A voz do aluno nº 1


ESCLARECIMENTO: ESTE POST, BEM COMO O SEGUINTE (CLIQUE AQUI PARA LER), FOI ESCRITO EM OUTUBRO E TIRADO DO AR PARA ACABAR COM AS REPRESÁLIAS SOFRIDAS PELO ALUNO QUE TEVE A CORAGEM DE CRITICAR A ESCOLA. VOLTAMOS A PUBLICÁ-LO, POIS O ALUNO ESTÁ FINALMENTE FORMADO E ASSIM "SALVO". ESPERAMOS QUE, APESAR DISSO TUDO, OUTROS ALUNOS TENHAM A CORAGEM DE SOLTAR A PRÓPRIA VOZ, POIS, POR INCRÍVEL QUE POSSA PARECER, ESTAMOS NUMA DEMOCRACIA E NÃO PODEMOS PERDER AS ESPERANÇAS!

Sempre falamos aqui que o Brasil é um país pedófobo, pois despreza suas crianças e jovens. Eles não têm voz, ou melhor, não se lhes permite a expressão. Pior ainda quando se trata de alunos da rede pública, considerados, com a ajuda da grande mídia, pivetes e trombadinhas em potencial. No que se refere à inteligência e ao conhecimento, são completamente subestimados e até culpados pela incompetência da escola. Já fazem parte da cultura brasileira, pobre como a de nenhum outro país, as "pérolas do ENEM", cultivadas por "intelequituais" como Jô Soares.

Mais uma vez o EducaFórum faz história, dando voz a jovens brilhantes, não por estudarem em Harvard ou na Sorbonne, mas em escolas brasileiras, muitas delas públicas e, ainda assim, não nas elitistas, que escolhem a dedo seus alunos e copiam descaradamente péssimas escolas particulares. Não, são alunos de escolas "comuns", onde as aulas vagas estão a mil, onde os profissionais gritam e xingam à vontade, onde os alunos são expulsos a rodo.

Com essa nova série, A voz do aluno, vamos ouvir as verdades da escola ditas por quem é vítima de um sistema educacional perverso e excludente.

O primeiro número desta série traz um texto de W A, aluno destinado à expulsão, mas que soube dar a volta por cima e conseguiu permanecer na escola. W estuda no período noturno, está se formando no Ensino Médio e escreve melhor do que a maioria dos professores que comentam aqui no blog. Confira!

Ao ler o post Diminuir o número de aulas ruins? Ótima ideia! pude fazer uma breve avaliação sobre o ensino médio, frequentado por mim e por muitos outros jovens.

O ensino em escolas públicas está ficando cada vez mais pobre e assim poucos se interessam em aprender, em mudar.

Seguem algumas observações a partir da minha experiência como aluno da EE J L R:

- Aulas vagas
- Professores sem estrutura pedagógica
- Reuniões-fantasmas

Esses são três assuntos que eu gostaria de comentar, pois considero bem graves.

Aulas vagas
Do que se trata? Em termos leigos, como nós mesmos (alunos) entitulamos, o conceito de aula vaga seria 'falta de professor'. Logo, sendo a falta de um professor, teríamos um outro, chamado de 'substituto', para que não ficássemos sem aula. Em resumo, quando um professor falta, existiria um segundo para cobrir suas faltas. Comentarei como funciona a situação no meu colégio:

Temos aula de segunda à sexta feira. Cada dia da semana, teríamos cinco aulas de determinadas disciplinas, que somariam vinte e cinco aulas. Por mês, teríamos então cem aulas, já que o mês tem aproximadamente quatro semanas. No entanto, dessas cem aulas mensais, posso afirmar que temos cerca de cinquenta, ou seja, por volta de 50%. Os outros 50%, bem, são aulas vagas. Isso não é brincadeira! O interessante é que, mesmo a escola contando com professores substitutos, muitas vezes somos dispensados ou ficamos sozinhos em sala de aula.

Em resumo, aula vaga já é algo 'padrão' onde eu estudo, algumas vezes são substituídas, outras ficamos ali mesmo esperando que algo aconteça, perdendo conteúdo, perdendo dias letivos, perdendo conhecimento em geral.

Professores sem estrutura pedagógica
É algo que ainda me assusta. Professores que chamam os alunos de porcos, 'molequinhos de merda', ‘bandidinhos’, são frequentes nas escolas, o que é triste, já que o profissional necessita ter um certo respeito, no mínimo um certo PROFISSIONALISMO para tratar com crianças e adolescentes.

No colégio onde estudo é comum escutar coisas como:

- Quer fazer faz, não quer, não faz.
- Fulano faltou? Melhor ainda, tomara que não volte.
- Tal sala só tem animais, bando de porcos.

Esse tipo de expressão é comum de se ouvir da boca de professores. Triste, não?

Reuniões-fantasmas
Eu costumo chamar de pretexto para que não haja aula. Um exemplo clássico: semana de fechamento de notas. Todo final de bimestre é realizado o chamado fechamento de notas. Como o nome já diz, fecha-se as notas de todos os alunos em todas as disciplinas. Nessa semana, temos uma ou duas aulas e no mais somos dispensados por reuniões de professores etc. e tal. Nunca sabemos de verdade o que se passa nessas reuniões... afinal, uma semana para fechamento de notas, sendo que dias antes alguns professores já estão com todas fechadas. Suspeito, não?

Esse é apenas UM episódio, pois há semanas em que um dia fica para reunião de professores, reunião disso, daquilo. Enfim, reuniões. E nesses dias, ou não temos aula, ou somos dispensados muito mais cedo...

Após esse excelente depoimento do aluno W, aproveitamos para festejar novamente a 1ª Ouvidoria do aluno, criada em Jacareí pelo Vereador Dario Burro. Viva Dario! E vamos aguardar mais textos de alunos da rede pública relatando o que se passa em suas escolas.

Comentários

cremilda disse…
Giulia
Eu costumo mandar os meus textos sempre que dá, para a imprensa
Esse post de hoje está ótimo
Giulia disse…
Gostou do aparelho de surdez, Cremilda? rsrs Me manda por e-mail os contatos de mídia que você tem?
cremilda disse…
E quando esse tesouro vai fazer 18 anos para começar a botar a boca na Alesp ???
Giulia disse…
Este post é de outubro do ano passado, dá para ver pela data dos comentários anteriores. Tivemos que tirá-lo do ar na época, pois o aluno autor do texto foi seriamente ameaçado por colegas instigados por professores da escola. Hoje ele já está formado no Ensino Médio e fora da escola. E ainda temos que ouvir que exageramos e que contribuímos para alimentar a discórdia entre pais e professores. Quanta hipocrisia!!!
Anônimo disse…
Prezados Senhores, este relato dramático não acontece somente em escola pública não, creiam em escolas particulares, aliás de fachada grande é pior ainda, pois cobram alto e é a mesma coisa oun pior, pois bulling é praticado por professores. Eu, como mãe passei situação humilhante e desastrosa. Obrigado.