A escola que deseduca - I


Vamos iniciar esta nova série de posts inspirados no artigo Perdão às mães, publicado em 29/04 pela Rosely Sayão, que ousou sugerir às escolas fazer uma reflexão crítica do seu trabalho. Em resposta, ela recebeu uma avalanche de mensagens desaforadas de profissionais "da educação".

Uma reflexão sobre o próprio trabalho cabe a todas as instituições e a todos os profissionais, não é mesmo?... Sim, menos à instituição escola, onde tudo é permitido, até mesmo expulsar uma aluna de 14 anos por "ser lésbica". Impossível? Não, essa foi a última denúncia que recebemos aqui no EducaFórum, questão delicadíssima que não vamos comentar, mas que mostra o despreparo e a irresponsabilidade do nosso sistema educacional. Diga-se de passagem que a escola em questão é particular e bastante cara...

Eu costumo dizer que o pior problema educacional, no Brasil, não é a qualidade do ensino. Enloqueci? O que pode ser pior do que estar nos últimos lugares do ranking internacional?...

A vivência de 20 anos a contato com essa "caixa preta" que é a educação no país me levou a perceber que a má qualidade do ensino é apenas a ponta do iceberg, ou seja, a parte visível de um fenômeno - eu diria - inconsciente na sociedade brasileira: o desprezo "dedicado" pela instituição escola ao aluno, motivo de sua própria existência.

A expressão mais usada na escola, desde que frequento esse meio, é esta: "A educação vem de casa". Trata-se de um lugar comum tão arraigado, que parece impossível imaginar que a escola possa... deseducar. Mas é o que mais ocorre nas escolas brasileiras, principalmente as públicas, onde os pais pagantes (sim, pagantes!) não têm muita noção de seus direitos e aceitam com resignação os maiores absurdos.

É disso que vamos falar nesta nova série. A escola deseduca quando

  • Coloca o aluno contra a família, através de expressões do tipo: "Tua mãe não te deu educação?", "Já falei pra sua mãe levar você no psicólogo", "Reclame com seu pai, que te colocou nesta escola, meus filhos estudam na escola particular".
  • Permite que maus profissionais gritem e tratem os alunos sem respeito, rasgando seu caderno, atirando sua mochila ao chão, batendo com a régua em sua cabeça, colocando-os "no elástico", chamando-os de ¨burro"¨, bicha" ou expulsando-os por motivo fútil, entre mil outras manifestações de perversidade.
  • Estimula a "caguetagem" entre alunos, ao buscar bodes expiatórios para sua incompetência pedagógica.
  • Discrimina alunos, levando os colegas a desprezá-lo e a praticar o bullying.
  • Discrimina os pais que reclamam ou denunciam os abusos da escola, fazendo intrigas contra esses pais ou levando alunos a assinar abaixo-assinados a favor da escola.
  • Abafa denúncias graves que envolvem a escola, com o pretexto de "não denegrir o nome da instituição".
  • Impede o acesso á sala de aula de alunos sem uniforme, obrigando seus pais a aderir a um comércio ilegal e abusivo, na maioria das vezes feito dentro da própria escola, que se tornou um mercado persa e não um lugar do conhecimento.
  • Sequestra mini-games, brinquedos, celulares e outros objetos sem devolvê-los à família do aluno.
  • Larga os alunos na rua por falta de professor em sala de aula, sendo que a escola é responsável pelo aluno durante toda a duração da jornada letiva.
  • Deixa de socorrer um aluno machucado, esperando os pais para que o levem ao pronto socorro, mesmo que esteja desmaiado.
  • Chama a polícia na escola para resolver problemas de ordem pedagógica.

Comentários

Metas - Bernake disse…
Hé Giulia, se esse post der 10% da repercusão que o da Rosangela deu, vamos precisar de mais alguns posts!!!

Esse tipo de coisa acontece muitos em nossos dias devido a irresponsabilidade de muitos pais, mas o problema é que muitos profissionais da educação usam isso como desculpa para agir de má com todos os alunos.

