O império da corporação


Ainda não fiz o relato da última reunião na Secretaria Estadual da Educação, dia 11 de agosto. Nem pretendo fazer. Resolvi que a partir de agora só vou informar fatos concretos e decisões tomadas. O que não foi o caso. A reunião poderia ser resumida da seguinte forma: tudo sob controle, nada resolvido...

A minha mudança de atitude se deve à leitura de um texto que me deixou, se não deprimida, no mínimo perplexa. Trata-se de um rascunho feito por uma comissão formada pela SEE para criar uma página, dentro do site da Secretaria, destinada à comunicação com os pais e alunos. O pedido foi nosso e o intuito seria orientar a comunidade escolar, incluindo professores, funcionários e direção, sobre a importância e os caminhos da participação dos pais e alunos na gestão democrática da escola. Foi muita ingenuidade acreditar que a SEE aceitaria nossa sugestão, amplamente documentada no artigo http://educaforumtxt.blogspot.com/2007/01/gesto-participativa-na-escola.html, no sentido de diminuir o autoritarismo na rede.

O rascunho que me foi entregue não passa de uma série de normas desarticuladas e redigidas numa linguagem que o nosso amigo Cêu Creissom chamaria de “diarioficiálica”. Enfim, algo que não comunica nada a ninguém, muito menos a pais e alunos cansados das práticas comuns na rede, como o “berro pedagógico”, o impedimento de entrar na escola por falta de uniforme, a suspensão ou expulsão de alunos. O texto elaborado pela comissão “democratizante” formada pela SEE mostra, mais uma vez, que o império da corporação na rede pública de ensino continua e não vai acabar tão cedo. A suspensão e a expulsão continuarão sendo as medidas disciplinares “normais”, o aluno e sua família continuarão a serem responsabilizados pelo fracasso da escola.

Tenho ouvido repetir, na Secretaria da Educação, o que se ouve em toda a mídia: a sociedade está satisfeita com a escola e o ensino, quem reclama somos nós e mais uma meia dúzia...
A mídia tem toda responsabilidade nisso: verdadeiras “chacinas” de crianças em creches são noticiadas em meros rodapés nas páginas dos jornais, http://oglobo.globo.com/sp/mat/2008/08/16/menina_de_2_anos_morre_engasgada_em_creche_de_embu-547785384.asp. Os maus tratos sofridos por alunos do ensino fundamental e médio são mais “sutis”, é mais difícil eliminar uma criança ou um adolescente capazes de relatar os abusos, mesmo assim os pais não costumam denunciá-los devido às infalíveis perseguições e represálias e ao medo de perderem a vaga dos filhos, geralmente a única opção para que possam continuar os estudos. Um caso exemplar é a “famosa” EE Lucas Roschel Rasquinho, em que a direção ameaçou a comunidade de que a escola seria fechada, caso as denúncias continuassem, http://educaforum.blogspot.com/2008/07/escola-vai-fechar-voc-j-caiu-nessa.html.

Para voltar à responsabilidade da mídia, figuras respeitadas, mas delirantes como José Ermírio de Moraes ganham espaços privilegiados para divulgarem textos em que tratam os alunos como vagabundos e afirmam absurdos como “os professores não faltam”, embora haja uma média de 32 faltas para cada professor em dez meses de trabalho anual (a Votorantim aceita esse nível de falta de seus funcionários?...).

Toda a mídia trata com indiferença assuntos como a aula vaga, a falta de bibliotecas nas escolas e a seriíssima questão dos “alunos fantasmas”, mas corre imediatamente noticiar qualquer situação em que um professor se sente vítima do aluno ou de seus pais. Os sindicatos têm assessorias de imprensa fortes e competentes, que conseguem manter o império da corporação acima do interesse nacional de uma educação de qualidade para todos os cidadãos menores de idade, ainda tratados como “di menor”. O império da corporação se consolida cada vez mais, como mostram as comunidades do Orkut “Professoras assassinas”, “Professores sofredores”, “Professor: profissão ingrata”, com mensagens que aliás mostram o despreparo desses profissionais para até mesmo articular alguma idéia consistente.

Falta alguém dar ouvidos à criança que procura gritar: “O rei está nu!”.

