Sobre a greve dos professores

Finalmente, uma fala sensata sobre a greve que penaliza a rede estadual de São Paulo. O texto é do professor Juarez Firmino. Obrigada, Juarez, pela sua colaboração!

O ano letivo que ainda não começou

Eles chegaram e apresentaram uma série de argumentos, disseram que a educação está um caos e arrastaram uma grande quantidade de seguidores... Mal o ano havia começado — reunião de pais, entrega de materiais escolares, montagem de horário, entrega e preenchimento dos diários — então houve a assembléia e a paralisação, mas com a adesão apenas em parte das unidades escolares e dos quadros docentes. A razão pela baixa adesão dos professores ao movimento foi dada passando-se a justificativa de que os dados estariam sendo manipulados pela Secretaria da Educação, e que os órgãos da imprensa estariam sendo “comprados” pelo governo e por esse motivo os fatos estariam sendo acobertados e não chegando ao conhecimento do povo.

Se de um lado a política governamental está sendo dura para com os servidores da educação como pressupõem alguns, de outro existem aqueles que acusam o movimento sindicalista de estar a serviço deste ou daquele partido político ou candidatura visando denegrir e, por conseguinte, prestigiar este ou aquele candidato ao próximo pleito eleitoral, ou seja, que a greve que já dura várias semanas tem cunho pretensiosamente eleitoreiro.

Enquanto as partes vagarosamente se digladiam em seus conceitos de democracia, ética e organização educacional, grandes contingentes de alunos continuam sem o direito básico de poder frequentar a escola.

Estabelecendo um instigante paralelo entre a questão eleitoreira e as reformas que estão sendo promovidas pela Secretaria da Educação, percebe-se que, coincidentemente, têm ocorrido algumas demonstrações de simpatia pela candidatura da oposição... A presidente do sindicato confunde a cabeça da opinião pública ao afirmar que a greve não é política, mas ora conduz as manifestações liderando os docentes grevistas que atacam a política educacional do governador licenciado, ora sobe no palanque da campanha “antecipada” da concorrente deste. Isto, como se fosse um fato normal, como se não estivesse em meio a uma greve para reivindicar direitos dos profissionais da educação.

Ao demonstrar tamanha descompostura diante dos fatos, percebe-se que nem o sindicato e tampouco o senhor secretário da educação não se sensibilizam com as dificuldades existentes e com os acordos que devem ser imediatamente implementados para que estas dificuldades sejam sanadas... Assim agindo, tem-se a sensação de que o descompromisso de ambas as partes seja oriundo de uma incoerência tal, que aqueles que à sua frente estão, nem mesmo sejam capazes de optar pela personalidade de Judas Tadeu ou Judas Iscariotes... Ou pior, confundem até mesmo a trajetória de Jesus Cristo perante seu compatriota Jesus Barrabás.

O governo estadual [que por sinal, está em fase de licenciamento] se mantém cautelosamente em silêncio, enquanto que o sindicato volta e meia ameaça radicalizar e estender o movimento ao máximo, insistindo que as aulas perdidas serão repostas. Como se isso realmente venha a acontecer, cabe-nos perguntar como, visto que experiências anteriores nos mostraram que as reposições de aulas aos sábados não conseguem empolgar os discentes e os índices de frequência são baixíssimos... Além disso, deve-se atentar para a quantidade de sábados livres do calendário letivo, pode ocorrer que os sábados disponíveis não sejam suficientes para tamanha reposição.

Comentários

Victor Zazuela disse…
Parabéns, professor Juarez Firmino.
Sua análise é justa, consciente, firme e direta.
Como sempre digo a razão de ser da Educação, o aluno, mais uma vez foi posta de lado por interesses eleitoreiros - de todas as partes.
Pobre Educação Paulista, pobre povo paulista!
JuarezFrmno disse…
Para ter acesso ao blog "Aprendendo a aprender" do professor Juarez Firmino e interagir com outras publicações, digite www.juarezfrmno2008sp.blogspot.com
Edilva Bandeira disse…
Meu amigo Juarez Firmino sempre propondo reflexões sensatas, inteligentes e pertinentes. Saudade de quando fazíamos o mestrado na UFMS e passávamos as tardes de 5ª e 6ª feira discutindo altas literaturas.....