Em seu artigo É possível educar em casa?, publicado na Veja Online, Gustavo Ioschpe comenta o famoso caso da família mineira que resolveu tirar seus dois filhos da escola pública e instruí-los em casa. O texto traz inclusive uma mensagem dos pais dos garotos, processados e condenados por “abandono intelectual”. Um ano e meio depois, em um segundo processo, a justiça determinou que os meninos fossem avaliados e assim um batalhão de profissionais da Secretaria da Educação passou duas semanas para elaborar as provas, em que caíram inclusive questões de vestibular e até educação física, disciplina que os alunos da rede publica desconhecem em absoluto. Pois é, agora você descobriu para que serve uma Secretaria da Educação, rsrs.
Apesar de tantos esforços para comprovar o tal abandono intelectual, os garotos se saíram muito bem e os pais perguntam: "Resta saber qual será a decisão da "Justiça". Se permitirão seguir nosso caminho ou se nos condenarão por colocarmos a mão na massa e fazer o que o estado assumidamente não tem conseguido fazer."
Eu já havia comentado o caso aqui http://educaforum.blogspot.com/2008/06/ora-o-ministrio-pblico.html, mas volto ao assunto, pois a situação é paradoxal e ao mesmo tempo típica deste país onde a vítima costuma ser penalizada duas vezes. Abandono intelectual é o que ocorre na rede pública de ensino e são poucos os alunos que sobrevivem dignamente a esse marasmo, quase nunca sem a ajuda da família.
Eu não tenho o hábito de responsabilizar o “governo” pelo fracasso da educação. O governo somos todos nós, na medida em que só pagamos impostos e deixamos de cobrar. Por falta de cobrança, a tendência nacional é o comodismo e a escola é a instituição da qual menos se cobra. O profissional do ensino costuma ser visto como santo, mártir e a última moda é ser considerado vítima. No entanto, existem no Brasil diversos casos de impressionante sucesso educacional, obtido pela boa vontade e seriedade de educadores que muitas vezes conseguem excelentes resultados sem a infraestrutura preguiçosa e apodrecida do sistema. Esses exemplos não são seguidos pela maioria e muito menos aplicados pelas Secretarias da Educação. A revista Nova Escola costuma garimpar esses casos positivos e já trouxemos diversos aqui. Pena que a Nova Escola, sendo a melhor publicação educacional do país, se limite ao discurso politicamente correto, sem estimular a discussão sobre a inércia que permeia toda a rede de ensino.
Voltando ao artigo de Gustavo Ioschpe, seu título vai na contramão do antigo chavão “A educação vem de casa”, na minha opinião responsável pela série de equívocos que tornam a rede pública de ensino o fracasso que é. Essa expressão, a mais usada por “educadores” de todo o Brasil, nada tem de inocente. Ela visa responsabilizar a família pelo fracasso dos filhos na escola. Os “educadores” que enchem a boca com esse chavão mostram claramente que não têm a intenção nem o interesse de educar seus alunos. E não vamos aqui recomeçar a fazer a eterna discussão sobre a diferença entre educação e instrução... Toda informação ou transmissão de conhecimentos vem acompanhada de uma atitude que educa ou deseduca. O professor que despeja sua matéria na lousa sem qualquer compromisso ou até com desprezo pelo aluno está transmitindo seu desinteresse, sua má vontade e sua irritação. Isso é antipedagógico, portanto, deseduca.
Mas quem se importa se a maioria dos alunos pobres é tratada como deficiente desde sua entrada na escola? Aliás, além de não receberem a transmissão de conhecimentos básicos, esses alunos são literalmente chamados de “retardado”, “QI de ameba”, “jumento” etc. por seus “educadores”. Quem se habilita a entrar dentro de uma escola pública e divulgar o que se passa lá dentro? Os pais que se atrevem a fazer qualquer denúncia têm seus filhos perseguidos até à evasão. As pesquisas que mostram a satisfação da população brasileira com respeito à educação não procedem. Os pais pobres preferem mentir do que mostrar sua insatisfação, porque sabem no que podem incorrer. E eles só podem matricular seus filhos na escola do bairro! É verdade que muitos não têm a mínima noção do pouco ou nada que seus filhos aprendem na escola, mas só o fato de vê-los passando de ano já é um tremendo orgulho para eles, em vista do fracasso geral. Só o fato de seus filhos não serem chamados de “alunos-problema” na frente dos demais pais durante as reuniões escolares, já é um alívio. Pois a lenga-lenga das reuniões de pais e mestres na rede pública é sempre a mesma: uma grande lamúria dos professores sobre suas dificuldades em “dar aula” para alunos que já vêm deseducados de casa.
Apesar de tantos esforços para comprovar o tal abandono intelectual, os garotos se saíram muito bem e os pais perguntam: "Resta saber qual será a decisão da "Justiça". Se permitirão seguir nosso caminho ou se nos condenarão por colocarmos a mão na massa e fazer o que o estado assumidamente não tem conseguido fazer."
