Cotas para seres humanos!



Eu acho muito complicado classificar as pessoas por raças no Brasil. Suponhamos que baixassem no Brasil um decreto específico, dizendo: "Xuxa Meneghel é obrigada a reservar 50% das vagas de paquitas para afro-descendentes". Apareceriam no dia seguinte 20.000 loiras de olhos azuis mostrando o retrato de um vovô negão. Carla Perez, minha conterrânea, é uma loira artificial. Ela é mulata, filha de mulato, sem deixar de ser loira. Essa idéia das cotas embute, no fundo, uma visão equivocada: aquela que enxerga a questão da escravidão como um problema de origem racial.

João Ubaldo Ribeiro

Alguns brasileiros - infelizmente poucos - têm a coragem de vir a público divulgar raciocínios bem articulados como este. João Ubaldo Ribeiro tem toda razão: na maior parte das civilizações, os escravos eram brancos, aliás, os negros foram vendidos por outros negros, portanto o buraco é mais embaixo. João Ubaldo alarga a discussão: se uma pessoa é filha de um zulu com uma sueca, por que a "metade zulu" tem que prevalecer?...

É raro ver assuntos tão sérios serem abordados mais profundamente. Millôr Fernandes, outro cérebro do mesmo calibre, dizia que "livre pensar é só pensar...", o que é aparentemente muito difícil, visto a profusão de pronunciamentos inconsistentes, colados-e-copiados, que rolam por aí, principalmente a respeito dessa questão das cotas nas universidades, justo num país cuja maior riqueza é a diversidade racial.

O problema é que a discussão dos assuntos mais sérios não acontece nas ruas, nos bares, nas empresas, nas escolas. Ela é praticamente "fechada" pelos meios de comunicação, um contra, outro a favor de determinado assunto. No fundo, aliás, trata-se de uma guerra midiática. Assim, o que as pessoas acabam discutindo na rua não é o mérito de cada questão, mas a posição da Veja, da IstoÉ, da Época, aquilo "que o Bial falou, que o Dimenstein falou, que o Mainardi falou " etc. e tal. Hoje, os jornalistas são verdadeiros show men, nunca a mídia teve tamanho poder.

É triste que um assunto de tanta importância como este seja discutido de forma superficial, como um quesito de múltipla escolha: "você é a favor ou contra as cotas raciais?... ". Pronto, depois da resposta, já podemos mudar de assunto: falar da novela, dos crimes da semana, de futebol. Quando o assunto é política, vamos discutir - quando muito - os índices do ibope para a eleição, o botox presidencial, o desânimo geral.

Muito da superficialidade à qual se reduziu a questão da educação no Brasil se deve à falta de memória de fatos importantes, ignorados ou apenas "sepultados" pela mídia. Eu não tenho a pretensão de fazer o levantamento desses fatos, por ter chegado ao Brasil ainda adolescente durante a ditadura militar, assim não tenho conhecimentos suficientes para fazê-lo, mas permito-me colocar o dedo sobre algumas feridas. Ouvi muito falar dos Colégios Vocacionais, aqui em São Paulo, sumariamente fechados pela ditadura na década de 60. O artista plástico Evandro Carlos Jardim, de fama mundial, foi professor dos Vocacionais e relata suas experiências no livro Arte-Educação: da Pré-Escola à Universidade. Alguém se interessa por resgatar as experiências educacionais que já deram certo neste País?

Outra experiência que deu certo, sumariamente jogada no lixo no fim dos anos 90, foi o colegial técnico. Essa eu acompanhei bem de perto e lutei para que fosse preservada, junto com um grupo de pais de alunos que foi simplesmente esmagado pela "burrocracia" de Brasília. A rede Paula Souza tinha unidades que formavam alunos prontos para enfrentar o mercado de trabalho, nas mais variadas áreas técnicas. Nosso desejo era que a rede fosse ampliada e democratizada - já que o acesso era restrito - a fim de permitir oportunidades iguais a todos os alunos que não quisessem ou pudessem freqüentar uma faculdade após o ensino médio. Muito ao contrário: o governo federal decidiu extingüir o colegial técnico, obrigando os alunos a cursar primeiro o ensino médio, depois o técnico. Ou, então, a estudar em período integral - ensino médio de manhã e técnico à tarde. Mas quantos alunos brasileiros podem se dar ao luxo de estudar em período integral, numa idade em que já precisam trabalhar para ajudar a família?... E mais: quase não existem escolas de ensino médio tão próximas de escolas técnicas, que o aluno possa sair às 12h00 de uma e entrar às 13h00 na outra. E mesmo que conseguisse, ficaria sem almoço?? Todos esses argumentos foram colocados claramente para os "enviados" do MEC a São Paulo para "discutir a medida com a comunidade". Quanta hipocrisia! A medida foi baixada sem mais nem menos e hoje nem se discute mais o mérito da questão. Um país sem memória? Eu diria: sem "memória ram".