Mas é isso vamos brigando, e quem sabe as coisas melhrem por aqui.
Anônimo disse…
Não ví mais nenhum comentário no blog daquele jornalista, amiga do Dimenstein
Ela foi censurada por lá?
Que os comentários ali são maneiros, bem maneiros...
Até o Mauro aprendeu a andar pianinho....
Aquí ela explicou porque não comenta mais.
Se ela ler esse recado, vou buscar a resposta lá.
Giulia disse…
Anônimo, não entendi nada, rs...
Anônimo disse…
Mas é hein???
Não entendeu ??
Então tá.
Giulia disse…
Não conheço nenhum amigo do Dimenstein. Se eles me conhecem, bom saber, rs.
Anônimo disse…
A jornalista amiga do Dimenstein é a tal do blog "escola pública não é de graça"
O último post dela, o filhinho dela informa que não vai na apresentação da orquestra sinfônica
Segundo o filhinho da jornalista os seus colegas iam zoar o maestro, sujar tudo, jogando lixo no chão, e ele o educadinho ia morrer de vergonha.
Ela então aconselha o filho a ficar na dele se os colegas se comportassem assim.
Veio a surpresa.
Os colegas pobres da classe do filho da jornalista, não levaram canivete para cortar os estofados das carteiras,que aluno de escola pública segundo a opinião dele incutida na cabeça do filhote, era assim. Anda com canivete no bolso.
Não levaram canivetes,não defecaram no chão e nem jogaram porcaria no maestro.
Nussa ! a jornalista ficou surpresa...
Nenhum aluno se dependurou no lustres.
Essa é a idéia que ela passa ao filho dos seus colegas pobres.
Logo, logo eles se cansam de brincar de ver como pobre vive e ele vai para uma escola particular.
Que nojo ....
Os professores adoram o blog.
A cremilda já foi expulsa de lá, claro....
Cada uma que me aparece....
Giulia disse…
Anônimo, não costumo responder para anônimo, aliás, costumo deletar os comentários... Mas tudo bem, acho que você é bem intencionado.
Todos nós sabemos que no Brasil existe um preconceito contra os pobres, principalmente os favelados. E que aluno de escola pública costuma ser considerado como tal. Ponto pacírico.
Então, qual é a solução para isso?...
Anônimo, você está justamente criticando o início dessa reviravolta, aquilo que se chama de "ponto de mutação". É justamente o que está se passando com o filho dessa moça. Ela não sei se vai conseguir segurar o rojão, mas essa criança teve uma experiência fundamental: percebeu que a distância entre ela e os colegas não é tão grande quando imaginava. Experiências nessa idade são fundamentais. Depois de instaurado o preconceito, como resolver?...
Entende? Você está justamente criticando a soluçãO.
Glória disse…
Giulia, eu adorei o texto da Rosely Sayão e até publiquei no meu blog para outros leitores. Deixei um comentário lá no blog da Rosely:
Gente, que horror alguns comentários aqui e justamente os das professoras! Além da falta de humildade para fazer qualquer autocrítica, são infantis e pobres em seus argumentos. Sou professora aposentada e muitas vezes me pego com desejo de reencontrar meus primeiros alunos e suas mães, do início da minha carreira, para pedir perdão por meus erros, cometidos pela ignorância da falta de experiência e de orientação adequada. Todas passamos por isso. A diferença é que umas (uns) tem conciência e a maioria, não. Eu via minhas falhas e fui me esforçando para aprender e me corrigir. Acredito que depois de algum tempo me tornei realmente uma educadora. Como disse Guimarães Rosa "Mestre é quem de repente aprende". Mas se não houver reflexão e autocrítica, não há aprendizagem, continuam prepotentes e ignorantes até o fim.
16/05/2010 00:41
Giulia disse…
Querida Glória, eu havia visto seu comentário lá na Rosely. Você sempre faz a difeença!