Mais um tribunal ilegal numa escola!


Como costumamos dizer, o papel dos Conselhos de Escola está completamente desvirtuado: em lugar de serem instrumentos democráticos à disposição da comunidade escolar, tornaram-se tribunais ilegais para o julgamento e a expulsão de alunos. A história contada a seguir por uma mãe só teve um final feliz por ela ser... funcionária da educação. Por esse motivo, também, não estamos publicando seu nome. Mas temos certeza de que, se ela fosse uma mãe "comum", a supervisora da escola não teria cancelado a punição injusta do filho. Aliás, dois outros alunos foram expulsos e ninguém se preocupou com isso. O "crime", como de costume, foi o de soltar as famigeradas bombinhas de São João. Antigamente, tratava-se de uma travessura punida de forma pedagógica, mas hoje ela vale uma expulsão, por diretores de escola que conseguem manipular o Conselho e assim eliminar da escola os "elementos" indesejados, incentivando os alunos a dedurar seus colegas.

Essa é a escola que DESEDUCA e EXCLUI, ao invés de orientar e acolher o aluno. Quando depois ocorre uma invasão de ex-alunos revoltados na escola, pede-se a redução da idade penal!

Segue a mensagem da mãe de aluno que felizmente conseguiu reverter a punição do filho:

Meu filho foi acusado juntamente com outros três alunos de soltar bombinhas na escola. Todos alegaram inocência, mas a escola insistiu na acusação baseada em depoimentos de outros alunos (dizem eles).

Foi realizada uma reunião de conselho de escola onde apresentei várias ocasiões em que soltaram bombas e que meu filho não estava presente, inclusive de uma outra acusação em que foi provada sua inocência. Mesmo assim, o Conselho o considerou culpado. Foi decidido que um dos garotos seria advertido, meu filho seria punido com 6 a 10 dias de suspensão e outros dois alunos foram expulsos da escola. No dia em que aconteceu a reunião do Conselho de Escola, me senti totalmente humilhada.

Procurei o Conselho Tutelar da minha cidade, que entrou em contato com a escola para tentar resolver a questão, mas a diretora se manteve irredutível. O conselheiro me orientou a protocolar uma queixa que seria encaminhada ao Ministério Público.

Como eu queria resolver o problema e não complicá-lo ainda mais, protocolei a queixa na Diretoria de Ensino e a suspensão foi cancelada, com a garantia de que meu filho não sofrerá nenhuma discriminação ou tratamento diferenciado por parte da direção da escola, professores ou funcionários. A supervisora não concordou com a forma como o caso foi conduzido pela escola nem com o fato de utilizar depoimentos de alunos como prova.
Espero que este caso possa ajudar outros pais a buscar seus direitos, pois existem muitos abusos de poder nas escolas.


Comentários

VictorZazuela disse…
Trabalho na educação pública estadual desde 1992 e falo como alguém que tem experiência de ter vivido e presenciado várias reuniões de Conselho de Escola, portanto, não vou ater-me a teorias. Em primeiro lugar, a participação nos Conselhos de Escola é estimulada em muitas escolas, infelizmente não a maioria. Não há participação. Pais não comparecem. Alunos não comparecem. Então, chego à conclusão que essa concentração de poder, ainda que arbitrária, deve-se à ausência de pressão por parte da comunidade. Quem não participa não pode reclamar. Se queremos mudança na escola pública, temos de estar presentes SEMPRE. Não só quando o filho está sendo alvo de acusações. O Conselho é órgão decisivo e instância máxima.
Giulia, tenho percebido que a sociedade está calada, apática. Só mostra a cara, e às vezes nem assim, quando se sente prejudicada em seu umbigo. ESTÁ ERRADO. As questões tratatas em um Conselho tem que ser comungadas entre todos.
Esta é minha opinião.
Quanto ao caso, meu Deus, só porque o aluno era filho de uma funcionária. Quanta hipocrisia. E os outros então merecem tratamento diferenciado. Não posso afirmar quem está com a razão, mas penso que mais uma vez a DES(Educação) paulista mostrou sua cara!
Renato disse…
Cristãos perseguidos

http://www.deolhonamidia.org.br/Comentarios/mostraComentario.asp?tID=439
Giulia disse…
Victor, neste ponto concordo contigo. Falta pressão popular e isso eu posso testemunhar há vinte anos, quando meus próprios filhos estudavam na rede pública. O que talvez você não conheça é a forma como os diretores de escola "orquestram" a composição do conselho, que deveria ser um órgão democrático, onde os pares elegem seus pares e esses representam aqueles. Existem panelas inconfessáveis contra as quais eu lutei e continuo lutando pessoalmente. Os pais da rede pública não têm outra opção para mudar seus filhos de escola, a não ser em outra unidade do mesmo bairro, onde eles geralmente continuam sendo perseguidos, quando identificados como filhos de pais que reclamam dos abusos da escola. Esse é um assunto muito quente e tabu! No ano passado tivemos várias histórias muito interessantes, como a da EE Lucas Roschel Rasquinho, da EE Jardim Iguatemi e da EE Padre Josué, de São João da Boa Vista. Divirta-se procurando a enxurrada de posts que publicamos a esse respeito.
Viscondi disse…
Prezadas Professoras,

Sou pai e, por graça de Deus e muito esforço de minha parte e de minha esposa, são filhos maravilhosos e superestudiosos, sendo que meu filho mais velho é ganhador de medalhas nas olimpíadas de Física, Matemática, Quimica e Astronomia e acaba de ser contemplado com um curso no exterior.
Digo isso como introdução ao que vou comentar agora.