Hoje, a evasão nas escolas públicas de ensino médio é simplesmente espantosa e os 30% de alunos que conseguem se formar não receberam qualquer orientação vocacional . É claro que o ensino não deveria ter a profissionalização como fim último, no entanto não se pode fechar os olhos para o absurdo de uma escola totalmente desvinculada da realidade e da vida. E que ainda por cima não se envergonha de excluir e expulsar seus alunos! É preciso abrir o leque de opções para os jovens. Hoje eles não têm nenhuma! Em qualquer país do mundo há adolescentes que não pretendem cursar uma faculdade após o ensino médio. Por que eles precisam ser "obrigados"? Ou melhor, por que precisam ficar desencantados com a idéia de não poder freqüentar faculdade nenhuma? Esse é mais um chavão que passa de boca em boca nas ruas: "Quem não tem diploma universitário não tem futuro".

A questão das cotas nas universidades vem colocar panos quentes num problema muito mais grave: a falência do ensino fundamental e médio no Brasil. Além disso, fortalece o preconceito de que um jovem sem faculdade não consegue uma boa colocação no mercado de trabalho.
Cotas nas universidades para negros, brancos, mulatos, asiáticos?...
Não, cotas "decentes" para crianças e adolescentes em todas as escolas públicas do Brasil! E a volta do colegial técnico, que é a cara de um país onde há cinco engenheiros para cada técnico.

Enfim, cotas para todos os seres humanos deste País! Sem discriminação.

Comentários

Anônimo disse…
Giulia, eu escrevi no meu blog um texto que analisa mais ou menos o que você escreveu no post "Hoje eu quero colo!", sobre os alunos chamados de "laranjas-podres" ou coisa assim. Dê uma olhada, se possível. Se você quiser publicar algo neste sentido por aqui ou fazer um comentário por lá, seria importante para mim, uma vez que estou começando agora minha carreira de professor e talvez ainda não tenha visto tudo nesta profissão, muito menos lido tudo que eu queria ler sobre o tema. A pergunta que fica lá é se esses alunos que promoveram o quebra-quebra na escola em Guarulhos são mesmo questionadores ou não, comparados aos alunos que eu chamo de iconoclastas - estes sim, considerados por mim, alunos inteligentes. Veja o perfil que eu traço deles, baseado nas minhas observações em sala de aula.

Bem, manteremos contato.
bjs
Rodrigo
Rodrigo disse…
Giulia, a palavra Educação grafada daquela maneira é uma espécie de licença poética que simboliza a crise - da educação e, consequentmente, da língua portuguesa.

Bjs
Rodrigo
Anônimo disse…
Nossa, Rodrigo, nem eu sou tão pessimista!...
Anônimo disse…
Giulia,

parabéns!


