A escola tabu nº 8 - Mensagem de uma inspetora de alunos


Recebemos a seguinte mensagem de uma inspetora de alunos da rede municipal de São Paulo:

Meu nome é Rosely. Estudo pedagogia e acredito na educação como meio de transformação social... Sou inspetora de alunos de uma escola pública de São Paulo, com profissionais desgastados e indiferentes. A escola é vitima das aulas vagas... fico em média umas cinco aulas por dia nas salas por conta das faltas de professores, junto com outras funcionárias e substitutos.... Todos os dias faltam professores e nós somos jogados na sala de aula (detalhe, nosso cargo exige apenas o fundamental completo!!), sem nenhum preparo pedagógico, sem atividade, apenas para "tapar buraco". Um descaso dos coordenadores e diretores para conosco e com os alunos, apesar deles gostarem bastante de ficar sem aula...
Esse é um grande problema pra mim, que está me atingindo pessoalmente, e estou tentando encontrar soluções...

É revoltante o que se passa na escola... Toda aquela esperança de encontrar um ambiente totalmente educacional se tornou o choque de ver a realidade de que a escola é depósito de crianças...uma professora até me disse que nao há diferença entre as escolas e a Febem, agora Fundação Casa...

Gostei muito das mensagens de voces!! E gostaria de saber tambem se além do blog vocês atuam na area de educação de outra forma, achei o discurso de vocês bem consistente. Estou procurando exemplos e orientações para a minha atividade atual e futura, e vocês tem uma postura politica bastante ativa. Finalmente encontrei um movimento real pela educação na internet!

Segue a resposta que enviamos à Rosely, que se identificou mas cujo nome preservamos para evitar perseguições:

É muito raro e um prazer receber depoimentos como o seu! Se isso lhe servir de consolo, a realidade que você vive é generalizada: as escolas que "oferecem" aos seus alunos poucas aulas vagas são exceções que confirmam a regra. E NENHUMA escola pública se preocupa em dar ou repor TODAS AS AULAS para seus alunos.

Infelizmente não confiamos nem um pouco no secretário Alexandre Schneider, ele tratou com muito descaso umas mães de alunos que foram levar sérias denúncias para a Secretaria, permitiu que elas fossem "massacradas" em uma apuração preliminar que livrou a escola de toda responsabilidade e só não deixou que essas mães fossem processadas por injúria e difamação pela diretora da escola, porque sabe que colocamos a boca no trombone...

Se a Secretaria estivesse realmente interessada em ouvir as pessoas e resolver os problemas, a atitude mais sensata seria juntar pais e funcionários da escola para uma visita ao gabinete, pedindo providências. Mas depois do que passamos em nossa última visita à SME, nada nos anima a repetir a dose. Governo sem compromisso? A solução é dar o troco nas urnas!

Essa é a realidade, Rosely. Mas nós não desistimos! Quando a Secretaria da Educação não nos atende, ou atende a comunidade com descaso, vamos então à Câmara Municipal ou à Assembléia Legislativa e enfrentamos os Secretários em audiências públicas. Foi o que fizemos após nossa visita ao secretário Alexandre Schneider. Depois que percebemos que não adiantaria voltar à Secretaria, aproveitamos uma visita dele à Comissão de Educação da Assembléia Legislativa, fomos até lá e participamos da audiência, fizemos perguntas e enfrentamos publicamente o Secretário, inclusive nossas denúncias foram gravadas.

Nós somos, sim, um movimento real, apesar ou talvez justamente por não termos registro, não recebermos verbas de ninguém e principalmente não termos vínculo com partidos políticos. Somos ATIVISTAS pela educação, nosso partido é o aluno, aliás iniciamos este trabalho há vinte anos como pais de alunos. A experiência que acumulamos como pais nos ajudou depois a auxiliar todos os demais pais, alunos e membros da comunidade que nos procuram pela internet ou pessoalmente.

A aula vaga é de longe o maior problema da rede pública de ensino. Leia nosso post anterior Aula Vaga clicando aqui e veja como a questão é séria. A única solução seria que TODOS, pais, alunos, funcionários e professores sérios viessem a público relatar esse descalabro. Mas essa sua atitude é muito rara: aliás você foi muito corajosa em informar seu nome, que vamos preservar, porque temos certeza de que seria perseguida. Infelizmente uma andorinha não faz verão e este é o país onde a corda sempre arrebenta do lado mais fraco. Na escola é o aluno, o professor e o funcionário mais sério.

Temos certeza de que você vai ser uma excelente pedagoga! Já iniciou suas atividades dentro da escola de forma crítica e inteligente e tem respeito pelo aluno. O problema da rede pública de ensino é que se trata de um imenso cabide de empregos onde cada um faz o que quer porque falta fiscalização. Mas isso não preciso te dizer, pois você mesma já percebeu.

O que podemos lhe indicar é o estudo da legislação da educação. É nela que sempre nos apoiamos e é por isso que conseguimos resultados em nosso trabalho. Não adianta apenas criticar, é preciso fundamentar as questões e apontar caminhos. Na página inicial do nosso blog você vai encontrar aguns artigos da legislação. No site dos nossos amigo PaisOnline tem um link com toda a legislação da educação. Continue em contato!

Comentários

Renato disse…
Os professores, no Brasil, tem sido parte do problema, e não parte da solução. Por que é assim? Me parece que pela formação que se pratica aqui. Essa é uma questão sobre a qual os professores deveriam pensar, procurar conhecer a educação de outros países, em situação social e econômica semelhante à nossa, e descobrir qual a formação dos professores nesses países.

