Profundas mágoas da escola

Este post é uma homenagem a todos os alunos que sofreram e ainda sofrem profundas mágoas da escola, esse lugar que poderia ser um celeiro de descobertas e conhecimento, mas muitas vezes se resume a um poço de tristeza.

O lugar onde crianças e adolescentes deveriam estar protegidos e ser estimulados para o aprendizado é hoje situação de risco, especialmente na rede pública. Risco de perder as referências de boa convivência recebidas na família, de desenvolver a agressividade, de perder a autoestima, a integridade ou até a vida. Essa não é uma visão pessimista da "sagrada" escola, mas um resumo das milhares de mensagens de desespero e dos apelos que temos recebido de pais e alunos nestes mais de vinte anos de trabalho.

A homenagem de hoje é para a família do menino Roliver de Jesus dos Santos, de Vitória, ES, que cometeu suicídio devido ao bullying que sofreu na escola. Essa tragédia poderia ter sido evitada, pois a mãe do garoto estava ciente do sofrimento do filho e pediu várias vezes sua transferência, mas a Secretaria da Educação resolveu distribuir os três filhos em escolas diferentes, o que dificultou a mudança. O aluno costumava ser chamado de "bicha" pelos colegas, o que também poderia ter sido resolvido com uma campanha de esclarecimento mobilizando toda a escola contra os preconceitos. Essas campanhas têm o poder de pulverizar pequenas gangues e grupos que promovem o bullying, mas poucas escolas as promovem. A tônica é o descaso. Para não falar do bullying docente (não, não estou falando aqui do professor-vítima), quando profissionais da educação instigam os alunos ao preconceito contra um colega. Lembramos aqui sempre o célebre caso da EE Octacílio de Carvalho Lopes, em São Paulo, quando um professor chamou um aluno justamente de "bicha" e incentivou os colegas ao bullying. Leia o post Homofobia premiada, clicando aqui e mais outro caso de bullying docente clicando aqui.

A notícia do suicídio de Roliver passou praticamente em branco na mídia, dominada pelos sindicatos da classe, mais preocupados em divulgar as greves. Outro fator que contribuiu para a omissão da mídia foi certamente a condição social da família, sendo o pai um simples gari, "o mais baixo na escala do trabalho", nas palavras do jornalista Boris Casoy. Veja onde saiu a matéria, clicando aqui.

Em menos de seis meses, o Brasil assistiu ao suicídio de dois alunos de escolas públicas e continua anestesiado, como se nada anormal tivesse acontecido. Além do suicídio de Roliver, em setembro passado ocorreu o do menino Daniel, em São Caetano do Sul. Esse caso teve mais repercussão na mídia, pois antes de suicidar-se o menino atirou na professora, mas foi rapidamente abafado, evitando assim uma investigação sobre os motivos que levaram o garoto a uma atitude tão extrema. Leia sobre esse caso clicando aqui. Ao contrário do que dizem, nossa intenção não é promover o ódio contra a escola e os profissionais da educação. O que sempre pretendemos aqui é incentivar a reflexão, uma profunda reflexão sobre as mágoas que tantas crianças e adolescentes sofrem na escola. FATO.


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