O valor da gestão da escola


Uma pesquisa da Fundação Victor Civita mostra que os diretores de escola não têm consciência da sua responsabilidade no rendimento do aluno e da escola. Eles atribuem o fracasso escolar ao governo (48%), à comunidade (16%), aos professores (13%), aos alunos (9%) e - acredite - à própria escola (7%), como se eles não tivessem nada a ver com isso, rs. Leia matéria no site Educar para Crescer.
Essa atitude do gestor escolar é a mais comum na rede pública. O diretor de escola entende que está lá para cumprir funções burocráticas e atender as solicitações da secretaria da educação, que geralmente não lhe cobra nada com respeito à qualidade do ensino.
Sempre falamos aqui do diretor ausente (no sentido literal e também no figurado), que dificilmente está a postos na escola e mais dificilmente ainda atende os pais e alunos em suas necessidades. Esse é o diretor "padrão" na rede pública, uma figura distante, autoritária e omissa. Não é à toa que a educação vai mal no país como um todo.
Os resultados do IDEB 2009 mostram que as melhores escolas públicas do país, sem exceção, têm uma direção atuante e compromissada com a qualidade do ensino, o que aparentemente não têm nada a ver com a formação desses diretores.

Um exemplo muito eloquente é o da EE Rita Pinto de Araújo, em um dos bairros mais pobres da zona leste de São Paulo. Dirigida por Flávio José Dionysio, filho de pais analfabetos funcionais e que teve imensas dificuldades para se formar em pedagogia, essa escola teve nota do IDEB de 7.6, enquanto a Escola de Aplicação da USP, lotada de doutores, passou apenas "raspando", com 6,6. Leia o artigo de Gilberto Dimenstein a respeito da atuação desse diretor de escola.

Ainda mais impressionante é o exemplo da escola "campeã" do IDEB em todo o Brasil, a EE Elisabeth Maria Cavaretto de Almeida, em Santa Fé do Sul, SP. Em apenas 2 anos, a escola deu um salto de qualidade simplesmente impressionante, de 2,6 para 8,6 no Ensino Fundamental I, o que corresponde ao dobro da média nacional. Esse resultado não seria atingido sem a direção firme e responsável da diretora Odete Stefanoni, que vivia repetindo aos professores que sua preocupação principal não poderia ser o salário, senão eles não conseguiriam resultados em sala de aula.
Santa Fé do Sul é um município modesto, tem apenas 28 mil habitantes, um único cinema e renda média mensal que não chega a R$ 1.200. E isto mostra um outro milagre: mais 4 escolas dessa cidade estão entre as 10 melhores do país. Coincidência? Claro que não! O município de Santa Fé do Sul é um dos poucos no país que possuem seu Plano Municipal de Educação, ou seja, um programa que lhes assegura autonomia para definir e manter sua política educacional. Isto significa que uma mudança de governo não irá afetar muito seus projetos, como acontece na maioria dos municípios brasileiros. Ou seja, além do compromisso e da competência de seus diretores de escola, todo o sistema de gestão da cidade está bem articulado. É o que sempre falamos aqui: os maus políticos sempre tem como desestruturar o que não está bem articulado...

E agora um detalhe MUUUUUUUITO polêmico: a Secretaria da Educação de Santa Fé do Sul optou por implantar um sistema de ensino apostilado e foi a partir dessa atitude que tudo começou a melhorar. Mas sabemos muito bem que se não houvesse vontade política e o empenho de todos os gestores, o sistema teria naufragado. Aqui em Sampa, por exemplo, já houve diversos casos em que "educadores" queimaram livros e outros materiais didáticos em praça pública... Portanto, parabéns a Santa Fé do Sul e a seus gestores! Tem mais: se o avanço da educação no país depender do fim das eternas masturbações intelectuais sobre teorias da educação, que venham os bons projetos de ensino apostilados!
Leia aqui a matéria de onde extraímos as informações sobre Santa Fé do Sul.

Em 2006 parabenizamos uma escola de Trajano de Moraes, Rio de Janeiro, o CIEP 279, que estava com IDEB 8,5 em 2005, mas caiu para 5,4 em 2009. Já em 2007 essa escola recebeu pontuação 5.2 e não conseguiu recuperar o rendimento. Isto mostra como é volúvel a questão da qualidade do ensino e como falta estrutura para o país avançar na educação...

Comentários

Carlos França disse…
Concordo em tudo. Te segui até aqui a partir do blog Escola Publica Não é de Graça e vou passar a ser 'assinante' deste também (rs). Obrigado pela dica. Parece que muita gente já percebeu isso: a direção da escola é fundamental. Aí pode estar o ponto de mutação para sairmos desse pântano em que está a educação. Por que será que não conseguimos sair desse diagnóstico e fazer as coisas realmente acontecerem? O que falta?
Giulia disse…
O grande problema da direção das escolas na rede pública é a "dança das cadeiras", que é sempre desculpa para não assumir as responsabilidades, já que o "novo" diretor acabou de chegar, rs. Essa dança das cadeiras é um "esquema", tá?...