Comentários

Anônimo disse…
Tem muita coisa errada na escola... A escola teria que mudar em muitas coisas para melhorar. Concordo com boa parte de suas idéias Giulia... Parece-me uma pessoa sensata... Não sei se você tem acompanhado alguma escola mais de perto... Acho que não... Este é mais um erro das Secretarias da Educação... Pais e Comunidade mal sabem o que se passa nas escolas em que seus filhos estudam...
Algumas punições pedagógicas são necessárias mesmo... suspensão, bronca, assinar advertência, etc...Só não concordo com a expulsão... Quem tem filho adolescente sabe que se não houver regras e punições nada funciona... Neste caso algumas escolas estão certas... Mas em todo o resto está tudo errado!
Se acontece alguma coisa como um aluno agredir outro, claro que este aluno deve ser punido (não expulso)... O que você faria neste caso? Acha que só uma conversa funciona? Uma bronca? Será que uma suspensão não ajuda?
Sou frustrado!
Giulia disse…
Professor, você não acha que aluno adolescente adooooora uma suspensão? Você acha que ele vai ficar magoado? Ele já está acostumado a ter aulas vagas aos montes, vai ser um dia em que ele poderá ficar em casa "oficialmente" e pronto.
Não, não acredito em suspensão, acredito em respeito e exemplo.
Estamos no século XXI e está na hora de acabar com os "achismos": o que eu acho e o que você acha não tem importância nenhuma. As escolas tem de ter procedimentos pedagógicos e não policiais. Você deveria parar de ficar frustrado e pesquisar: algumas escolas públicas são exemplos de excelência, mas não interessa para as Secretarias da Educação adotar seus métodos, porque a maioria dos diretores e professores querem trabalhar "do seu jeito" e de acordo com seu próprio "achismo". É por isso que nada funciona.
Anônimo disse…
Giulia
O professor é um professor,não esqueça....
Eles tem muita resistência quando se trata de obedecer as leis.
Suspensão vai direto contra o ECA quando este diz:aluno tem direito à permanência na escola.
Como estão confortávelmente na escola onde eles fazem as leis...
Em casa funcionam as regras quando os pais as cumprem também., com criança e adolescente não funciona
"faça o que mando e não faça o que eu faço"
O cara não sabe o que fazer quando um aluno agride outro e pergunta para você.Querem uma receita pronta que não existe, cada caso é um caso, querem tratar aluno feito gado que tem mais ou menos o mesmo comportamento.
Pesam nas palavrar para demonizar o aluno.
Brigas entre aluno ele chama de agressão
A gente sabe que por conta da nossa natureza competitiva, até os irmãos brigam entre sí e nem por isso as mães colocam os filhos fora de casa por um tempo....
Tem até um ditado que diz"
as melhores amizades da infância podem começar com um olho roxo"
Uma vez eu ví dois alunos cochichando numa atitude amigável se olhando cumplices docemente nos olhos, estavam na frente da diretoria, sentados esperando o castigo que ela iria impos a eles que tinham brigado na sala de aula.
Já estavam de bem....
Tão mais fácil mandar os dois para a diretoria não? Nâo tem trabalho nenhum....
Vera Vaz disse…
É verdade que resposta pronta não existe e que "cada caso é um caso" mas a falta de um método profissional de encarar o aluno assusta! É uma questão de postura profissional correta que a maioria dos profissionais da Educação não tem!
Quando escuto que o professor chorou, se descontrolou, deu piti eu sempre penso: "Meu Deus, as coisas que esse aluno fez acontecem há séculos na escola e esse cara ainda não aprendeu a lidar com isso!"
O que não dá pra entender (ou dá pra entender muito bem!) é que eles queiram transportar a responsabilidade de seu fracasso enquanto instituição pública de ensino para as famílias simplesmente por uma razão: ser pai e mãe não é uma categoria profissional!!!!!!!!!!! É impossível cobrar dela atitudes normatizadas em certos assuntos. A instituição escola tem que EDUCAR independentemente do que a família de cada aluno faça!
Para o "professor frustrado" tenho algumas "receitinhas" metodológicas sim:
- trate seus alunos com respeito
(isso envolve desde o conteúdo da sua matéria até a compreensão da realidade deles) Ouça-os!
- leia os textos do José Pacheco sobre a metodologia do abraço e do aluno "protetor" do outro que lhe dá o feedback de suas atitudes. É muito legal e eficiente!
- deixe a comunidade entrar na sua escola, na sua aula, na vida escolar. Verá como é eficiente a presença de "estranhos" tanto nas atitudes dos alunos como na do corpo docente.
- converse sobre a violência. Sobre TODOS os tipos de violência!! As que eles praticam e as que sofrem. Tem um livrinho pra adolescentes muito legal sobre isso: "As caras da Violência e alguns modos de construir a paz" do Edson Gabriel Garcia
Por hora é isso.
Vamos vestir o rei, professor?
