Mídia nota zero - A série XIX - Edição "espetacular"!


Desta vez a TV Globo mostrou sua verdadeira cara! Numa reportagem que poderia dar um quadro bem interessante da educação pública no país, tudo o que chama a atenção é a tendenciosidade e a incompetência, beirando a burrice. Assista com atenção a esse vídeo. Trata-se da agressão de um aluno de 13 anos por parte de um professor de jiu jitsu contratado por uma escola pública do Espírito Santo para tapar aulas vagas. O menino estava jogando futebol com os colegas na quadra e ouvindo funk no celular. O professor pediu o celular porque "não gostava de funk", o aluno não quis entregar e foi espancado pelo professor:



Se você assistir apenas à reportagem, o estrago é pequeno. A questão se torna extremamente grave quando os dois 'bonequinhos Playmobil', assim chamados pelo amigo Mauro, abrem a boca para "comentar" os fatos. Os fatos que realmente caberia comentar não são abordados, como é de costume nos telejornais da Globo, outros são distorcidos ou mal entendidos pelos "âncoras". Acompanhe a reportagem junto com o nosso texto, comentamos a matéria na mesma ordem:

  • O aluno estava em AULA VAGA, expressão proibida na rede pública, pois caracteriza "oferta irregular de ensino" e poderia até justificar um processo contra a escola. Desta vez a reportagem mencionou essa expressão tabu, mas os "jornalistas" não a comentaram. A AULA VAGA é, além da péssima qualidade do ensino, a maior responsável pela evasão escolar e pela indisciplina na escola. A mídia (não apenas a TV Globo) se nega a pesquisar esse fenômeno (no qual o Brasil é certamente campeão mundial), que solapa de 20 a 30% das aulas que o aluno deveria receber. Assim, ele fica "jogado" dentro da escola, largado na quadra ou no pátio, como por exemplo ocorreu nessa outra situação, quando a coordenadora da escola foi comemorar seu aniversário na sala dos professores, toda a escola ficou em AULA VAGA durante uma hora e depois disso os alunos foram simplesmente dispensados. No caso específico da reportagem acima, o aluno estava jogando futebol na quadra com os colegas. Nada disso foi comentado pelos "ancoras" do jornal. Não interessa para a mídia se o aluno da escola pública tem ou não aula, se fica jogando futebol, baralho ou é simplesmente dispensado; afinal, filho de jornalista estuda na rede particular...
  • A filmagem mostra marcas no pescoço do aluno, além de um olho roxo e escoriações no rosto. O menino (pequeno e franzino, apesar da voz de trovão que "por acaso" a filmagem lhe conferiu...) conta que o professor começou a enforcá-lo quando ele se negou a entregar o celular. Em seguida conseguiu se desvencilhar, empurrou o professor e recebeu um soco no olho. O professor de jiu jitsu (que certamente pesa mais de cem quilos, conforme mostra o vídeo) aparece sem qualquer marca na reportagem, o que é mais do que óbvio. Mesmo assim, o 'bonequinho Playmobil' comenta que "o que a gente entende é que o professor chamou a atenção, foi agredido e bateu também". (A gente entende o quê, cara pálida?...)
  • A 'bonequinha Playmobil' respondeu "pois é" para o colega, demonstrando que também não entendeu a ordem dos fatos - o que é grave, pois o vídeo foi filmado pela própria Globo... O pior momento da reportagem, porém, vem agora, quando a 'bonequinha' comenta a fala da psicóloga entrevistada no vídeo. A psicóloga diz que a agressão física é a demonstração da falta de limites do ser humano, referindo-se claramente ao professor. Novamente, a 'bonequinha' não entende a questão e entra com a ladainha da falta de limites dos jovens...

Se a questão, aqui, fosse apenas avaliar a qualidade do telejornal, bastaria dizer que os "âncoras" não assistiram direito ao vídeo que a própria emissora produziu ou que são de inteligência limítrofe. Mas não é essa a questão principal! Essa reportagem faz coro ao discurso dos sindicatos da "educação", comprado por toda a grande mídia, sobre a "falta de limites" do aluno da rede pública, esse "pivete", esse "baderneiro", essa "laranja podre" que estraga a escola.

Outros aspectos da reportagem poderiam dar margem a uma discussão saudável na sociedade, como por exemplo o "projeto social" remunerado que justificaria a presença de um professor de jiu jitsu numa escola pública, ainda mais um professor que espanca alunos... Também chama a atenção a fala do professor, ao justificar-se alegando que pretendia entregar o celular para a coordenadora da escola. É pra isso que existe coordenador pedagógico? Para sequestrar os bens do aluno e depois não devolvê-los, como sabemos de N casos ocorridos nas escolas?!

A mãe entrevistada está coberta de razão: o afastamento do professor é muito pouco, esse exemplo não irá coibir casos semelhantes. Mas temos certeza de que essa mãe não terá apoio de ninguém para processar o professor e muito menos a escola. Aqui em São Paulo, que é a locomotiva do país, nem a Comissão de Cidadania da OAB nos apóia, imagine o que pode esperar uma mãe no interior do Espírito Santo...

A única coisa decente falada pelo ‘bonequinho Playmobil’ nesta reportagem foi a expressão “quem somos nós para analisar isso?” Ele e sua colega perderam uma boa oportunidade para ficarem calados...

Com essa reportagem realmente “espetacular”, a Globo volta a receber nota zero. Uma pena, depois da nota cinco que recebeu em maio, nota que também é ruim, porém maior do que a média que costumamos conferir à mídia nacional, voltada para a demonização do aluno da escola pública.

Leia clicando aqui outros posts da série Mídia nota zero.


Comentários

Glória disse…
Excelente análise, Giulia. Tudo tão óbvio e ninguém quer ver.
Giulia disse…
Pois é, Glória, não sei se é óbvio, veja um comentário lá na Cremilda, de um cara que mandou rever a reportagem pois tinha entendido que não havia erro lá. O "analfabetismo funcional" está em proporções assustadoras...
Anônimo disse…
Giulia,
colocamos o vídeo no youtube:
http://www.youtube.com/watch?v=MvGMEfPNzAo

Veja também:
TV GLOBO quer castigos mais severos para os alunos?
http://www.youtube.com/watch?v=ooRkNq-d7BA
Giulia disse…
Obrigada, Mauro, valeu!