Eu já havia comentado o caso aqui http://educaforum.blogspot.com/2008/06/ora-o-ministrio-pblico.html, mas volto ao assunto, pois a situação é paradoxal e ao mesmo tempo típica deste país onde a vítima costuma ser penalizada duas vezes. Abandono intelectual é o que ocorre na rede pública de ensino e são poucos os alunos que sobrevivem dignamente a esse marasmo, quase nunca sem a ajuda da família.
Eu não tenho o hábito de responsabilizar o “governo” pelo fracasso da educação. O governo somos todos nós, na medida em que só pagamos impostos e deixamos de cobrar. Por falta de cobrança, a tendência nacional é o comodismo e a escola é a instituição da qual menos se cobra. O profissional do ensino costuma ser visto como santo, mártir e a última moda é ser considerado vítima. No entanto, existem no Brasil diversos casos de impressionante sucesso educacional, obtido pela boa vontade e seriedade de educadores que muitas vezes conseguem excelentes resultados sem a infraestrutura preguiçosa e apodrecida do sistema. Esses exemplos não são seguidos pela maioria e muito menos aplicados pelas Secretarias da Educação. A revista Nova Escola costuma garimpar esses casos positivos e já trouxemos diversos aqui. Pena que a Nova Escola, sendo a melhor publicação educacional do país, se limite ao discurso politicamente correto, sem estimular a discussão sobre a inércia que permeia toda a rede de ensino.
Voltando ao artigo de Gustavo Ioschpe, seu título vai na contramão do antigo chavão “A educação vem de casa”, na minha opinião responsável pela série de equívocos que tornam a rede pública de ensino o fracasso que é. Essa expressão, a mais usada por “educadores” de todo o Brasil, nada tem de inocente. Ela visa responsabilizar a família pelo fracasso dos filhos na escola. Os “educadores” que enchem a boca com esse chavão mostram claramente que não têm a intenção nem o interesse de educar seus alunos. E não vamos aqui recomeçar a fazer a eterna discussão sobre a diferença entre educação e instrução... Toda informação ou transmissão de conhecimentos vem acompanhada de uma atitude que educa ou deseduca. O professor que despeja sua matéria na lousa sem qualquer compromisso ou até com desprezo pelo aluno está transmitindo seu desinteresse, sua má vontade e sua irritação. Isso é antipedagógico, portanto, deseduca.
Mas quem se importa se a maioria dos alunos pobres é tratada como deficiente desde sua entrada na escola? Aliás, além de não receberem a transmissão de conhecimentos básicos, esses alunos são literalmente chamados de “retardado”, “QI de ameba”, “jumento” etc. por seus “educadores”. Quem se habilita a entrar dentro de uma escola pública e divulgar o que se passa lá dentro? Os pais que se atrevem a fazer qualquer denúncia têm seus filhos perseguidos até à evasão. As pesquisas que mostram a satisfação da população brasileira com respeito à educação não procedem. Os pais pobres preferem mentir do que mostrar sua insatisfação, porque sabem no que podem incorrer. E eles só podem matricular seus filhos na escola do bairro! É verdade que muitos não têm a mínima noção do pouco ou nada que seus filhos aprendem na escola, mas só o fato de vê-los passando de ano já é um tremendo orgulho para eles, em vista do fracasso geral. Só o fato de seus filhos não serem chamados de “alunos-problema” na frente dos demais pais durante as reuniões escolares, já é um alívio. Pois a lenga-lenga das reuniões de pais e mestres na rede pública é sempre a mesma: uma grande lamúria dos professores sobre suas dificuldades em “dar aula” para alunos que já vêm deseducados de casa.
Enfim, o problema da escola pública é o aluno! Essa é a mensagem, direta ou subliminar, que os pais recebem durante as reuniões escolares. E a aritmética é muito simples: se meu filho não é o problema do professor, então o problema deve ser o colega do lado, ou talvez o filho do vizinho da rua de trás, ou da frente... Assim cria-se um ambiente escolar desagradável e violento, em que alunos e pais são colocados uns contra os outros. Alguém um dia vai abrir essa “caixa preta”? Será que tudo isso interessa aos formadores de opinião, cujos filhos estudam na rede particular?
Apesar de apoiar a luta da família mineira, Gustavo Ioschpe defende a educação na escola e fala da importância das crianças conviverem com “seus pares” nos bancos escolares. Mas sejamos francos: no Brasil, o filho da faxineira é considerado par do filho da patroa?... Que tal pesquisar também este viés?
Apesar de apoiar a luta da família mineira, Gustavo Ioschpe defende a educação na escola e fala da importância das crianças conviverem com “seus pares” nos bancos escolares. Mas sejamos francos: no Brasil, o filho da faxineira é considerado par do filho da patroa?... Que tal pesquisar também este viés?
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