Dá pra ser mais JT?


Fiquei pasma com a matéria do Jornal da Tarde (olá, Brasil, estou falando de Sampa!) publicada dia 22/12 sobre AULA VAGA. O jornal conseguiu a proeza de não mencionar essa expressão uma única vez! Comprove aqui Falta professor substituto e leia a mensagem que acabei de enviar ao JT:

Olá, editores do JT!

Certamente vocês devem ser bem jovens e não se lembram de uma época em que eu escrevia cartinhas para a seção São Paulo Pergunta, provocando Paulo Maluf a declarar seus gastos em educação. Bons tempos, aqueles!

Não sou saudosista, mas me impressiona a queda de nível do jornalismo no assunto educação, a ponto de eu ter ficado absolutamente pasma com a matéria “Falta professor substituto”, de 22/12.

Quem teria proposto esse assunto?... Muito estranho! Pois sempre que a gente convida a imprensa para uma matéria, os jornalistas são enfáticos ao solicitar que se trate de “um fato”, testemunhado por diversas pessoas que se disponham a dar entrevista, e que tenha relevância para o leitor. Essa matéria já peca pelo título: “Falta professor substituto”. Imagino se o JT publicaria uma outra matéria com esta manchete:

Falta telefonista substituta

ou então

Falta gerente substituto

ou então

Falta torneiro mecânico substituto

Não, né...? Porque nenhuma empresa admite um funcionário e seu substituto. Se o funcionário faltar além da conta, a empresa não sai choramingando para a imprensa, apenas o substitui. E mesmo que apelasse para a imprensa, nenhum jornal teria coragem de publicar tal matéria...né?

Então, entendemos que o “fato” foi a choraminga do Sindicato dos Professores do Município de São Paulo – Sinpeem, clamando por professores substitutos nas escolas. Sim, porque os professores “adoecem” pelo desgosto de terem que trabalhar todos os dias, ou então “se estressam” com o aluno adolescente, ou então porque a classe está lotada. Ta certo, né...? O bedel que tome conta da turma!

Ainda bem que foram entrevistados também alguns pais de alunos, que porém tiveram suas falas distorcidas ou cortadas. A pérola dessa matéria é a declaração da mãe Margarida, de que durante todo o ano os professores de Português, Ciências e Artes andaram faltando e mesmo assim os alunos foram aprovados sem recuperação, por culpa do sistema de progressão continuada, né...? O leitor menos avisado poderá concordar e se unir ao coro da volta pela repetência e à choraminga do sindicato para aumentar o “mercado” de professores substitutos. Assim a educação meia-boca da Prefeitura de São Paulo vai entrar num beco sem saída! Saibam a mãe Margarida e os editores do JT que, SEM PROFESSOR TITULAR dando aula o ano inteiro, não há recuperação que funcione! Se o professor da rede pública continuar faltando a 25% de suas aulas, como é a média nacional, e souber que existe um professor substituto para tapar seus buracos, ele vai passar a faltar a 50% das aulas! Sim, porque este é o País onde tudo é permitido a quem não sofre fiscalização. E então nada mais vai adiantar: nem a progressão continuada (que depende da avaliação e recuperação contínua do aluno) e muito menos a repetência, ou qualquer outro sistema de ensino.

Sugiro que o assunto seja retomado com mais seriedade, pois o verdadeiro problema, camuflado por essa matéria chama-se AULA VAGA, uma expressão proibida pelas autoridades da educação estadual e municipal de São Paulo. Sim, porque as Secretarias da Educação, as Diretorias de Ensino e até a Ouvidoria da Educação são formadas por...professores e regidas pelo CORPORATIVISMO. Uma perguntinha apenas, senhores editores: os professores da escola particular de seus filhos faltam desse jeito, também?... Seus filhos já receberam “aula” de algum bedel? Não, né...?

É com muita tristeza que colo a esta mensagem meu artigo Aula Vaga, você sabe o que é isto?, escrito na década de 90 e infelizmente ainda tão atual, visto que a “solução” sugerida para esse grave problema é TAPAR O SOL COM A PENEIRA: contratar mais professores substitutos! Frente a tamanho absurdo, só me resta pedir:

Dá pra ser mais JT?

O artigo Aula Vaga: Você Sabe o que é isso?
está publicado na nossa seção de textos, no mês 11/05.

Comentários

Zé Costa disse…
Num país onde Educação aparece apenas nos discursos, seria exigir demais do JT uma reportagem séria sobre o tema! Nosso modelo de educação e de escola não está falido, isso é clichê, ele está é vencido!

um abraço!

Vi você no blog da Santa!
Anônimo disse…
Cara Giulia,

Estou meio sem forças para escrever, agradeço a força e os comentários sempre positivos que você fez no Kazzx, desejo a você um grande Natal e que não só este dia seja de Paz, alegria e fraternidade, mas todos os da sua vida e dos seus!

Bjs

Marcos - ex kazzx
Santa disse…
"Feliz Natal a quem acorda, todas as manhãs a criança adormecida em si e, moleque, sai pelas esquinas quebrando convenções que só obrigam a quem carece de convicção. E aos artífices da alegria que, no calor da dúvida, dão linha à manivela da fé.

Feliz Natal aos que ignoram o alfabeto da vingança e jamais pisam na armadilha do desamor, pois sabem que o ódio destrói primeiro quem odeia.

Feliz Natal a todos os que pulam corda com a linha do horizonte e riem à sobeja dos que apregoam o fim da História. E aos que suprimem a letra erre do verbo amar e se recusam a ser reféns do pessimismo"

Feliz Natal,bjs
Anônimo disse…
Já que bicoca tá proibida,além dûm Félix Natal, um UPÃO bem apertadinho.
Strix.
Giulia disse…
Ah! Eu não expliquei porque a expressão AULA VAGA é proibida pelas autoridades da educação: porque ela constitui OFERTA IRREGULAR DE ENSINO e contraria o ECA, portanto, as Secretarias de Educação que mantiverem essa tradicional "prática educacional" estão sujeitas a serem processadas.
Anônimo disse…
Grande, Giulia, além de educochata, está me saindo uma excelente repórter e comentarista.
Santa disse…
Giulia, claro que pode copiar. Vc pode tudo no blog da santa. Bjs
Ricardo Rayol disse…
Giulia, isso que eu chamo dar uma paulada na moleira dos moleirões... perfeito e indignante.