Leitura: hábito ou interesse?

Fala-se tanto da importância da leitura, mas nunca se chega a um debate interessante sobre o assunto. Parece que o país habituou-se a aceitar como fundamental o "hábito da leitura", essa coisa insípida e sem nexo que pode significar ler "uma pagininha por dia" de qualquer coisa, desde que se leia... Ufa, que chatice!!!

Será por isso que muitos dos nossos alunos - da rede pública e particular - costumam sair do Ensino Médio analfabetos funcionais? Eles até lêem, mas não entendem, não sabem comentar, nem mesmo criticar, mesmo se o texto é "um porre", rsrs... Para não falar de textos mal escritos, que não expressam absolutamente nada e obrigam a ler e reler várias vezes para se entender algo.

Fica a impressão de que tudo o que se publica é bom para se ler, tem nexo, lógica, atrativo, quando na verdade há toneladas de "lixo literário" por aí. E não estou falando apenas da assim chamada "literatura", mas também de textos técnicos e da mídia em geral.

Gostaria de saber a opinião dos seguidores do blog sobre isso, pois sou apaixonada pela leitura de certos textos e absolutamente desinteressada de outros, o que é para mim perfeitamente normal, pois é impossível e desinteressante ler tudo de tudo, não é? Para mim, a leitura parte de uma necessidade e termina na paixão. Se eu ler algo por necessidade e o texto não me agradar, deixo de lado sem o menor escrúpulo.

E você, lê? O que lê? É por hábito, interesse, paixão?

Comentários

Lembro-me que quando estava na transicao do primario para o ginasio, nos tinhamos que ler aquelas colecoes dos classicos da literatura como "Dom Casmurro", "A Moreninha", etc. Pra mim era uma tortura. Nao sabia por que tinha que ler aqueles livros, mas lia porque cairia na prova. Entao esta coisa de estimular o tal do "habito da leitura", eh colocar o carro na frente dos bois. Primeiro eh preciso despertar a curiosidade da leitura. Eh preciso que alguem sente do lado da crianca, leia um livro pra ela e ai converse sobre isto. Nao simplesmente dar o livro para a crianca e dizer: "To, leia o livro que vai ser bom pra voce!" Deste jeito vira uma coisa massante e a crianca vai detestar. Sera sempre o "ter que ler" ao inves de "estou curiosa para ver o que esta no livro". O ideal seria que o ritual da descoberta de para que que o livro serve comecasse em casa. Mas se nao comeca, na escola seria fundamental que os professores soubessem despertar o gosto nas criancas. Lembro que tive uma professora no cursinho que dava aula de Literatura Brasileira. Ela foi a pessoa que despertou em mim a paixao por ler. Ela contou a historia da "Hora da Estrela" de Clarice Lispector. Foi maravilhoso porque expos a interprestacao dela, com a paixao, com entusiasmo, de um jeito muito contagiante. Sonhava com as aulas dela porque sabia instigar a nossa imaginacao. Aquilo fez TODA a diferenca pra mim! A pessoa ideal para fazer alguem querer pegar um livro e ler eh aquela que tem paixao por livros, que tem uma relacao afetiva com o livro.
Concordo com voce que mesmo quem ama ler nao vai amar todas as estorias, todos os livros. Isto eh uma questao de identificacao nao so com a estoria, mas o a forma como a estoria foi contada pelo autor. Adoro os livros da Isabel Allende porque ela sabe contar uma estoria de um jeito fascinante, como se fosse uma conversa daquelas bem gostosas que a gente nao quer que acabe nunca. Agora, o livro dos "Lusiadas" nao faz o meu genero, apesar de eu amar livros e ler. Esta coisa de gostar de uma estoria ou autor e nao de outros acho que eh um jogo muito mais emocional do que racional.
Enfim, gostei muito que voce tenha abordado este assunto aqui. Ha muito a ser discutido a respeito, afinal eh algo tao fascinante. Os livros sao navios que tem o poder de nos levar para navegar em todos os tipos de mares e tambem tem o poder da maquina do tempo, de transportar a nossa imaginacao para o passado, futuro, tempos imaginarios, etc. Os livros sao possibilidades ilimitadas de descoberta, uma escola para nossa imaginacao.
Tudo de bom para todos e excelentes leituras! :)
Este comentário foi removido pelo autor.
Cláudia Isabele disse…
Em primeiro lugar, parabéns pelo blog! Tenho acompanhado a mais de um ano. Esse é meu primeiro comentário, mas é mais uma das minhas várias apreciações das publicações de vocês.
Bem,eu leio por paixão, por hábito e por interesse também, mas porque minha mãe sempre incentivou e me ajudou, sem preconceitos a encontrar o meu tipo de literatura, comentando comigo as impressões sobre os livros e sobre as leituras deles, me presenteando dicionários para que eu entendesse o que estava lendo. Minha mãe é professora - e hoje pedagoga - e me alfabetizou e transformou meus momentos de leitura em momentos associados ao prazer, fosse de comentar com ela, fosse de tomar chá, chocolate, suco e estar confortável durante as tardes em que lia, fosse na escolha dos livros. Outro dia um dos alunos dela do reforço disse que não gostava de ler. Eu disse a ele que ele não podia dizer isso, pois ele não tinha lidos os (inventei um número estrambólico como três trilhões) publicados na terra, ou tinha? Ele disse que não. Aí eu disse a ele "então se não leu tudo, não há como dizer que não gosta, você ainda não encontrou o tipo que você gosta". Foi engraçado, mas acho que é isso que falta, alunos participantes da escolha, menos normativismo no que é bom e deve ser "consumido", retirar a literatura do contexto de consumo normativo. Ler é encontrar-se com algo de ancestral e atemporal que liga você a quem escreveu aquele livro e isso, o encontro com esse espectro desse ancestral é muito pessoal, muito íntimo e é assim que deve ser conduzido. Pelo menos, acho...
Cláudia Isabele disse…
Ah... esqueci de dizer: Há ferramentas, até memso multimídia que podem ajudar na construção do prazer da leitura e o Skoob está entre eles. É uma rede social de leitores que tem ferramentas bem legal de composição de estante e histórico de leitura, muito bom1 Quem sabe vocês não dão uma olhada lá e escrevem uma análise sobre? Seria muito interessante. Torço para que aconteça: http://www.skoob.com.br/ !