Respeito ao aluno, 4ª Parte. A escola negligente



A negligência, ou omissão, nasce da falta de preocupação com as necessidades básicas do aluno, ser em desenvolvimento confiado aos cuidados da escola. Diferente da falta de socorro médico, que ocorre frequentemente nas escolas públicas e pouco nas particulares, a negligência ocorre em ambas as redes e de forma muito ampla, desde a falta de cuidados com o aprendizado do aluno, a falta de acompanhamento psicológico nos conflitos entre os próprios alunos e entre alunos e professores, a falta de supervisão da disciplina na sala de aula e nas dependências da escola, a falta de cuidado na organização de uma excursão etc. etc.

Estes assuntos são principalmente espinhosos quando se referem a escolas particulares, pois a corporação é forte e a mídia muito omissa, assim tem-se a impressão de que a negligência só ocorre na rede pública, onde - sim - o aluno tem aulas vagas aos montes, pode ficar durante horas dentro de uma sala de aula sem supervisão, estando sujeito a brigas e acidentes, pode ser largado na rua a qualquer hora sem que a família seja avisada, além de poder passar de ano em ano sem aprender o mínimo, que é ler, escrever e fazer contas. 

Já falamos de forma exaustiva da negligência em escolas públicas de todo o Brasil, mas, se você ainda tiver alguma dúvida, veja os links ao pé da página. Hoje vamos tocar na ferida que é a negligência na rede particular, assunto que todos os pais de alunos conhecem muito bem, mas apenas um número mínimo se atreve a denunciar, pois a hipocrisia geral da classe média lhe impede de expor publicamente problemas familiares... Além disso existe um fenômeno típico da instituição escolar: quando os pais fazem alguma queixa mais séria, a escola costuma responsabilizar a própria família, alegando que o problema é a separação dos pais, a falta de interesse ou de limites da criança, deficiência mental do aluno, vida familiar desregrada etc. 

Em situações extremas, os pais mudam os filhos de escola e colocam uma pedra em cima do problema. Seria muito mais útil que colocassem a boca no trombone, para que a sociedade fosse informada também a respeito da negligência das escolas particulares. Isso mostraria que o problema é geral e não apenas da rede pública, inclusive permitiria fazer um "ranking" das escolas a serem evitadas, em contraposição ao ranking do Enem, que aliás é um engodo, como já demonstramos aqui.

Uma informação que não circula é justamente sobre as escolas de "alto padrão", essas que cobram mensalidades absurdas. Um caso exemplar é o da Maria Ligia, que pagava caro em todos os sentidos para manter o filho numa escola infantil "conceituada", mas tão negligente a ponto de não oferecer acompanhamento psicológico para resolver problemas pedagógicos e de colocar 24 alunos em classes de crianças de 4 anos!!! Leia com atenção a troca de mensagens com essa mãe, no post Escola de elite emburrece as crianças!

Outro caso muito revelador nos foi denunciado pelo pai de uma aluna do Colégio Magnum, considerado um dos "melhores" de Belo Horizonte, dentro dos rankings divulgados pela mídia. Esse colégio "de elite" faz jus ao apelido por ser elitista, como aliás a maioria das escolas de "alto padrão": se o aluno não corresponde aos requisitos desejados pelo colégio, ele é expulso - ou melhor, convidado a se retirar, uma expressão bastante conhecida por aqui... A escola pressiona a família de toda forma, exigindo que contrate professores particulares, psicopedagogos, psiquiatrias ou neuropediatras, para depois jogar a toalha e abandonar o aluno ao deus dará. Leia sobre este caso no post Viva a inteligência dos pais, dedicado ao pai de uma aluna que não deixou o barco correr e entrou com ação contra a escola. 

E agora leia o depoimento do aluno Thalles, do Colégio Santo Agostinho de Contagem, MG, considerado o "melhor" da cidade. Raramente recebemos mensagens de alunos tão brilhantes, mas não foi surpreendente saber que ele era taxado de "vagabundo" e que estava sendo ameaçado de expulsão. Entenda por que clicando aqui.