Beijos

marta
Serjão disse…
Eu acho que já escrevi sobre isso. Eu não sou melhor do que ninguém Giulia. Mas eu acho um absurdo um aluno estudar a vida inteira em escolas de ponta pagando mensalidades caríssimas e estudar medicina na USP de graça. Eu creio que o ensino universitário público deveria ser pago para este tipo de aluno. Também acho que o aluno que estudou em instituições públicas durante toda a vida também não deveria pagar no ensino universitário público. Isso por si só valorizaria o ensino público fundamental e médio fazendo com que a classe média voltasse para a escola pública. Claro que a prova de acesso seria uma só e sem cotas. Apenas isso: quem vem de escola pública não paga nada. Quem vem de escola particular paga a mensalidade. me fiz entender ou está enrolado? (rs)
Um abração Giulia.
Anônimo disse…
Você tá certíssimo, Serjão! Mas o que não se pode é aceitar que a sociedade brasileira continue dividida em duas: uma minoria que estuda em escolas que lhe dão condições de entrar numa universidade pública (o "de graça" eu discuto, pois todo ensino público é muito bem pago, com o dinheiro dos nossos impostos!!) e uma maioria que é obrigada a estudar numa rede pública falida. Isto não é por acaso: o sistema escola pública/escola privada foi criado no Brasil para manter as distâncias sociais! Agora, a meu ver, o que não se pode é acabar de rebaixar a universidade pública (que fora as ciências econômicas e exatas é também ruim) ao nível do ensino básico do País. Dizem que a escola pública "antigamente" era boa. Antigamente eu não estava aqui para testemunhar, mas o que percebo é que ela começou a cair de nível porque as madames tiraram seus filhos de lá quando os filhos das empregadas tiveram acesso ao ensino. Então, a solução que eu vejo é esta: que a classe média volte para a escola pública (que é também muito bem paga com o nosso dinheiro, surrupiado por políticos corruptos) e exija qualidade! Também enrolei? rs
Anônimo disse…
Giulia,

Primeiro vamos acabar com o mito de que a escola pública é escola de “pobre”, a não ser que admitamos que 90% da população brasileiro é pobre. Com base no censo do MEC, do total de 25 milhões de alunos do ensino fundamental (1a a 8a série) apenas 3 milhões estudam em escola particular, ou seja, pouco mais que 10%. No ensino médio do total de 9 milhões de alunos, apenas 1 milhão estuda em escola particular, novamente pouco mais que 10%. Ou seja, a classe média já está na escola pública, quem teria que voltar a ela é a elite branca, os filhos e netos de gente como Luiz Norberto Pascoal, Viviane Senna, José Roberto Marinho, Ana Maria Diniz, Jorge Gerdau e o vice presidente do Itaú, o autoentitulado "educochato", Antonio Jacinto Matias, essa turma que reúne os maiores empresários do país e que justamente hoje (06/09) lançam às 11h30, nas escadarias do Museu do Ipiranga, em São Paulo, o movimento Todos pela Educação, um compromisso que segundo eles defende uma maior conscientização da sociedade com relação à importância do ensino de qualidade. Pessoalmente, estou até as tampas dessa elite (inclusive o Dimenstein e outros similares) que se acham no direito de pontificar sobre o ensino dos “pobres” e não tem nenhuma experiência prática como usuário das redes públicas. Vamos ver que bobagens saem desse movimento de hoje.
bjs
Anônimo disse…
