Mídia nota zero - A série XVII - Barueri, a cara do Brasil!

Dizem que batemos sempre "nas mesmas teclas": o sistema corrupto ou excludente, a secretaria da educação omissa, a mídia conivente, a classe média olhando para o próprio umbigo, o diretor autoritário ou ausente, o professor preguiçoso ou perverso. Batemos, sim! Essas são as chagas que impedem a construção de uma escola pública de qualidade para todos.




Uma outra tecla na qual também sempre batemos é a corrupção dos municípios mais ricos do país com respeito à educação. Nas outras áreas do poder público essa corrupção é sempre menos evidente, mas na educação ela fica totalmente escancarada, devido à conivência da sociedade com a exclusão social e principalmente a escolar. Pois é: filho de classe média e alta estuda... na rede particular. Para que se preocupar com os filhos... dos outros?...

A corrupção fica, sim, escancarada, mas a sociedade não se comove, não reage e, pior, a mídia coloca panos quentes em cima dos maiores escândalos.

O vídeo acima retrata um fato "novo" em Barueri, um dos municípios mais ricos do país, localizado ao lado de São Paulo Capital. Barueri é velha conhecida dos nossos seguidores, desde que o secretário da educação, Celso Furlan, expulsou e xingou publicamente 41 alunos de uma única escola. Celso Furlan é irmão do prefeito de Barueri, Rubens Furlan, e ambos foram protagonistas de uma história de corrupção provocada e revelada pelo CQC em março de 2010.

O fato "novo" revelado no vídeo acima é um belo símbolo da exclusão escolar em todo o país: a proibição do acesso de alunos à sala de aula por falta de uniforme, um fenômeno absolutamente comum e completamente ilegal, conforme explica o Promotor da Infância e Juventude no próprio vídeo.

Por que, então, o título "Mídia nota zero", se o problema é a conivência da Secretaria da Educação com a injustiça e a ilegalidade da exigência do uniforme? Acontece que os jornalistas do Brasil, cujos filhos estudam na rede particular, costumam estar "saudosos" de seu tempo de escola, quando usavam uniformes bonitinhos e arrumadinhos, enxergando apenas o lado mais superficial da vida escolar. Não tem problema que o aluno da rede pública tenha aula dia sim, dia não, não tem problema que as poucas aulas sejam jurássicas e absolutamente desestimulantes, não tem problema que o aluno receba de seus "educadores" apelidos como laranja podre, ameba, filhote de cruz credo, bicha e outros, não tem problema que ele seja expulso por motivo fútil ou por seus pais se atreverem a criticar a escola, não tem problema que 50% dos alunos do ensino médio abandonem a escola, por expulsão ou "livre e espontânea pressão", não tem problema que o aluno se machuque na escola e não seja socorrido, nada disso tem problema: o importante é que ele vá à escola uniformizado, desde que o uniforme "não custe tão caro", como defende o jornalista Carlos Nascimento no final da reportagem exibida no vídeo, reportagem aliás muito bem feita, mas "broxada" no final pela fala irresponsável dos dois jornalistas, comentando a "importância" do uniforme para mostrar que "escola não é shopping". Até parece que a reportagem não mostra que mesmo num dos municípios mais ricos do país existem muitas famílias carentes! Nota zero para o jornalista Carlos Nascimento e sua parceira no jornal do SBT. Eles perderam a oportunidade de mostrar quem são os "donos" da cidade e como funciona a exclusão escolar nesse rico município. Quem será que fabrica e revende os uniformes escolares vendidos ao "preço módico" de R$ 55,00?... Uniforme que dá para apenas um dia da semana, obrigando a mãe a esfregar e secar a camiseta no calor do fogão, se quiser que o filho volte à escola no dia seguinte. Pois é: esse tipo de "rotina" nem deve caber na imaginação da loira e glamurosa âncora desse vídeo...

Não é de hoje que a mídia brasileira virou "água com açúcar"... Os âncoras se julgam mais importantes que a notícia e costumam terminar suas reportagens com falas ridículas e irresponsáveis como a do vídeo acima. Sentados em suas confortáveis cadeiras, em salas com ar condicionado, nem ao menos se preocupam em assistir direito as próprias reportagens. Nesse vídeo, por exemplo, tem uma mãe sorrindo (como o povo brasileiro é ingênuo, gentil e cordato!) com duas crianças em idade escolar e um bebê no colo, dizendo que vai ter que escolher qual dos filhos terá uniforme... Outra criança aparece chorando por não poder entrar na sala de aula por falta de uniforme... Reparar nesses detalhes da reportagem deve ser mesmo coisa de gente sentimental e antiquada! rs

Outro exemplo de exclusão que sempre mostramos aqui é Araraquara, mais um município de "alto padrão" e palco de um dos maiores escândalos de desvio de verbas do ensino do país.
Isto é Brasil!!!

Comentários

cremilda disse…
PUXA !!!
Esteve meio sumidinha e volta com toda sua força e coragem....
Bem vinda ao ninho...
Glória disse…
Giulia, excelente matéria! Você está uma autêntica jornalista. Parabéns. ( O meu comentário na postagem abaixo era pra este de Barueri...confundi o espaço)
mãe desesperada disse…
Olá pessoal do Educaforum,
Parabéns pelo site e pelo trabalho de vocês.
Venho aqui para denunciar de forma anônima o que está acontecendo na Escola Estadual Antonio Alves Cruz, no bairro de pinheiros, São Paulo.
De acordo com o site da escola, http://www2.uol.com.br/aprendiz/designsocial/alvescruz/index.htm, a escola teria melhorado muito com a ajuda da ONG "Aprendiz" e a diretoria estaria preocupada com o bem estar e desenvolvimento intelectual dos alunos. Tudo conversa fiada. Meu filho, que começou a estudar lá esse ano, me diz que:

-os alunos usam droga direto, mesmo de manhã, sendo que alguns professores deixam que eles enrolem baseado no meio da sala, contanto que não atrapalhem a aula. Fumar e beber dentro das dependências é prática comum, com anuência de funcionários
-a diretoria não se importa nem um pouco com nada que aconteça com os alunos.
-querem cobrar taxa de uniforme, sendo que sabemos que é contra a lei.
-os professores deixam os alunos saírem a bel prazer, e os funcionários deixam que eles saiam da escola, dizendo "se não me atrapalham, façam o que quiserem".

Por favor, façam alguma coisa para ajudar os pais desesperados com a falta de atenção dos pretensos "educadores"