para outra escola e a dirigente ficou uma fera, porque naquela escola tinha um esquemão antigo e ainda mais lucrativo. Resolvi enfrentar , mas a dirigente me ameaçou de exoneração por desobediência. Assim fui processada e rapidamente afastada do meu cargo em janeiro de 2005. Ela conseguiu tudo isso com o coordenador da CEI Elcio Antonio Selmi (falecido). Fui processada por emissão de notas fiscais frias e fizeram parte da comissão de averiguação preliminar os mesmos supervisores que disseram ser normal e de praxe tal procedimento. Mesmo assim ainda achei que o processo não iria dar em nada, como ela poderia fazer isso comigo se todos os diretores faziam a mesma coisa e ela própria era a diretora do esquema?
Mas Sandra tinha poder e ela subiu meu processo administrativo, PAD 55/2005, que está sendo julgado.
Então resolvi pegar o nome de todas as empresas que forneciam notas fiscais às escolas e sequenciadas e enviei à FDE, que depois de muito custo fez uma auditoria e foi averiguada a existência de empresas fantasmas, bares, lojas de calçados, casas de rações, oficinas de motos, etc. Então 18 diretores foram processados e a dirigente também foi, só que ela alegou que não mandava os diretores usarem desse expediente. Como havia políticos envolvidos, ela recebeu uma pena branda (suspensão), que nem foi aplicada, porque Sandra aposentou-se. O PAD dela, 95/2006, já era.
O certo é que todos os diretores sejam processados, e os supervisores de ensino também. Os repasses de verbas para a Diretoria de Ensino anualmente eram mais de 2 milhões de reais, isto em 12 anos dá quanto? E as outras verbas oriundas da União, reformas em escolas, aquisição de materiais etc? A Sandra Rossato também tinha um esquema de diárias de viagem "fantasmas", as viagens não eram feitas e o dinheiro repassado para ela, existem fitas gravadas com funcionários que falam sobre o assunto. Soubemos que ela usou em sua defesa o argumento do arrependimento e devolveu algum dinheiro, mas a averiguação foi ridícula, apenas uma passada de olho.
Várias cabeças do esquema de notas fiscais frias estão refugiadas em gabinetes de políticos. Muitos envolvidos queimaram sacos e mais sacos de notas fiscais frias, mas ainda existem muitas provas e a FDE se recusam a refazer a auditoria e dar continuidade à averiguação. Muito poder e dinheiro está envolvido nesse esquema, mas alguém tem que lutar por esta causa. São muitos milhões de verbas roubadas da educação estadual e todos indistintamente devem pagar pelos crimes que cometeram.
Comentários
Meu pai, de quem herdei meu sobrenome, já dizia : "Ninguém consegue mudar o rumo do vento. Nem paredões de cimento". O vitorioso na política está sempre no rumo do vento. Não o contraria. Sob pena de ser arrastado pelo tufão. Há pessoas que não conseguem enxergar (ou sentir) para onde vai o vento.
Irrepreensível o trabalho do seu blog Giulia. Defende a Educação, é intolerante a Impunidade e com a falta de responsabilidade de profissionais da educação que lidam com verbas. Há algo mais a olhar, porém. As investigações oficiais encaminham-se para a conclusão de uma delinquência civil, de um grupelho tentando ganhar dinheiro fácil. É possível. Não devemos nos esquecer, contudo, que pode ter havido algo mais importante. Por que não pensar numa tentativa de desmoralizar as denuncias, a provas e jogar para um futuro bem mais distante a apuração para desvendar a verdade dos fatos, tornando as denuncias e as provas inconsistentes. O fim das Apurações como conhecemos hoje põe em xeque um dos melhores "negócios" (sim, com a carga pejorativa que esta expressão carrega) da mercantilizada educação estadual de SP. Segue a mesma linha e tem a mesma intenção das tentativas de desqualificar as provas existentes que a policia federal investiga e deixa nas escolas para os alunos o ônus do abandono e o descaso.
Joaquim Garcia Soares de Melo
Nota fiscal fria é aquela que tem tudo da nota fiscal legal, isto no que concerne às formalidades intrínsecas e extrínsecas, exceto sua autenticidade. São emitidas engenhosamente com o fim específico de fraudar o fisco. Sua falsidade está ligada diretamente ao pseudo-emitente que, na maioria das vezes, foi um contribuinte, que um dia nasceu, viveu e morreu para o Estado. Toda via sua morte deu-se apenas de direito, isto por força de um ato administrativo. Este contribuinte, não tendo recolhido os talonários quando do encerramento de suas atividade à repartição fiscal, conserva-os para ofertar crédito fiscal para outras empresas, envolvendo uma transação tipicamente de "conluio".
ENTRETANTO PARA A SEE -SP NO TOCANTE A DIRETORIA DE ENSINO DE ARARAQUARA TUDO É:
Vox clamantis in deserto – "A voz daquele que clama no deserto." - Cita-se em relação a pessoa cuja pregação não é ouvida.
Elias Fernandes
A pomba com sede
Uma pomba acossada pela sede, ao ver uma taça de água pintada num quadro, pensou que era verdadeira. Desceu com impetuosidade, chocando-se contra o quadro. Quebrou as pontas das asas, caindo por terra e sendo agarrada por alguém. Moral da história : certas pessoas, arrebatadas pela violência das paixões, aventuram-se de maneira irrefletida nos empreendimentos, correndo, sem o suspeitarem, em direção à sua própria ruína. Esta breve fábula de Esopo é um alerta a políticos, "EDUCADORES" aventureiros, oportunistas e quetais... Cuidado : vivam cada átimo de segundo, dando ao tempo o seu ciclo de vida. Sem estrangulamentos. Cada coisa no seu lugar e em seu devido fuso horário.
IMPUNIDADE GERA VIOLÊNCIA, INDIGNAÇÃO, DEGRADAÇÃO E A INVERSÃO DE VALORES.
Henrique Meirelles Cunha
Sobre reis
O rei de Uganda comia sozinho. Ninguém podia vê-lo comendo. Uma de suas mulheres dava-lhe a comida. Mas tinha de virar o rosto. "O leão come sozinho", dizia o povo. Quando não gostava da comida, mandava chamar o cozinheiro e espetava a lança em seu coração. Se uma servente tossia durante a refeição, era castigada com a morte. Se alguém entrasse de repente, também morria. E o povo dizia : "o leão matou três enquanto comia". (Elias Canetti)
Isabel Maria Silveira de Matos
NA PRÁTICA, QUASE NENHUM PROFESSORE RECEBE MAIS VALE ALIMENTAÇÃO.
PROFESSOR SOFRE !!!!!!!!