Enrolei, sim, é a pressa. Eu tenho uma visão talvez diferente, por ter estudado em outro país e somente em escolas públicas, pois lá só estudam em escolas particulares os filhos dos artistas e dos diplomatas, aquele pessoal que viaja de lugar em lugar. Ah! E as escolas católicas, que porém são baratíssimas!!!! Eu mesma estudei numa, justo na primeira série, pois meu pai era muuuuito católico, mas ele pagava um valor simbólico, seria algo como 30 reais por mês (aqui é uma máquina de ganhar dinheiro...). Eu me lembro que no ginásio tinha duas colegas que faziam poesia juntas, uma era filha de um industrial e a outra era filha de uma faxineira. Você já viu isto no Brasil?... Muita gente já nem quer discutir comigo, já me discriminam de "estrangeira", mas eu acho que é da diversidade de opiniões que se pode chegar a algum lugar. Olha, meu filho só estudou em escolas públicas, teve que fazer dois anos de cursinho e não conseguiu entrar na matemática da USP. Chegou porém em primeiro lugar no Mackenzie e ganhou uma bolsa integral, por ter sido aluno de escolas públicas. No meio do ano me disse: "Mãe, não dá, é muito fraco". E felizmente conseguiu transferência para a USP. Perdeu mais um ano, mas acho que valeu. Eu fico muito preocupada com essa tendência de querer ser "bonzinho" e "facilitar" a vida das pessoas. Será que facilita, você entrar numa universidade meia boca e se tornar um profissional meia boca também? Aliás, eu nem acho que seja necessário freqüentar uma faculdade. Eu só tenho o ensino médio, feito na Itália, não estudei português e cá estou eu escrevendo na minha "língua filial". Sou um gênio? Claro que não, apenas tenho objetivos e vou atrás. E se tivesse que voltar atrás, também não faria faculdade. Eu acho que precisa é dar opções aos jovens, quanto mais cedo melhor (não para decidir, mas para experimentar) e, principalmente, um ensino básico sólido. Enquanto não chegarmos a isso no Brasil, nada feito! Eu não consigo pensar de outra forma. Vamos continuar nivelando a educação por baixo? Câmbio!
Anônimo disse…
Nossa, Giulia! Nossa! Eu escrevi EducaFórum lá no meu blog sem o acento!!! Você não acha que eu deveria ser preso ou processado por falsidade ideológica??? Afinal, meu blog se chama PROFESSOR DE PORTUGUÊS - que horror :)
Anônimo disse…
Oi, Caroline, parece que estamos no msn, hein? Essa história de "rico" e "pobre" cabe bem no contexto. 90% da população brasileira é pobre sim e isso envergonha (embora eles não sintam vergonha nenhuma...) os demais 10% que se lixam para isso e vivem da desgraça dos outros. Mas ser pobre não é vergonha!... Uma vez o Elio Gaspari escreveu um artigo chamando de "pobres" os pais de alunos de escolas públicas. Mandei uma mensagem contestando e ele respondeu como se eu tivesse ficado ofendida por me chamar de pobre. Retruquei dizendo que muita gente relutava em colocar seu filho na rede pública justamente para não ser chamada de "pobre", o que é no mínimo pobreza DE ESPÍRITO, mas que o artigo dele reforçava o preconceito. Já vou enviar novo post contando outra história de jornalista. Ê verborragia infernal!
Anônimo disse…
Lá vai nova história de jornalista! (Serjão, ainda vou descobrir se você é jornalista ou não, mas mesmo que você seja, te adoro, viu?) O primeiro que colocou de forma clara essa questão do "pobre" na escola pública foi o Luiz Weis, num artigo insuperável do qual ainda lembro o nome: Imprensa gazeteira. Ele dizia claramente: a rede pública enfraqueceu quando os filhos da "empregada" começaram a disputar a escola com os filhos da "patroa" (ele usou esses termos), o que provocou o êxodo da elite para a rede particular e a formação de seu império. No próximo bloco, o último capítulo desta "trilogia" sobre jornalistas falando de escola pública. Trilogia, que chique, hein?...
Anônimo disse…
Rodrigo, se todos os problemas da língua fossem os acentos, os pontos e as vírgulas, seria tudo beleza! Mas eu sinceramente não sei como é que vocês conseguiram aprender esse troxo de oxítonas, paroxítonas, proparoxítonas o escambau. Se eu tivesse estudado isso, nunca teria aprendido a colocar os acentos! Eu fui pegando pela cadência do som, não é muito mais fácil? Brincar com as crianças de bater o pé no chão quando o acento cai na sílaba, já fez isso com seus alunos? Eu fiz com meus filhos e funcionou. Como diz a Glória, falta alegria nas escolas!
Anônimo disse…
Giulia,

