Escólia de rodínias


Ao ler o artigo a seguir, copiado do site Todos pela Educação, lembrei da "Escólia de rodínias" do Seu Creysson, que provocou o riso de muitas pessoas, como se fosse algo completamente absurdo. Na realidade, o conceito de escola de rodinhas é muito antigo. Trata-se de uma desculpa esfarrapada das autoridades educacionais para justificarem a falta de vagas na rede pública: existe vaga para todos, mas... algumas escolas estão superlotadas e outras com vagas ociosas. Portanto, se as escolas tivessem rodinhas...

Mas a idéia do Seu Creysson ia agradar muito mais ao aluno do que às autoridades, que aliás adooooram uma escola vazia. Qual o aluno que não gostaria de estudar dentro de um trêiler, fazendo todos os dias um passeio diferente?... Mas como diz João Luiz Almeida Machado, não é necessário que a escola tenha rodinhas. Basta o professor levar o mundo para dentro da sala de aula. Já imagino a grita da corporação: "Professor não tem dinheiro para comprar jornal, revista, computador..." Chega de lamúrias e acomodação, senhores professores: leiam o post de 31 de outubro, "Aqui se aprende".

Novo olhar na sala de aula

Tentamos ensinar tantos temas e conceitos em sala de aula que muitas vezes deixamos de trabalhar alguns assuntos que são verdadeiramente essenciais à educação. Raramente nos preocupamos em saber se nossos estudantes estão cientes de determinados tipos de ações e práticas básicas em educação. Por exemplo, não cobramos ou realizamos um maior enriquecimento cultural a partir da visita a museus, centros de pesquisa, cinemas, teatros ou universidades. É função do professor provocar os alunos e tentar lhes atribuir um papel cada vez mais constante de protagonistas da aprendizagem e não de receptáculos de informação já previamente sistematizada. É preciso provocar os estudantes para que se sintam desconfortavelmente curiosos. A vontade e a disposição têm que ser semeadas pelos mestres e incorporadas pelos estudantes.
Ao falar em aguçar os sentidos, especialmente o olhar, nos referimos à necessidade de observar a natureza, as pinturas, as esculturas, os filmes, as dramatizações teatrais, as danças, as outras pessoas, os animais, profissionais em ação, máquinas em uso, técnicas de trabalho ou mesmo as relações entre pessoas. Uma idéia para o trabalho com alunos de ensino fundamental e também na universidade é levar a eles algumas imagens selecionadas de obras de arte. Pode também ser feito com fotografias, filmes ou ainda com desenhos. Seria interessante fotos antigas de familiares dos estudantes como forma de perceber as diferenças entre, por exemplo, o tempo de vida dos avós dos estudantes e os dias de hoje.
O segundo momento requer muita percepção por parte dos alunos e silêncio por parte do professor. Os estudantes precisam ter um tempo certo para observar atentamente as transparências, e dessa observação devem ser extraídos dados que sejam usados no cruzamento da matéria já discutida em aula ou em relação a temas que ainda serão estudados. O próximo passo é reuni-los em grupos pequenos, para que possam comparar suas observações. Essa atividade permitirá que eles percebam a diversidade dos olhares e a riqueza das diferenças que existem entre eles. Os pontos comuns serão reaproveitados pelo grupo e as diferenças serão motivos de debate. Depois, as idéias consideradas válidas a partir da análise dos integrantes dos grupos devem, então, ser colocadas numa resposta/relatório e entregues ao professor. O próximo e último ato dessa programação é a interferência do professor na apresentação e reflexão aprofundada a respeito das imagens usadas no projeto.
Nesse momento cabe ao educador falar a respeito das origens das imagens, daquilo que representam, de seus autores (fotógrafos, artistas, cineastas, desenhistas), das escolas artísticas às quais estão associadas e, principalmente, da relação que existe entre elas e o conteúdo que estão estudando ou que irão começar a estudar. Muitos alunos têm grande dificuldade para realizar a observação acurada das imagens e, por comodidade ou preguiça, preferem respostas simplificadas e curtas, sem qualquer preocupação com detalhes e divagações que lhes permitam ir muito além daquilo que lhes é oferecido de imediato nas imagens. Nossos jovens carecem de mais estímulos para olhar além.


João Luís Almeida Machado
Mestre em educação, arte e história da cultura e editor do portal Planeta Educação

Comentários

Anônimo disse…
olá... eu me chamo Ana Carolina e estou cursando o 2ºsemestre de Direito, Ahm estava fazendo uma pesquisa no google sobre a Luta pelo Direito e as crianças e o adolescente quando me deparei com a pagina de vocês, gostei muito, achei muito interessante e talz.. Mais gostaria de saber se vocês tem algo ou alguma matéria já vista em relação a este tema a cima escrito!!