Como foi dito acima, os pais de alunos da rede particular não costumam denunciar abertamente a negligência e os abusos de que seus filhos são vítimas, preferem simplesmente mudá-los de escola. Entretanto, em casos extremos e por desespero de causa resolvem fazer a denúncia, mas sofrem muito com isso, pois a Justiça brasileira e até os Conselhos Tutelares costumam defender a instituição, em prejuízo do aluno. A instituição escola parece ser intocável!

Uma escola que tem recebido graves denúncias nos últimos anos é a Rudolf Steiner, em São Paulo, da linha antroposófica. Aos 12 anos, o aluno Christian, que estudava na instituição desde a educação infantil, foi "convidado" a se retirar, pois a escola alegou a impossibilidade de conseguir sua plena alfabetização. Deprimido, o aluno refugiou-se em jogos virtuais como o Minecraft, tentou outra escola onde ficou infeliz e finalmente mudou para a Lumiar, que soube resgatar sua inteligência, mas não conseguiu apagar o trauma da escola que o abandonou e onde estavam seus amigos de infância. Leia a história do Christian clicando aqui e saiba que outros pais de alunos denunciaram à Justiça a expulsão de seus filhos da Rudolf Steiner, mas não foram levados a sério...

Há algumas semanas o Fantástico mostrou a história absurda da aluna Victoria, coincidentemente colega de Christian desde a educação infantil, que em setembro do ano passado foi assassinada durante uma excursão da escola Rudolf Steiner a uma fazenda em Itatiba. Desde o início, o caso foi tratado como tendo sido um simples acidente, sem questionar a falta de supervisão dos profissionais da escola e a proibição de usar celular durante a viagem, o que poderia ter permitido à menina pedir socorro na situação em que se encontrava, aparentemente desorientada ou perdida pelos campos. Enfim, total negligência por parte da instituição... O inquérito foi reaberto por pressão da família, que nunca se conformou com as respostas dadas, e finalmente um novo laudo comprovou o crime: morte por asfixia mecânica. Em sua imensa dor, a família criou no Facebook a página Victoria Natalini Justiça, através da qual está recebendo o apoio de milhares de pessoas. Leia a história clicando aqui.

Uma coisa que nunca se comenta é que as escolas ditas "confessionais", ou seja, que defendem uma filosofia ou religião, são geralmente originárias de outros países, como as católicas, antroposóficas etc. Em seus países de origem, essas escolas costumam cobrar mensalidades simbólicas, pois o objetivo é a difusão de sua filosofia e não o lucro. Quando porém chegam ao Brasil, tudo muda de figura, como no caso do Colégio Santo Agostinho, da escola Rudolf Steiner (citados acima), e de outras "confessionais" que fazem da educação um mero negócio, sem dar aos alunos o respeito que merecem, além de infringir o próprio código do consumidor, pois não entregam o que prometem.

Se assustou ao saber desses casos ocorridos em escolas particulares? Então converse com pais de alunos e levará cada vez mais sustos...

Agora reveja alguns casos de escolas públicas que mostraram sua negligência:

Comentários

Unknown disse…
Gostaria muito de ter participado desse com as minhas péssimas experiência em escolas particulares. Não me calei, como a grande maioria faz, mas infelizmente, o caso foi arquivado, pois o MP/GEDUC, entendeu o caso como
desentendimento entre família e escola. Não era, mas não deixei de fazer a minha parte. Não obstante, depois disso, passei também por absurdos na Lumiar, e em uma outra Escola, que cobrava mais de 200% do valor da mensalidade pelo simples fato do meu filho ser diagnosticado com TDAH.
Giulia disse…
Olá, Rogeria, Pode mandar seu relato, sempre há um jeito de encaixar em algum post futuro, e também publicá-lo nos comentários, geralmente quem lê o post costuma se interessar também pelos comentários. A única restrição é que os comentários são moderados, pois quando eram livres você não imagina o que entrava de xingamentos e calúnias no blog! Decidimos fazer a moderação porque percebemos que as pessoas sérias estavam desistindo de acompanhar os posts. Quem manda esses comentários mal educados o faz de propósito, para acabar com o blog... Mas o seu será publicado com certeza. Um abraço!
Giulia disse…
Depoimento recebido do pai da menina Victoria, João Carlos Natalini, sobre a tragédia que vitimou a filha:

"Lembro-me de que eram exatamente 20h, 16 de setembro de 2015, quando atendi ao telefone. Um dos diretores da escola Waldorf Rudolf Steiner me ligava. Como tinha um jantar, perguntei se podia retornar mais tarde. Ele disse que não. "É a respeito da sua filha. Ela sumiu."
Como assim, sumiu? Ele contou que ela estava com um grupo, separou-se e desapareceu. Isso foi às 14h30 daquele mesmo dia. "Mas por que não me avisaram antes?" Aos 17 anos, a Victória era tímida e até inocente. Não tinha namorados nem muita experiência. Era alegre, gostava de artes, com predileção por rock.
O Queen ia tocar em São Paulo naquele dia, mas, como ela estava numa fazenda em Itatiba [a 85 km de São Paulo], numa atividade curricular que valia nota, compramos ingresso para o show em Porto Alegre, na semana seguinte. Eu iria ficar noivo e daria a notícia à Victória nesse show.
Na fazenda, a atividade consistia num trabalho prático de topografia: medir e mapear o terreno com equipamentos e calcular a área.
Foram 34 alunos a campo, que trabalhavam em grupos de três. O dela tinha um menino e uma menina. Os grupos ficavam espaçados, sem supervisão. Não existia a mínima segurança no local. Havia várias casas de colonos, funcionários da fazenda, trabalhadores que restauravam uma igreja. Da escola, eram três topógrafos, um professor de matemática e a tutora.
A Victória já estava lá havia cinco dias, é difícil imaginar que tenha se perdido. O grupo só avisou a falta dela à tutora às 16h30. Procuraram, fizeram busca e nada. Quase às 18h, um dos topógrafos encontrou o boné de minha filha colocado sobre uma pedra. Ela não o abandonaria, pois tinha valor sentimental.
Cheguei à fazenda por volta das 23h. Foi uma noite horrorosa. Havia homens da Defesa Civil, das polícias Civil e Militar e um cão farejador. Passei a noite inteira em pé, esperando algum sinal de vida.
De manhã, o helicóptero encontrou o corpo num local bastante afastado da casa da fazenda. Fui o primeiro a ser avisado, choque imenso.
Havia escoriações nos cotovelos, num dos joelhos e no queixo. O laudo da polícia, inconclusivo, sugeriu morte natural, sem mencionar que doença teria acometido uma garota saudável de 17 anos. Ela fazia academia três vezes por semana, nadava, tinha alimentação regular e não era alérgica. Não consumira álcool, drogas nem sofrera agressão sexual.
Enterrei minha filha sem saber do que ela morrera. Mergulhei em depressão profunda. Durante todos esses meses só pensava em esclarecer essa história.
Busquei uma investigação paralela. Cheguei ao perito criminal Osvaldo Negrini Neto, ex-diretor do Instituto de Criminalística. Ele analisou o material, disse que parecia crime e me abriu o caminho até ao também legista Badan Palhares. Com o trabalho deles, tivemos como argumentar com a Secretaria de Segurança Pública e conseguimos trazer o inquérito para São Paulo.
Um novo laudo, desta vez do Instituto Médico Legal de São Paulo, atestou que a morte foi provocada por asfixia mecânica, contestando a conclusão do parecer inicial.
Houve a interrupção das vias aéreas, boca e nariz. Havia marcas no rosto. Segundo os peritos, ela deve ter sido morta em local fechado. Tudo indica que o assassinato ocorreu num local e o corpo foi encontrado em outro.
A escola só ofereceu homenagens vazias, como "Vamos nos vestir de branco". Eu a proibi de usar a imagem e o nome da minha filha. Se for assim, que seja para dizer a verdade: foi homicídio.
Existem elementos suficientes para indiciar a escola e a tutora, pois possuíam ciência do risco. Está na hora de a escola responder pela responsabilidade que lhe cabe.
Os detalhes sobre o caso podem ser acompanhados em campanha que lançamos no Facebook. Acesse pela página Victória Natalini Justiça."

JOÃO CARLOS SIQUEIRA NATALINI, 51, é engenheiro mecânico, pós-graduado em marketing pela Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM-SP)