Vera Vaz
Anônimo disse…
Eu sou frustrado por muitas coisas e não pelos problemas com alunos...
Acham mesmo que eu sobreviveria se o problema maior fosse os alunos...
As melhores escolas, pelo menos boa parte delas, é seletista, não são todos que podem entrar, o público discente é a "nata"... Vejam por exemplo as ETEs, as de Aplicação, as militares, entre outras que têm as melhores posições nas avaliações.
Não digo aqui que deveríamos selecionar os alunos antes de entrarem nas escolas... Deus me livre disso, defendo Educação para todos...
A questão das suspensões pode até ser que o adolescente não se importe..., como disse a Giulia ele pode até achar bom....rsrsr mas o fato de o professor poder dar sua aula sossegado, sem separar brigas, sem tantos problemas não tem preço! rsrs por isso ela é tão usada...
Também acho que é direito do aluno permanecer na escola, mas é direito dele também dar porrada no seu colega???
Meus alunos me amam!rsrsr O grande mal da escola é sua frágil infra-estrutura para a aprendizagem... Como posso dar conta de 45 adolescente de uma vez? Até dou conta, termina o dia e está todo mundo são e salvo... Agora aprendizagem que é bom... aí fica difícil...
Essa coisa toda de acompanhar o desenvolvimento das competências dos alunos (progressão) quando se tem mais de 400 realmente não funciona... e quem dirá preparar situações de aprendizagem diferenciadas? é tanta gente! tantas dificuldades! pouquíssimos minutos para atender tantos...
Nenhum material didático... Só cobranças, subornos (bônus) e outras coisas mais que me deixam realmente frustrado...
Anônimo disse…
As escolas deveriam ter mais projetos para melhorar o aprendizado do aluno,um deles é o uso da sala de computação,mas as diretoras não deixam,quando o professor começa a levar muito o aluno para essa sala , logo a diretora e sua equipe começa a criar caso com o professor, a diretora gosta mesmo é que o aluno fique trancado dentro da sala de aula para não lhe dá trabalho , ela não gosta nem de ouvir a voz dos alunos.Tudo isso acontece no Lucas Roschel Raquinho.Lá também não deixam os alunos irem ao banheiro na hora de aula ,tem uns professores muito bravos lá chamando os alunos de safados e endiabados.Mande ir lá e veja.
Anônimo disse…
Uma coisa que eu não faço é ficar impedindo as crianças de irem no banheiro...rsrss já levei bronca de diretor, coordenador e até inspetor...rsrs mas eu sempre deixo os alunos irem no banheiro...rsrs Quem sou eu para determinar quem pode ou não ir no banheiro? Acreditam que um prof. da minha escola deixou um menino se mijar nas calças? Tudo por causa destas regras que as diretoras inventam... só para não ver a cara dos alunos mesmo... Até parece que aluno não é gente... e que ele é um prisioneiro dentro da sala de aula... Se não pode beber água, não pode ir no banheiro, não pode nem falar um pouquinho mais alto... está pior do que uma cadeia não acham?
Anônimo disse…
Nínguem ver isso,e é por isso mesmo que o aluno vai para escola sem querer e quando chega lá fica desesperado,no Lucas Roschel as tias que vêem um aluno no corredor ou dá um beliscão ou vai entregar o professor para diretora, tem uma tia velha lá que vive cheirando a pinga, parece que começa a beber as 9:00, cara de pinguça mesmo, não precisa falar quem é ,basta chegar lá e ver.Manda investigar essa também.Será que ela vai ter a coragem de fazer um abaixo-assinado para ela mesmo , e se fizer so a mãe e os filhos vão assinar. aqui quem diz é a comunidade.
Anônimo disse…
Professor frustado eu sei qual é o seu tipo ,vc, não concorda ,mas tem que fazer o jogo para sobreviver,mas tudo isso vai mudar, nós vamos mudar e você vai poder ficar do nosso lado e agir correto.Se os rofessores se unirem para trabalharem correto muitos diretores iam dançar, até mesmo os dirigentes e supervisores do mal.
Tem que mudar! Tem que mudar!Tem que mudar!
O problema é de todos, e vamos ter que resolver essa situação custe o que custar.
Anônimo disse…
Vera querida,
Maravilhosa seu comentário acima, aliás comme d'habitude! Professores, porfavor, OUÇAM seus alunos, muitas vezes a chave de tudo está sentada bem na frente de vcs! Dêem responsabilidade a eles, confiem neles e eles se tornarão responsáveis e pessoas de confiança. Comprovei muitas vezes in loco que as soluções encontradas e propostas (referente a problemas do cotidiano escolar, inclusive a violência) pelos próprios alunos eram muita mais lógicas e efetivas que aquelas impostas pelos supostamente mais sabios.
Anônimo disse…
Estou esperando...........
Anônimo disse…
Professor frustado, sabe qual é o seu maior problema é falta de direção , quando uma direção funciona o professor consegue trabalhar,mas tem diretor que inferniza através do aluno e o professor pensa que o problema é o aluno e não é.