Temos o prazer de apresentar, a seguir, texto recebido do escritor Haroldo Barbosa Filho, autor do livro Yamiuna, iniciando uma oportuna discussão sobre a literatura oferecida às crianças e aos jovens no Brasil. Agradecemos ao Haroldo pela colaboração e esperamos que a reflexão possa ser útil aos pais e aos seguidores do blog. Boa leitura!
Quando nossos filhos têm que começar a aprender a verdade?
Quando nossos filhos têm que começar a aprender a verdade?
Todos os pais passam pela mesma situação: um dia, aquele “toco de gente” chega com a pergunta: “Mãe (pai), como nascem os bebês?” Há pais que, num misto de vergonha, pudor, omissão ou pela própria formação recebida, passam a contar histórias envolvendo cisnes, repolhos... Mas há uma corrente que prefere agir de forma absolutamente transparente, explicando como as coisas realmente acontecem; claro, levando em conta certos limites, impostos pela própria idade da criança.
Com a literatura, especialmente a didática e paradidática (à exceção das obras de caráter ficcional), acontece a mesma coisa. Como dar início à abordagem de temas que envolvem, por exemplo, nossa história? De uma forma um tanto (ou muito) fantasiosa, deixando que numa fase mais madura os alunos descubram a verdade? Ou já expondo essa verdade, mesmo que adequada ao nível de entendimento correspondente à faixa etária que receberá a informação?
Pois bem: no início de meus tempos escolares, aprendi, por exemplo, que Cabral descobriu o Brasil (e só depois, muito depois, que na verdade houve uma posse territorial) – como se antes de 1500 esta porção de terra de dimensões continentais fosse absolutamente desconhecida do restante do planeta. No Brasil colonial, por sua vez, os portugueses eram os bonzinhos e os outros povos que aqui estiveram, como os franceses e holandeses, totalmente maus (invasores). Tiradentes, então, era um cara barbudo (à feição de Cristo – sic), mesmo atuando como alferes. Mais uma: a Independência ocorreu como descrito na tela de Pedro Américo, com o “galante” Dom Pedro rodeado por uma tropa que nem existia em 1822. E por aí, vai, numa somatória enorme de fatos mal contados e distorcidos.
E quanto ao autor didático e paradidático?
É claro que os fatos históricos têm sido narrados de acordo com a conveniência de cada época.
Ora, esta não é a época da abertura, de mudar isso? Então, penso, nada melhor do que aproveitar para contar a verdade, desde cedo, aos alunos.
Mas nas escolas, principalmente as públicas, isso é desejado? Ou é preferível continuar “ensinando” história a partir de descrições frias, onde vale a decoreba de nomes, datas e locais de acontecimentos que “não são passíveis de discussão” para, depois de uma prova, praticamente tudo ser esquecido?
Ah, surgiu a palavra “discussão”... Essa palavrinha dá uma dor de cabeça danada, pois ela é resultante de um ensinamento que faz o jovem pensar, se interessar mais a fundo, querer saber mais...
Sobre a pergunta feita há pouco: o autor de uma obra didática ou paradidática deve seguir o modelo “consagrado pelos experts”? Ou buscar o modelo certo em sua consciência, quer dizer, escrevendo a verdade?
Posso responder de uma maneira aos amigos: como autor, segui o caminho que julguei correto, na forma e no conteúdo. A obra não foi aceita pelo PNBE, embora faça parte do acervo de importantes escolas particulares.
Gostaria de ouvir as opiniões dos amigos a respeito – e aprender um pouco mais com elas.
Haroldo Barbosa Filho
Comentários
Quanto mais as pessoas adquirirem consciência e verdade, maior será o medo deles, e mais desesperadas serão as medidas para manter o gado assistindo a novela; até um ponto em que mesmo o mais ignorante vai perceber que tem algo de errado.
O problema é que esse ponto de ebulição só acontece com muitos através da miséria e do sofrimento.
Vivemos num mundo de cabeça para baixo, onde o errado é certo, a verdade é vendida como mentira lunática, e os educadores são condenados a viver incapacitados.