A vida em família é coisa mais importante do que se pode imaginar.

É no seio familiar que se forma a personalidade do indivíduo. É com o exemplo dos pais que a criança desenvolve os bons sentimentos e a retidão de caráter.

Mas, o que está acontecendo atualmente com nossas famílias?

Os pais não estão mais educando seus filhos e deixando esta responsabilidade para a escola e a rua. Porque digo isso? Pelo que vejo acontecer diuturnamente com os amigos de meus próprios filhos.

São criados (ou mal-criados) de forma totalmente livre, sob o argumento de não deixá-los crescer com "traumas". No entanto, esse excesso de liberdade tem outro fundamento: Trabalho e sobrevivência. Isso mesmo!

Veja, nos últimos 30 anos, com a corrosão dos salários (de um modo geral), as famílias que tinham pelo menos um dos pais dentro de casa acompanhando o crescimento dos filhos, educando-os e orientando-os no bom caminho, não puderam manter tal situação, posto que, com salários aviltados e o custo de vida em ascensão, tiveram de partir para a labuta (os dois).

Não havendo mais como sobreviver sem que os dois trabalhassem, não restou alternativa senão deixar os filhos sob os cuidados das escolas.

Só que não deveria ser responsabilidade das escolas educarem nossos filhos, isto porque não existem meios para tanto. Escola é importante na formação acadêmica, não na formação de caráter do cidadão.

Cabe aos pais esse papel. Mas, como já disse, a sobrevivência alimentar da família depende da ausência dos pais.

Assim, vemos cada vez mais, e digo isso a partir das coisas que vejo acontecer com os amigos de meus filhos, vemos que os estudantes cabulam aula para beber, desrespeitam os professores, desacatam as autoridades e os mais velhos.

Dizer que um aluno "colar" a professora na cadeira é brincadeirinha de criança, ou é ser ingênuo ou conivente com a falta de caráter desse aluno.

Aprendi desde cedo a ser respeitoso e consegui transmitir esse aprendizado aos meus filhos, coisa que não vejo acontecer em grande parte das famílias com as quais convivo. Não raro os vejo tratar, inclusive a mim, como se trata um cachorro, simplemente porque não deixei meu filho ir a uma "balada" regada a bebidas e drogas. Sim, meu filho foi alijado da "turma" por causa disso e eu desacatado e desancado pelos mini-marginais (e olha que sou abençoado por Deus e possuo uma ótima situação financeira que permite que meus filhos estudem em excelentes colégios particulares).

Vocês acham normal que numa escola de segundo grau, particular, com pessoas de bom poder aquisitivo, seja franqueadas festas regadas à bebidas, destinada à jovens menores de idade. Pois é o que vemos hoje acontecer.

