Expulsão: a palavra proibida

Você não vai encontrar a palavra expulsão em nenhum documento oficial da Secretaria Estadual da Educação de São Paulo. Pelo simples motivo que a expulsão da escola é ilegal, ela fere a Constituição Federal e o ECA, que garantem ao aluno "acesso e permanência na escola". Mesmo a palavra sendo proibida, a expulsão é praticada a rodo na rede pública de ensino, não apenas em São Paulo, mas em todo Brasil.

Mesmo que não fosse ilegal, a expulsão da escola é sinal de fracasso da instituição educacional, cujo objetivo é acolher o aluno e motivá-lo para o aprendizado. Esse fracasso é visível e não precisa ser comprovado através de estudos ou estatísticas, bastam aliás os índices IDEB e IDESP, que além do rendimento dos alunos levam em conta a evasão escolar, muitas vezes uma expulsão branca. Se você não sabe o que é uma "expulsão branca", clique aqui.

Bom, pela primeira vez em tantas denúncias de expulsão aqui recebidas, uma mãe de aluno ouviu da diretora da escola de seu filho que ele seria... EXPULSO, com todas as letras. É claro que em seguida a diretora quis morder a língua e logo consertou : seria "TRANSFERIDO COMPULSORIAMENTE". Na verdade, o aluno - não apenas ele, mas alunos de muitas e muitas escolas - ouviram diretores falar a palavra EXPULSÃO a torto e a direito, coisa que esses profissionais sempre negam, já que a palavra é proibida. Acontece que o testemunho de alunos nunca é levado em consideração, na rede pública! O aluno, que deveria ser o sujeito da escola, não é nem mesmo considerado digno de testemunhar a seu favor ou de seus colegas. As perseguições e represálias são ferrenhas! Mas, desta vez, uma mãe corajosa resolveu por a boca no trombone e enfrentar todas as consequências de sua denúncia.

O aluno estuda em uma escola da Diretoria de Ensino Norte 2 e está sendo perseguido desde o ano passado pela diretora. "Bocudo", como se diz na linguagem popular, não leva desaforo para casa. Entretanto é trabalhador, braço direito da mãe em sua agência de viagens e por isso estuda no período noturno, onde muitas vezes não pode entrar na segunda aula por chegar atrasado do trabalho. A mãe não é do tipo que passa a mão na cabeça do filho, entretanto, entende que a suspensão de 5 dias que ele recebeu por responder a uma provocação da diretora é suficiente como punição e que a expulsão é descabida. 

Arrogante, a diretora negou-se a atender mãe e filho para entrar em um acordo e agendou reunião de EXPULSÃO através do Conselho de Escola. Esse foi o termo que ela usou com o aluno e sua mãe. A reunião, porém, foi remarcada duas vezes e essa é uma estratégia que nós do EducaFórum conhecemos muito bem: primeiro, tenta-se ver se a mãe do aluno o transfere espontaneamente, para que ele não seja submetido à humilhação de ser "julgado" pelos seus pares e "mestres" (que mestres são esses, que se prestam a expulsar aqueles que deveriam orientar?...). Essa estratégia é excelente, pois, se o aluno sai da escola sem notificação escrita ou testemunhas, a expulsão não deixa rastros. Caso porém a mãe do aluno não transfira o filho, então agenda-se uma data definitiva para esse tribunal de exceção, versão contemporânea dos julgamentos em praça pública realizados em séculos passados.

Devido à intransigência da diretora, que negou-se a uma reunião de conciliação, a mãe do aluno esteve hoje na Diretoria de Ensino e protocolou um documento pedindo a reintegração do filho à escola. Cópia do mesmo documento foi por nós entregue na Chefia de Gabinete da Secretaria da Educação e contamos agora com a compreensão do Prof. Padula para que seja evitada mais uma ilegalidade na rede paulista de ensino.