Ogrigada e parabens a vocês o blog é ótimo
Giulia disse…
Seja bem-vinda, Ana Carolina! Quem bom que você está interessada na luta pelos direitos das crianças, esse assunto tão ignorado pela sociedade. Olha, a gente quase só escreve sobre isso, até porque a negligência é tanta!... Procure na barra lateral, mês a mês, os seguintes textos: 28/03 O verdadeiro crime ficou impune / 17/04 Conselho expulsa, alguém duvida? / 08/04 Srs. Promotores, sigam o exemplo! / 20/05 Na escola pública de SP, o crime compensa / 29/05 Nova greve no Rio. Dá para acreditar? / 08/06 O Estatuto: este desconhecido / 13/06 Prendas ou aula? / 16/06 Do tamanho de um ovo / 26/06 A bandalheira do Fundef / 02/07 Entre o justo e o legal / 11/07 Transporte escolar / 23/07 Ponto para os garotinhos / 24/07 Os crimes "di maior" / 25/08 Seu deputado é um Maior Infrator? / 08/09 Ainda expulsão, que é sem dúvida inconstitucional (entre também no link do Portal do Conselho Tutelar).
Além disto, você pode entrar nos sites linkados do lado esquerdo, principalmente o da Cremilda, da Glória e o PaisOnline, onde você vai encontrar uma infinidade de casos de abusos na escola. No PaisOnline, aliás, você vai encontrar praticamente toda a legislação escolar em arquivos zipados. Se você precisar de informações mais específicas, mande seu e-mail! Grande abraço e boa sorte. Espero que teremos mais uma advogada para defender as crianças e os adolescentes!
Anônimo disse…
É, Giulia, Giulia... Não adianta querer discutir com a voz da experiência, hein minha cara? Eu falei que a culpa era inteiramente dos governos, lembra? Agora estou fazendo aquele trabalho numa escola que não é pública, e isso depois de ter encontrado aquelas fichas mágicas, abandonadas, junto com os manuais para o bom uso delas, e com os manuais voltados para o Saresp e tudo o mais. Um material riquíssimo, desprezado. Hoje descobri uma outra parte do kit, chamada "Jogos" - que não é bem um jogo só para entretenimento, mas um jogo intelectual que faz o aluno mergulhar no assunto da aula. Era uma ficha de História, também com o título Jogo, mostrando como funcionava um castelo medieval, qual a função de cada aposento e para quem eles eram destinados. Que coisa linda!!!! Sim, veio da secretaria de Educação, alguém sentou e elaborou aqui, com carinho, pensando no aluno... Mas, meus colegas simplesmente jogaram fora, como se fosse lixo.

É, Giulia (e Vera e Mauro), meus colegas as vezes mais atrapalham do que ajudam, hein?

Abs
R.
Giulia disse…
Caro Rodrigo, o jeito é você usar as tais fichas na rede particular! Seria um belo exemplo para mostrar que quando o professor está a fim de fazer acontecer, as coisas rolam. Aos poucos você vai acabar concordando com a gente, de que só falta mesmo boa vontade... Aliás, como já disse a Marta, as bibliotecas das escolas (que estão quase todas fechadas - isso seria um escândalo em qualquer outro país!!) estão abarrotadas de livros literalmente às traças, só porque falta boa vontade e principalmente INTERESSE para colocá-los à disposição do aluno (e também do professor, que porém não está mesmo interessado, senão ele mesmo tocaria o barco, hehe).
Anônimo disse…
Na verdade, Giulia, estou prestando um serviço temporário para uma escola de caráter particular (os alunos não pagam mensalidade, mas os professores são cobrados e podem ser demitidos se não andarem na linha).

Ainda não usei as fichas na escola pública onde dou aulas porque só achei as de Geografia, de História e de Matemática. Mas eu gostaria muito de usar, os alunos merecem aquilo.

Você nunca ouviu falar dessas fichas? "Aprender-Ensinar" é o nome.

Tenho de concordar com vocês de que meus colegas são preguiçosos. Tem uma professora lá que pegou suas oito aulas para completar uma carga máxima, sei lá, depois não aguentou e parou de ir, porque precisava se dedicar às outras escolas onde ela trabalha. Resultado: algumas classes quase não tiveram aula de ciências neste segundo semestre.