Uma pessoa conhecida, que é professora, odeia Serra, e diz que a Marta foi ótima para os professores. Pode até ter sido, mas o que isso tem a ver com qualidade da educação? Quem disse que um professor que ganha mais faltará menos, dará aulas melhores? Que outra categoria profissional tem o "direito" de faltar tantas vezes quanto os professores?

O ensino é péssimo porque os professores são péssimos, essa é a verdade. Um profissional ruim, ganhando mais e com mais "direitos", continuará ruim.

Outro aspecto chocante da "educação" atual é a violência. Trago uma reminiscência que pode ter valor nesse debate. Tento lembrar do trato entre alunos e professores, quando eu era aluno. Tento lembrar de algum evento de desrespeito entre alunos e professores. Lembro de um evento, uma professora do primeiro ano do "primário" (atual fundamental) que gritava com uma aluna que tinha dificuldade em aprender. Certamente uma profissional incapacitada.
Mas não lembre de mais nenhum evento assim. Havia, às vezes, desrespeito e violência entre alunos (bem menos do que existe hoje), mas após o 1º ano primário, nunca vi um professor desrespeitar um aluno, ou um aluno desrespeitar um professor. Hoje, chocam-me as narrativas de desrespeito mutuo entre alunos e professores.

Pensei sobre isso, e cheguei à conclusão de que a escola substituiu a disciplina pela violência. Uma espécie de acordo tácito. A escola não exige mais a disciplina, mas "em troca" tem o "direito" de desrespeitar.
Giulia disse…
Muito lúcido seu comentário, Renato. Eu sempre falo que é mais importante REFLETIR do que discutir. Discute-se muito, às vezes de forma agressiva, mas reflete-se muito pouco. Como você diz, a escola substituiu a disciplina pela violência.
Victor Zazuela disse…
É cara Giulia, infelizmente a exemplo de Cremilda parece-me que este canal também decidiu tacitamente pela eleição de docentes como algozes e responsáveis pelo fracasso e falência do ensino público. Só lhe digo uma coisa minha cara ninguém chegará a lugar algum com esta forma de luta. O ódio alimentado por alguns professores contra seus alunos e vocês contra aqueles só servirá para tautologias inúteis.
Pense bem!
Giulia disse…
Como assim, Victor? Ódio?... Menos, vai.
Victor Zazuela disse…
É cara Giulia, parece-me que a luta por uma educação de qualidade, inclusiva etc etc, não passa só pelo professor. Este muitas vezes é vítima também de um sistema arbitrário e perverso. Claro, muitos se acomodam e se viciam. Já disse e repito quantas vezes for necessário, na escola pública ninguém é inocente e dono da verdade, isso inclui Governo, Professor, Diretor, Funcionário, aluno e pais de alunos. Todos erram e muito, infelizmente.
Sempre leio aqui, e por este motivo parei de visitar o sítio da Cremilda, uma culpa atribuída sistematicamente ao professor, ao educador. Todos sabemos que não é bem assim. Mesmo os excelentes profissionais sofrem com alunos e famílias desestruturadas. A sociedade está também desestruturada. Se o problema fosse só o docente, seria muita fácil resolver todas a problemática da educação.
Vitor disse…
Victor Zazuela, você está enganado. Eu sou professor e acho que a Giulia não atua como você está dizendo. Ela é sim sensata e lúcida nas afirmações. Ela apura e argumenta com ideias. Acho que você está equivocado, Zazuela
Metas - Bernake disse…
Muito interessante!!! que bom saber que algumas pessoas que estão participando da educação pública, estão se mexendo, mesmo que seja oas poucos!!!

Victor vc só faz comentário estranho!
Giulia disse…
Victor, tenho o máximo respeito por você, mas acho que você sofre de um negativismo exagerado. Por acaso, você é de Portugal? Li comentários parecidos em blogs de lá. Se tem uma vítima nisso tudo é o aluno. Como é que o aluno menor de idade vai ser culpado?... A infância e a adolescência são justamente as fases em que a personalidade se forma. O exemplo do adulto é que é fundamental! No Brasil, espera-se que o professor (que supostamente teria um diploma universitário) seja mais bem informado do que o pai de alunos (com escolaridade menor), além de ser um PROFISSIONAL, que portanto precisa NO MÍNIMO respeitar seu cliente. Em geral, não é o que acontece e isso você pode ler nos próprios posts que publicamos aqui. Você leu o mais recente, sobre a professora da rede PARTICULAR que chama de burro o aluno de 7 anos?... Você acha que isso é exceção? Exceção é a mãe ter vindo a público informar o fato! Nós iniciamos este trabalho há vinte anos. Você sabe qual era a nossa expectativa? Que no máximo em DEZ ANOS tudo estaria nos eixos, ou seja, ensino público de primeiro mundo no Brasil. E hoje, além do marasmo em que se encontra a qualidade do ensino, ainda temos professor chamando o aluno de burro, expulsando ele da escola, faltando a bel prazer... porque pode! Porque não há fiscalização e a impunidade anda à solta.
Mas entenda bem: quando falamos de professor, não é apenas o que está em sala de aula, esse é o elo mais fraco da corrente: TRATA-SE PRINCIPALMENTE DO DIRETOR DE ESCOLA, DO SUPERVISOR DE ENSINO, DO ASSESSOR E DO SECRETÁRIO DA EDUCAÇÃO. Ainda hoje vou postar os desdobramentos da "linda" história de Barueri, rs!