De onde você tirou o texto do João Ubaldo ribeiro?
Anônimo disse…
Mauro, da "famigerada" Veja, páginas amarelas, se não me engano, março deste ano. Você tem razão, sempre esqueço de colocar a fonte...
Anônimo disse…
Pronto, vou acabar minha “trilogia” e parar de encher o saco de vocês com essas histórias de jornalista metido em educação: a Folha e a TV Globo se interessaram, há alguns anos, pela questão da aula vaga, quando divulgamos que em média 20% das aulas previstas na rede pública não são dadas. A Folha chegou a divulgar essa percentagem, mas pediu “dados estatísticos” para poder confirmá-la. Ora, quem faria essa pesquisa? Nós cansamos de pedir para o próprio Inept (ops! Inep...), mas foi muita ingenuidade achar que um órgão público daria esse gol contra. As demais instituições e ONGs também não tiveram interesse, porque todo esse povo só quer dar uma de “bonzinho” e também levar o seu, pois todos sabemos que a maioria das ONGs neste País são máquinas de ganhar dinheiro e sustentar a “esquerda” (e ainda tem gente que acha que isso não existe mais...).

Bom, encurtando a história, demos uma sugestão infalível: jornalista não tem filho na rede pública, certo? Mas os demais trabalhadores das empresas de comunicação – vigias, faxineiros, copeiros, auxiliares de serviços gerais – têm, certo? Então, a Folha e a Globo, que são grandes organizações, poderiam fazer essa pesquisa junto aos seus trabalhadores, certo? Assim encaminhamos aos jornalistas o formulário de Controle de Aulas Vagas elaborado pelo PaisOnline e orientamos que pedissem aos funcionários da empresa preencher as aulas vagas de seus filhos durante dois meses. Daria uma matéria de primeira. Fizeram?... Claro que não, porque educação não dá ibope e também porque...seus filhos estudam na rede particular. Toda vez que falo isto para um jornalista, ele fica “da pá virada”. Isso se chama vestir a carapuça, não? Mas enfim, moral da história: com os três podres poderes não podemos contar. O quarto, talvez o mais forte de todos, não quer colaborar – quando não está a serviço dos próprios podres poderes. Aliás, a saudosa “dona Rosa do Estadão”, como era chamada quando fazia cobertura dos abusos nas escolas, costumava ser bastante clara, dizendo às vezes: “Esta matéria não passa”. No final, ela abandonou a reportagem, acho que por desgosto mesmo.
Fim da encheção verborrágica!! (Dedico esta trilogia para aqueles que dizem que sou mestre em condensar assuntos prolixos em poucas palavras, hehe!)
Santa disse…
Querida,
Que post! O João Ubaldo é um escritor especial. Toca nos temas essenciais com maestria.
Bjs
Anônimo disse…
muito bom. Bem fundamentado. bj
'Cota para as gordinhas nas passarelas.'Sou a favor. ahhaha
Jama Libya disse…
1/CARLOS DE ASSUMPÇÃO – O maior poeta negro da historia do Brasil autor do poema o PROTESTO Hino Nacional da luta da Consciência Negra Afro-brasileira, em celebração completou 87 anos de vida. CARLOS DE ASSUMPÇÃO nasceu 23 de maio de 1927 em Tiete-SP completando 87 anos de vida com sua família, amigos e nós da ORGANIZAÇÃO NEGRA NACIONAL QUILOMBO O. N. N. Q. FUNDADO 20/11/1970 (E diversas entidades e admiradores parabenizam o aniversario de 87 anos do mestre poeta negro Carlos Assumpção) tivemos a honra orgulho e satisfação de ligar para a histórica pessoa desejando felicidades, saúde e agradecer a Carlos de Assunpção pela sua obra gigante, em especial o poema o Protesto que para muitos é o maior e o mais significante poema dos afros brasileiros o Hino Nacional dos negros. “O Protesto” é o poema mais emblemático dos Afros Brasileiros e uns das América Negra, a escravidão em sua dor e as cicatrizes contemporâneas da inconsciência pragmática da alta sociedade permanente perversa no Poema “O Protesto” foi lançado 1958, na alegria do Brasil campeão de futebol, mas havia impropriedades e povo brasileiro era mal condicionado e hoje na Copa Mundial de Futebol no Brasil 2014 o poema “O Protesto” de Carlos de Assunpção está mais vivo com o povo na revolução para (Queda da Bas. Brasil.tilha) as manifestações reivindicatórias por justiça social econômica do povo brasileiro que desperta na reflexão do vivo protesto.
O mestre Milton Santos dizia os versos do Protesto e o discurso de Martin Luther King, Jr. em Washington, D.C., a capital dos Estados Unidos da América, em 28 de Agosto de 1963, após a Marcha para Washington. «I have a Dream» (Eu tenho um sonho) foram os dois maiores clamores pela liberdade, direitos, paz e justiça dos afros americanos. São centenas de jornalistas, críticos e intelectuais do Brasil e de todo mundo que elogia a (O Protesto) (Manifestação que é negra essência poderosa na transformação dos ideais do povo) obra enaltece com eloquência o divisor de águas inquestionável do racismo e cordialidade vigente do Brasil Mas a ditadura e o monopólio da mídia e manipulação das elites que dominam o Brasil censuram o poema Protesto de Carlos de Assunpção que é nosso protesto histórico e renasce e manifesta e congregam os negros e todos os oprimidos, injustiçados desta nação que faz a Copa do Mundo gastando bilhões para uma ilusão de um mês que poderá ser triste ou alegre para o povo brasileiro este mesmo que às vezes não tem ou economiza centavos para as necessidades básicas e até para sua sobrevivência e dos seus. No Brasil
Organização Negra Nacional Quilombo ONNQ 20/11/1970 –
quilombonnq@bol.com.br
Jama Libya disse…
2/
Poema. Protesto de Carlos de Assunpção