Sim, os livros são desprezados também. Felizmente, na minha escola a biblioteca ainda funciona. Mas foi um esforço da direção para montar e jamais dos professores!!!!
Serjão disse…
Para seu conhecimento

http://oglobo.globo.com/educacao/mat/2006/11/07/286566020.asp

Abs
Anônimo disse…
Rodrigo, um causo pra vc.
Em 2002, através do programa Leia Mais, as bibliotecas de todas as escolas estaduais de ensino médio de SP receberam um acervo básico (352 livros) e mais um acervo escolhido pela escola com base na indicação dos próprios alunos dos livros que gostariam de ler (em número igual ao número de alunos matriculados). Como os professores da escola dos meus filhos sabiam que eu me interessava muito pela literatura até fui convidada a palpitar na escolha dos títulos da lista fornecida e ajudei a escolher os outros 1969 livros aos quais tínhamos direito, ou seja, recebemos um total de 2321 livros para a biblioteca da nossa escola. Mas, PASMEM, fiquei sabendo que na hora da entrega, as caixas foram levadas para a sala dos professores e apenas alguns desses 2321 livros recebidos chegaram de fato à biblioteca. Depois (para fechar com chave de ouro) em conversa com um dos bibliotecários (são 3 professores readaptados), ele comentou que os livros eram tão bonitos que dava pena deixar para os alunos estragarem e assim ele os ESTAVA GUARDANDO na casa dele.
Segundo a Secretaria, o programa visava “despertar junto aos alunos o gosto pela leitura - desvelando-lhes a beleza e a importância de grandes produções literárias” no entanto esse despertar foi literalmente ROUBADO pelo corpo docente. Vou te passar a lista dos livros escolhidos por nos para que vc ve o que perdemos.
(ainda por cima, os professores da rede puderam escolher um acervo de livros especificamente para eles no ano seguinte).
Veja tudo sobre os programas de livros nesse url: http://proglivros.edunet.sp.gov.br/
Giulia disse…
Mais um causo DE POLÍCIA, então!... O programa do governo federal Literatura em Minha Casa, também em 2002, foi um fracasso pelo mesmo motivo: os professores "ficaram com pena" de deixar os alunos levarem os livros para casa, para que "não os estragassem" e no final esses livros acabaram mesmo foi na casa dos professores. Na página inicial do nosso "ainda vivo" (no ar...)site do EducaFórum estão a nossa denúncia e a resposta do FNDE, dada em 25/09/02, deixando claro que os livros eram DE PROPRIEDADE DOS ALUNOS. Continuo achando que faltam sociólogos para explicar esses fenômenos...
Anônimo disse…
Felizmente, nas três escolas onde dei aulas nestes dois anos depois de formado, as diretoras se preocuparam e se esforçaram muito para ajeitar as bibliotecas. Ufa! Em uma, estão TODOS os livros desses números que vocês citaram! Na outra, há mais de vinte saídas por dia, segundo uma professora.

E, ah, quando eu falei que vocês estavam certos - porque eu já vim aqui defender os professores, lembram? - é porque estava fazendo uma comparação dos meus colegas da rede pública com um tipo de professor que encontrei nesta escola, onde estou prestando um serviço. Pô, porque nunca se discute literatura e pedagogia dentro das salas dos professores? Foi mais ou menos isso que eu quis dizer no meu blog. Um comentário sobre arte, sobre literatura, ciência, uma idéia nova a ser tentada não são bem vindas! Eu até estava pensando que eu fosse mais estúpido do que imaginava. Desse jeito, é lógico que o livro será desprezado.

Agora, e as misteriosas fichas? De onde será que elas vêm?

Abraços
Anônimo disse…
Rodrigo,

Se a escola é do ensino fundamental, as fichas provavelmente chegaram através do PNLD. Vc pode consultar quais livros DIDÁCTICOS e materiais foram solicitados pelos seus colegas e entregues lá na sua escola em 2004, 2005 e 2006 no site que te falei no post anterior: http://proglivros.edunet.sp.gov.br/ Use o recurso Consulta de Recebimento para saber quais livros foram entregues. Os recursos e verbas enviadas para as escolas públicas são volumosas mas apenas uma pequena parte desses recursos chegam à sala de aula, a maior parte é desviada por autoridades, dirigentes, diretores, professores e funcionários corruptos. Desse jeito não há como o ensino público no brasil melhorar.
Anônimo disse…
Brigadúu.
Anônimo disse…
E além de tudo isso Carolina ainda tem a burocracia e a organização burra da distribuição de livros didáticos nas escolas...Imaginem que a conta dos alunos por turma é feita pelo ano corrente e não pelo ano seguinte (que é o que efetivamente estará valendo) Assim se uma escola tem 3 sextas séries e 2 sétimas vai ter no ano seguinte 3 sétimas e receber livros para 2! Parece incrivel mas é assim que acontece... Quando a escola reclama mandam trocar com outra escola (o que parece ser uma missão impossível pois não todos adotam o mesmo livro...) Enfim é o CAOS!
Vera Vaz
Anônimo disse…
Ainda tem gente pensando que a burocracia escolar foi feita para educar...

é tudo pensado em garantir um cabidão de empregos...

Já repararam que os "filhos da elite" quase se matam para conseguir um emprego na escola pública, mas não aceitam colocar seus próprios filhos nestas escolas...