O professor deve sim, tentar formar cidadãos, mas estes "cidadãos" não querem ser formados, pois tem como exemplo a "rua" e não o "lar".
Victor zazuela disse…
"Só que não deveria ser responsabilidade das escolas educarem nossos filhos, isto porque não existem meios para tanto. Escola é importante na formação acadêmica, não na formação de caráter do cidadão.
Cabe aos pais esse papel"
Visconde, Parabéns! Sem maiores comentários...
Giulia disse…
Gente, eu fico um pouco preocupada quando aparece um pai dizendo "meus filhos, graças a Deus...". Não podemos esquecer que o Brasil não é um país de primeiro mundo, onde aí sim, pode-se cobrar dos pais toda a responsabilidade. Eu me sinto extremamente desconfortável com isso. Meus filhos, "graças a Deus" também são supereducados e justamente por isso eu me sinto na obrigação de ajudar os "filhos dos outros", que possam não ter tido a mesma sorte que os meus! Essa coisa de bater no próprio peito e mostrar orgulho da própria competência em educar os filhos, em um país como o Brasil, é para mim falta de cidadania... Tem mais: a escola TENTOU DESEDUCAR meus filhos e Deus sabe o trabalho que tive para que isso não acontecesse! Só quem tem filho na rede pública e não se ufana da sua condição de superpai ou supermãe, sabe o tanto que as crianças e adolescentes são vítimas do descaso do sistema. Bastam dois ou três professores mal intencionados durante a vida escolar de um aluno para acabar com sua vontade de estudar. Esses professores existem aos montes na rede pública, devido à impunidade. Já contei que minha filha caçula chegou em casa aos prantos, porque o professor de física falou para toda a classe que nenhum deles teria chances no futuro, pois aluno da rede pública nada pode contra aluno da rede particular. Isso aconteceu com minha filha, uma menina esclarecida mas sensível como todo adolescente... E aqueles que não têm os pais para aparar essas arestas? Então, senhores pais, vamos despertar um pouco a solidariedade?
Victor Zazuela disse…
Giulia, ainda insisto em comentar em seu blog porque tenho certeza que você, ao contrário de muitos que dizem compartilhar de tua luta são rancoros e mal informados, é uma pessoa equilibrada. Mas sabemos todos nós da importância da família. Não adianta, querida Giulia, tentar tapar o sol com a peneira. As famílias têm que ser chamadas à responsabilidade, Sim!
Imputar à escola as agruras de uma sociedade perversa é simplificar demais as coisas. Olha, Giulia, tenho quase 20 anos de trabalho em escola pública e te garanto que a incapacidade das famílias tem sido cadas vez mais explícita. Simplesmente jogam seus filhos na escola, como se esta fosse depósito de seres humanos. Ninguém quer mais ter responsabilidade sobre sua prole. Fácil isto, não!
Já que a família se eximiu a escola deve passar a substituí-la?
Isso é gravíssimo em minha opinião. Cabe à escola instruir e complementar a educação de casa, nada mais. Tratar com respeito a criança e adolescente (o que não tem feito em sua maioria, infelizmente).
Giulia disse…
Eu não tenho essa visão tão negativa sobre a família, Victor. Esse é um discurso iniciado pelos sindicatos da educação e acatado pela grande mídia. Eu acho que o mundo mudou, e mudou muito rapidamente. As famílias não se adequaram, com isto eu concordo. A escola, então, está hiperdefasada. Exigir que uma criança ou adolescente de hoje fique quieto como um cordeirinho copiando da lousa é uma tortura, no mínimo um desestímulo. Mas isso é o de menos: volto a falar da escola QUE DESEDUCA, da coordenadora pedagógica que rasgou e jogou no chão o caderno da minha outra filha, daquela professora que chamou uma classe inteira de "merda", da EE David Eugênio dos Santos, que torturou alunos moral e fisicamente durante anos, da EE Padre Josué de Mattos, que quase acabou com a vida e a saúde de uma família inteira, da EE Octacílio Carvalho Lopes, onde um professor chamou um aluno de bicha e recebeu o aval da diretoria de ensino. Enfim, este blog está no ar há 5 anos e já relatou inúmeros casos desse tipo. Infelizmente, nosso primeiro site, que também esteve no ar mais 5, sumiu definitivamente da internet, senão um bom SOCIÓLOGO poderia reconstruir uma década de desmandos na educação e tentar entender porque a sociedade brasileira permite esse tratamento para suas crianças e adolescentes. Eu sempre venho com a lengalenga de que faltam sociólogos neste país, parece que o papai Noel não me ouve, rsrs.
victor zazuela disse…
Giulia, eu sou sociólogo rs
Você tem toda razão em levantar e indicar as atrocidades praticadas pelos anti-profissionais dentro das escolas. São crimes que deveriam ser considerados graves e punidos exemplarmente. Mas Giulia no dia-a-dia as coisas são mais complicadas. As Diretorias de Ensino com seus Dirigentes, I-N-D-I-C-A-D-O-S, não dão apoio algum ao bom senso. Penso que vivemos uma época de uma triste realidade onde a família e seus valores estão em declínio. Não é uma visão negativa, é a pura realidade. Temos hoje pais e mães que não cresceram, frutos de uma geração amaparada pela irresponsabilidade, estimulada muitas vezes por uma legislação frouxa e teorias de educação familiar mais frouxas ainda. Ninguém quer mais ter compromissõs, responsabilidades. Assumir seu destino. Agora pense: imagine a visão de mundo e a prática cotidiana que incutem em seus filhos. Muitos profissionais também são dessa geração. É uma calamidade ver toda uma sociedade refém da violência e da falta de perspectivas. Mais triste ainda é ver que não estamos avançando, ao menos na Educação pública. Não defendo ideais utópicos nem compro discursos sindicais nos supermercados da vida. Tenho a convicção de este estado de coisas só alterará no momento em que houver um pacto pela paz. Mas a paz não é um direito, é uma conquista. Na conquista deve haver luta, compromissos, enfim, uma agenda de direitos e deveres de todos: Estado-Escola-Família.
Giulia disse…
Victor, eu sempre concordo contigo até um certo ponto. Você fala da gravidade do sistema educacional, onde as diretorias de ensino estão cheias de profissionais INDICADOS e digo mais, os DIRETORES AFASTADOS POR MAU COMPORTAMENTO também vão parar nessas LATA DE LIXO DA EDUCAÇÃO. Isso que você mesmo disse é mesmo grave. Diante desse problema dantesco, você resume a ópera voltando à responsabilização da família... Percebe que você faz uma inversão de valores? Pense como sociólogo, rsrs:

A questão da família ausente existe em todas as classes sociais, mas na rede particular de ensino os problemas não são DANTESCOS COMO NA PÚBLICA, estou errada? Então veja que é preciso refletir melhor! Seu ponto de vista é perigoso, pois foca no menor problema e afasta a atenção do problema principal.