Respeito ao aluno. Um bom começo! 1ª parte


Por incrível que pareça, após um quarto de século lutando contra a falta de respeito de que nossos alunos são vítimas em todo o país, na maioria das escolas públicas ou particulares, muitos ainda questionam a nossa "falta de compromisso" com a qualidade do ensino. Dizem que deveríamos trazer aqui textos de grandes educadores, mencionar métodos de ensino que dão certo, trazer as experiências de grandes ONG da educação que, segundo eles, fazem a diferença no país. Isso daria ânimo, esperança...

Não, ainda não chegou essa hora, infelizmente. O buraco ainda é muito, muito mais embaixo. A falta de respeito ao aluno, principalmente pela criança em fase de alfabetização, e depois pelo adolescente, que sequer consegue terminar o curso, em todo o Brasil, é de uma gravidade tamanha que virou assunto TABU.

Quando você ouve aquele chavão de que "Educação não é prioridade no Brasil", o que é que você entende? Um minuto de silêncio para reflexão...

Pois é, trata-se de um chavão mesmo, com o qual todos concordam, mas o assunto é tão grave a ponto de enxergar-se apenas a ponta do iceberg. Então fala-se genericamente em "Falta de vontade política", "Não se investe em educação", "Os salários são miseráveis", "Escolas caindo aos pedaços", "Falta de materiais pedagógicos", "Profissionais incompetentes", "Faculdades de Educação mal geridas", "Manipulação ideológica nas escolas",  "Falta infraestrutura", "Falta segurança" etc.

Mas, no fundo, tudo se resume a um único, enorme problema, sobre o qual não se fala: a falta de respeito ao ALUNO. O aluno, esse para quem a escola deveria existir, costuma ser o grande ignorado nessa questão central que é a educação básica.

Procure em todos os jornais e revistas matérias sobre educação durante os últimos anos e veja quantas vezes se falou no ALUNO. As manchetes são parecidas com as frases que estão aí em cima, entre aspas, e os assuntos são tratados de forma abstrata. Sobre o aluno não se fala! A exceção está sendo justamente este ano, mais exatamente desde o final do ano passado, com o início do espetacular movimento das ocupações das escolas. Nesse momento histórico, o próprio aluno, menor de idade, se cansou de ser tão desrespeitado e tomou a iniciativa de se apropriar do que é dele de direito, mas lhe foi negado de fato, durante décadas.

A grande mídia nacional fez de tudo para não ter que dar a devida atenção a esse movimento, ou seja, ao seu protagonista, o ALUNO. Mas não teve jeito! Essas meninas e meninos (mais meninas do que meninos!) foram tão corajosos, seguros e assertivos que não deu para passarem despercebidos e justo agora acabam de conquistar, na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, a CPI da Merenda, algo que caberia a nós, adultos e responsáveis, termos corrido atrás.


A impressão que se tem é que esse movimento dos alunos, algo absolutamente inédito no país, recebeu o apoio da grande maioria da população, mas trata-se apenas de impressão. O que muito ajudou a manter o assunto em pauta foi a repercussão na mídia internacional, principalmente o apoio de estudantes do mundo inteiro, da Unicef e de muitos outros órgãos internacionais. Outro ponto "positivo", por incrível que possa parecer, foi a absurda repressão policial contra crianças e adolescentes, que escancarou ao mundo todo o autoritarismo do governo estadual de São Paulo, mostrando que a repressão exercida nas ruas é o reflexo do que se passa nas escolas e no sistema educacional como um todo.


Na realidade, devido ao autoritarismo interno nas escolas, os alunos PROTAGONISTAS ainda são muito poucos e em seu dia a dia lutam com inúmeras dificuldades, desde a clara perseguição nas escolas que frequentam, a inveja ou o preconceito por parte de colegas, dos pais de outros alunos e até de familiares.

A verdade é que o aluno começou a receber respeito da sociedade POR MÉRITO PRÓPRIO e não pelos inegáveis direitos que lhe foram conferidos já desde a promulgação do ECA há mais de 25 anos. Sim, pois esses direitos lhe foram negados durante todo esse tempo e, se a pressão não continuar de forma constante, poderá haver retrocesso.

O que mais cansamos de fazer aqui neste blog é resumir e divulgar os direitos do aluno, através dos links: Resumo Leis e Cartilha de Direitos. Mas espanta o número de reclamações e denúncias que continuamos recebendo diariamente de todos os cantos do país, como se o respeito ainda fosse uma questão menor. Por isso o nome desta nova série de posts: Respeito ao aluno, um bom começo!

Apesar de estarmos há tantos anos divulgando essas denúncias e martelando nas mudanças necessárias, vamos começar tudo de novo e dividir esta série em temas bem definidos. O primeiro será A FALTA DE SOCORRO EM ACIDENTES E DOENÇAS NAS ESCOLAS. É o que mais nos preocupa atualmente, pois é o cúmulo do absurdo que alunos não sejam imediatamente socorridos nas escolas, quando ocorre algum acidente ou mesmo quando ardem em febre. Inacreditável, não é? Pois aguarde o próximo post.

Comentários

Anônimo disse…
Boa Tarde!!

Fiquei muito, mas muito feliz em encontrar este blog. Há algum tempo venho pesquisando leis e afins que embasem os direitos dos alunos, e confesso que é uma tarefa não tão simples como deveria. Trabalho em uma Escola Pública Municipal e tenho me sentido muitíssimo frustrada com a forma com que a Direção e Professores agem em relação aos alunos de um modo geral. Hoje mesmo, um aluno foi simplesmente expulso do ônibus escolar e mandado para casa andando, isso sem que a escola tivesse ao menos avisado aos pais. Tal fato ocorreu na porta da escola, antes mesmo do ônibus dar a partida. O que vejo são alunos desmotivados, que acabam vindo para a escola apenas pela obrigação legal que lhes é imposta, e professores absolutamente desinteressados em relação as verdadeiras necessidades de tais alunos. Aqui há uma coletânea de abusos e arbitrariedades acontecendo. Expulsões de alunos, suspensões em que o aluno apenas é enviado para casa, proibições que só valem para alunos, professores que não cumprem plano de trabalho e reprovam alunos com base no "comportamento", muitas vezes sem levar em consideração o conhecimento...nossa, poderia listar tais fatos por horas eu acho. Minha posição é pouco confortável, pois além de funcionária, sou Agente Administrativo Auxiliar, tenho uma filha estudando no 9º Ano desta escola, por isso venho procurando me embasar legalmente para recorrer de tais atos injustos e ilegais. Por isso encontrar esse blog me deu um novo respiro de esperança, já que vejo que essa luta não é só minha!!

Muito obrigada!!