Alguns visitantes alegam que estamos promovendo uma “cruzada” contra a escola. Nada disso: nosso objetivo é alertar a sociedade e a mídia sobre a hipocrisia da classe “docente” brasileira, quando sustenta que “a educação vem de casa”. Bem que gostaríamos de afirmar que a má qualidade do ensino é o maior problema da educação brasileira... Infelizmente não é!
Leiam a mensagem que recebemos de um pai de aluno, mais uma que mostra a incompetência pedagógica da escola. Preservamos a identidade desse pai, pois sabemos que seu filho passaria a ser perseguido imediatamente após a publicação desta postagem.
Bom dia.
Estive procurando na internet sobre o assunto de suspensão coletiva de alunos e encontrei este espaço. Tenho um filho com 14 anos, que atualmente está cursando o 1º ano do ensino médio.
Na semana passada, a sala toda foi suspensa, dividindo-se a classe da seguinte forma: 2 dias as meninas e os outros 2 dias os meninos.
A razão da suspensão foi que alguém atirou uma caneta na professora enquanto ela estava de costas, e não se sabe quem foi.
Portanto, a solução encontrada pela coordenação da escola foi a suspensão coletiva, para que os alunos viessem a denunciar o aluno que havia procedido de forma incorreta.
Acho um absurdo agirem dessa forma. Não podemos admitir que tentem forçar nossos filhos a serem delatores dos próprios amigos de sala, correndo o risco de serem agredidos na saída da escola.
Pretendo buscar o auxílio do Conselho Tutelar, porque acho que esta atitude está ferindo o ECA, e buscar também a Coordenadoria de Ensino. O que acham? Será que está correta a minha forma de encarar o problema ? Vocês já tiveram experiências desse tipo? Apreciaria muito se me respondessem essas dúvidas.
Muito obrigado pelo espaço.
Nossa resposta:
Prezado pai de aluno, tivemos, sim, inúmeras experiências desse tipo, aliás recebemos diariamente mensagens como a sua. Essa prática de suspender a classe em dias diferentes (meninos num dia, meninas em outro) é “padrão” na rede estadual de São Paulo e cansamos de alertar a SEE com respeito ao absurdo dessa manobra. Pior do que a própria suspensão coletiva, é a atitude de estimular a delação entre os alunos.
O caso mais sério que tratamos no EducaFórum foi a suspensão coletiva de uma classe em São João da Boa Vista, SP, a fim de que os alunos delatassem quem havia colocado fogo na lixeira da sala. Primeiro foram suspensas as meninas, depois os meninos. No ínterim, a diretora da escola promoveu sessões de delação que resultaram na acusação de uma aluna da classe como culpada pelo “crime contra o patrimônio”, que na verdade se resumiu em danificar apenas a lixeira da sala, no valor de R$ 2,00...
A diretora decidiu então suspender a aluna e agendou uma reunião de Conselho de Escola para votar sua expulsão (praticamente certa, pois na rede estadual paulista o diretor é presidente do Conselho...). “Infelizmente” para a escola, a família da aluna entrou em contato conosco alegando a inocência da menina, então iniciamos uma longa troca de informações para demonstrar a ilegalidade e a injustiça das atitudes antipedagógicas tomadas pela escola, desde a suspensão coletiva da classe, o incentivo à delação e a convocação do Conselho para crucificar e expulsar a aluna, nesse caso, aliás, inocente.
Como sabíamos que a menina era inocente? Pedimos que ela escrevesse uma carta para a Secretaria da Educação relatando em detalhes sua versão do que havia ocorrido na sala de aula naquele dia. Ela escreveu de forma sincera, alegou inocência e pediu um depoimento por escrito de quem a havia delatado. Menina inteligente, não? Já que ela não teve direito a defesa, quis saber quem a havia delatado. Não houve resposta, pois a menina era realmente inocente. E assim ela foi reintegrada à escola. Mas o estrago estava feito: a classe havia sido suspensa coletivamente durante 4 dias e a aluna acusada ficou em depressão profunda durante os quase 30 dias de suspensão, até a SEE se convencer de sua inocência. O mais grave é que todos os alunos da classe foram penalizados por duas sessões de 2 horas cada, em que a direção da escola os “espremeu” para que caguetassem a colega na ausência dela.
Isso se chama TORTURA PSICOLÓGICA, é muito comum nas escolas e funciona para “resolver” problemas que incomodam a direção. Já durante a suspensão coletiva da classe, inicia um movimento de delação em que os próprios pais de alunos pressionam os filhos para saber quem foi o “criminoso” que cometeu o fato que causou a suspensão. É muito fácil uma criança ou adolescente reagir falando qualquer coisa que ouviu, para se livrar da pressão. Quem conta um conto aumenta um ponto... Esse é o caminho que leva à calúnia, à maledicência, na melhor das hipóteses, à fofoca.
Prezado pai de aluno, não se assuste com o caso que relatamos. Mas tenha bem claro que o objetivo dessas suspensões coletivas é esse mesmo: expulsar o “culpado”, a fim de preservar a “moral” da escola, uma escola que não sabe lidar com o aluno adolescente e que o DESEDUCA.
Você entendeu direito: essa atitude da escola fere o ECA nos artigos
Art. 232 - É crime "submeter criança ou adolescente sob sua autoridade a vexame ouconstrangimento" (Detenção de seis meses a dois anos).
Art.233 - É crime "submeter criança sob sua autoridade a tortura".
Pretendemos visitar a Secretaria da Educação e levar seu caso como mais um exemplo do autoritarismo e da incompetência pedagógica da escola paulista. Tente reunir outros pais que entendam o absurdo dessa atitude e poderemos ir juntos. Aguardamos seu e-mail no endereço educaforum@hotmail.com
Aproveitamos para pedir aos visitantes do blog que encaminhem suas denúncias pelo e-mail e não através de comentários.
Comentários
Diaga o nome da escola.
Mas você reparou que a imprensa está "evitando" divulgar o nome das escolas denunciadas?
A imprensa também não cobra providências das autoridades...
No caso da professoras que jogou um apagador na cabeça do aluno (em São José do Rio Pardo-SP), a reportagem da Folha de SP deve a cara-de-pau de de escrever: "O secretário ainda destacou que a pasta não vai informar o nome da escola, para evitar que o trabalho dos outros professores e funcionários fossem "denegridos" pela acusação"...
Por que não publicou o nome da escola mesmo assim? Uma rápida pesquisa na internet diria o nome da escola: escola municipal Estela Maris Barbosa
A segunda fase é mais complicada: a punição. Em vez de uma atitude pedagógica, suspensão seguida por expulsão. Se você é professora, sabe disso! Eu nunca vi um caso que foi tratado de outra maneira. Se você souber de um, por favor me informe.