Mesmo que voltem as costas
Às minhas palavras de fogo
Não pararei de gritar
Não pararei
Não pararei de gritar

Senhores
Eu fui enviado ao mundo
Para protestar
Mentiras ouropéis nada
Nada me fará calar

Senhores
Atrás do muro da noite
Sem que ninguém o perceba
Muitos dos meus ancestrais
Já mortos há muito tempo
Reúnem-se em minha casa
E nos pomos a conversar
Sobre coisas amargas
Sobre grilhões e correntes
Que no passado eram visíveis
Sobre grilhões e correntes
Que no presente são invisíveis
Invisíveis mas existentes
Nos braços no pensamento
Nos passos nos sonhos na vida
De cada um dos que vivem
Juntos comigo enjeitados da Pátria

Senhores
O sangue dos meus avós
Que corre nas minhas veias
São gritos de rebeldia

Um dia talvez alguém perguntará
Comovido ante meu sofrimento
Quem é que esta gritando
Quem é que lamenta assim
Quem é

E eu responderei
Sou eu irmão
Irmão tu me desconheces
Sou eu aquele que se tornara
Vitima dos homens
Sou eu aquele que sendo homem
Foi vendido pelos homens
Em leilões em praça pública
Que foi vendido ou trocado
Como instrumento qualquer
Sou eu aquele que plantara
Os canaviais e cafezais
E os regou com suor e sangue
Aquele que sustentou
Sobre os ombros negros e fortes
O progresso do País
O que sofrera mil torturas
O que chorara inutilmente
O que dera tudo o que tinha
E hoje em dia não tem nada
Mas hoje grito não é
Pelo que já se passou
Que se passou é passado
Meu coração já perdoou
Hoje grito meu irmão
É porque depois de tudo
A justiça não chegou

Sou eu quem grita sou eu
O enganado no passado
Preterido no presente
Sou eu quem grita sou eu
Sou eu meu irmão aquele
Que viveu na prisão
Que trabalhou na prisão
Que sofreu na prisão
Para que fosse construído
O alicerce da nação
O alicerce da nação
Tem as pedras dos meus braços
Tem a cal das minhas lágrima
Por isso a nação é triste
É muito grande mas triste
É entre tanta gente triste
Irmão sou eu o mais triste

A minha história é contada
Com tintas de amargura
Um dia sob ovações e rosas de alegria
Jogaram-me de repente
Da prisão em que me achava
Para uma prisão mais ampla
Foi um cavalo de Tróia
A liberdade que me deram
Havia serpentes futuras
Sob o manto do entusiasmo
Um dia jogaram-me de repente
Como bagaços de cana
Como palhas de café
Como coisa imprestável
Que não servia mais pra nada
Um dia jogaram-me de repente
Nas sarjetas da rua do desamparo
Sob ovações e rosas de alegria

Sempre sonhara com a liberdade
Mas a liberdade que me deram
Foi mais ilusão que liberdade

Irmão sou eu quem grita
Eu tenho fortes razões
Irmão sou eu quem grita
Tenho mais necessidade
De gritar que de respirar
Mas irmão fica sabendo
Piedade não é o que eu quero
Piedade não me interessa
Os fracos pedem piedade
Eu quero coisa melhor
Eu não quero mais viver
No porão da sociedade
Não quero ser marginal
Quero entrar em toda parte
Quero ser bem recebido
Basta de humilhações
Minh'alma já está cansada
Eu quero o sol que é de todos
Ou alcanço tudo o que eu quero
Ou gritarei a noite inteira
Como gritam os vulcões
Como gritam os vendavais
Como grita o mar
E nem a morte terá força
Para me fazer calar.
Organização Negra Nacional Quilombo ONNQ 20/11/1970 –
quilombonnq@bol.com.br