E mais uma vez sugerimos à SEE que comunique a todos os diretores de escola que a EXPULSÃO de alunos, camuflada de "transferência compulsória", é uma ferramenta medieval que não se admite numa sociedade dita civilizada. Afinal, o aluno expulso tem três saídas: procurar vaga numa escola do mesmo bairro, onde ele vai ser discriminado como "aluno problema" que veio da unidade vizinha, ser recrutado pela marginalidade, sempre a postos para acolher os alunos expulsos, ou então abandonar de vez os estudos, como fez o pai de criação de outro aluno expulso, uma história que contamos há cerca de 6 meses, leia aqui.

E que se acabe de uma vez por todas com essa hipocrisia que admite a expressão TRANSFERÊNCIA COMPULSÓRIA e proíbe a palavra EXPULSÃO! Aliás, já questionamos aqui: se a expulsão via Conselho de Escola pode ser praticada para o aluno, por que então não é viável também para o profissional da educação?... Por que dois pesos e duas medidas? Leia o questionamento clicando aqui.

Uma última colocação: se o Brasil costuma jogar na marginalidade os seus cidadãos mais críticos e questionadores, aqueles que não se dobram diante de qualquer abuso de que forem vítimas, quando será que este país se tornará uma verdadeira nação?

Comentários

Marshall Bruce Matters disse…
Creio que essa não seja uma briga apenas dele, mas um briga de muitos alunos trabalhadores no Brasil, com o Apoio de algumas pessoas espero vencer a tirania e a Barbare de uma diretora ditadora, no qual impõe o que quer e quando quer, vamos unir força para acabar com isso, vamos unir força por nossos direitos. !
Denise.Pinto disse…
Boa Tarde!
Eu sou a mãe do aluno em questão e vou brigar dentro da lei por aquilo que é certo, pois vi nesta mesma escola uma semana depois do meu filho, mas um caso igual ao dele (que não tem infelizmente com conheçimento), que teve a transferência compulsória decretada e o referido aluno está sem escola e portanto vai abandonar os estudos.
Ai como mãe fico me perguntando se esta escola tem a finalidade de educar a todos ou só os selecionados. Falamos constantemente em cotas de negros, pobres, etc, não seria mas facil se em vez disso nos preocupassemos com a Educação no sentido total da palavra e não só no que se ensina na sala de aula.
Assim teriamos menos desistentes
e mas alunos públicos nas grandes faculdades não por cotas, mas por serem estimulados a vencerem as dificuldades e assim se sentirem capazes de lutar, mas infelizmente o que estou sentindo na pele é ao contrário deu trabalho, se livra do aluno e assim o que teremos em vez de um futuro universitário teremos um analfabeto funcional que desiste de lutar por não acreditar no sistema.
Vou brigar portanto não só pelo meu filho, mas por aqueles que não tem a sorte de ter uma mãe que conheçe os seus direitos.








Giulia disse…
Olá, Marshall, essa seria uma briga de muitos alunos trabalhadores, se... eles tivessem força de lutar. Muitos desistem ou quase, por desespero, veja por exemplo esse caso, onde tivemos que tirar do ar a matéria do aluno porque as perseguições da diretora estavam insuportáveis e ele achou que ela o boicotaria até perder o ano letivo, então só recolocamos a matéria no blog após a formatura dele! Como você diz, precisamos unir forças, e haja forças!!!
Giulia disse…
Que bom, Denise, que há mães como você, que lutam não apenas pelo seu filho, mas por todos! Essa é a melhor luta até para seu filho, acredite. Afinal, que mundo queremos deixar para eles? Uma andorinha não faz verão e de gente olhando apenas para o próprio umbigo o Brasil está cheio!
Anônimo disse…
O problema que esses alunos convidados a se retirar cometem atos infracionais que por serem "menor" não é considerado crime. A escola não tem assistência para lidar com atos assim. Portanto acho justo que a direção indique outra escola, para ver se o aluno modifica o seu comportamento. Na maioria das vezes alunos que são convidados a se retirar cometeram algo grave, como ameças de morte, violência contra colegas de classe, professores e funcionários, roubos, drogas etc etc etc Não é discriminação, mas os pais estão muito ausentes querendo que a escola alem de ensinar eduque e aguente violência que seus filhos cometem!
Savio de Paula disse…
O que o menino em questão fez para ter sido expulso?