A escola tabu nº 34 - Mais uma tragédia


A tragédia ocorrida esta semana na Escola Municipal "modelo" Alcina Dantas Feijão, em São Caetano do Sul, onde um aluno atirou na professora e em seguida tirou a própria vida, mantém nosso luto aqui no blog.

Nos foi cobrado um pronunciamento a respeito do assunto e esclarecemos que demoramos a comentar a notícia, não por estarmos paralizados pela "incredulidade", mas exatamente pelo contrário. O assunto vem sendo tão falado - e mal comentado - por aí, que resolvemos fazer silêncio e apenas vibrar pelo aluno, pela família, pela professora e por toda a rede pública de ensino.

Este blog é um dos poucos espaços que vem denunciando o péssimo clima existente nas escolas públicas brasileiras, dominadas pelo autoritarismo. A série de posts A escola tabu já está no número 34 e a questão tem ficado tão crítica que supera em gravidade a qualidade do ensino.

O fato ocorrido em São Caetano do Sul poderia ser um marco para a sociedade brasileira iniciar uma reflexão profunda sobre A escola tabu, essa onde o aluno é tratado como problema, estorvo ou ameba. Mas já percebemos que essa possível discussão está sendo minimizada, pois a imagem da escola como instituição intocável continua falando mais alto. A "incredulidade" a respeito de uma tentativa de assassinato seguida por suicídio, por parte de um aluno dentro da escola, está dificultando essa reflexão. A frase mais reveladora que encontramos em toda a mídia, onde o assunto está sendo divulgado e reprisado, é a seguinte:

Me nego a pensar em como algo tão trágico pode acontecer entre um aluno e uma professora!

Aparentemente, a INCREDULIDADE sobre a profunda mágoa que um aluno possa ter em relação à escola ou a algum profissional da educação vai continuar sendo o único pensamento da sociedade brasileira, apesar de N casos que mostram conflitos entre a classe docente e o alunado. No auge do delírio, houve até quem supôs que o aluno de São Caetano poderia ter atirado na professora por estar apaixonado por ela. Nesse caso, ele certamente não comunicaria para ninguém sua intenção de matá-la, como fez para alguns colegas...

Mas a nossa intenção não é ir às causas do comportamento trágico desse aluno. Estamos aliás muito apreensivos sobre a forma como a investigação vai ser conduzida dentro da escola, pois as possibilidades de manipulação de mentes inocentes são praticamente ilimitadas. Lembramos com muita tristeza da lavagem cerebral feita nos alunos da EE Padre Josué Silveira de Matos, em São João da Boa Vista, quando uma classe inteira foi submetida a duas "reuniões" de duas horas cada com a direção da escola, onde os alunos foram induzidos a culpar uma garota inocente de ter ateado fogo à lixeira da classe, inocência que só foi descoberta pelo juiz da infância e juventude, após verificar as contradições nos depoimentos.

O caso de São Caetano do Sul é realmente trágico e precisa ser comentado com muito cuidado para as crianças. A questão, por exemplo, de como o menino conseguiu a arma, não é a principal. A criança NÃO resolveu matar a professora PORQUE havia uma arma à sua disposição! Diga-se, entre parênteses, que o pai do menino, guarda municipal, foi extremamente irresponsável ao não guardar a arma em gaveta com chave ou cadeado! Por mais que a dor da perda do filho seja imensa, ele merece ser responsabilizado por esse crime de omissão, caso contrário seria mais uma injustiça cometida pela sociedade brasileira e mais um péssimo exemplo para os nossos jovens, tão sujeitos à divulgação de valores mediocres através da mídia.

Se ele não tivesse tido essa arma à mão, a mágoa ou o ódio do aluno poderiam ser expressos de outra forma. E seria injusto que ele arcasse sozinho com sentimentos tão negativos, sem qualquer ajuda ou orientação. Nesse sentido, que não se espere nada da escola! Se a direção tivesse tido conhecimento dos planos do garoto, ele seria simplesmente execrado, tratado como bicho peçonhento e expulso da escola. Por muito menos, inclusive por motívos fúteis, as escolas públicas se livram dos "alunos-problema".

Em toda a mídia, a única voz que se levantou para comentar a "caixa preta que é a escola" é a da socióloga Miriam Abramovay, que sugere a necessidade de renovação da instituição, atrasada de um ou dois séculos, não apenas na questão da qualidade, mas das relações sociais. Voz tímida e solitária, infelizmente!

Com apreensão, aguardamos os próximos passos da mídia. Qual será o meio de comunicação que, com exclusividade (!), conseguirá imagens do menino ou da professora, para toda a sociedade se lambuzar com essa tragédia?... Será o Fantástico, daqui a minutos? Pobre Brasil!...

Em tempo:
A professora Glória Reis reproduz uma breve entrevista da psicóloga Ângela Soligo na Folha de São Paulo. Segue um trecho:

Ângela Soligo - Casos extremos estão se repetindo. As escolas precisam se perguntar: por que somos palco dessas situações? Já deveria ter acendido a luz amarela para escolas, gestores e pesquisadores. Tanto essas situações quanto as avaliações educacionais mostram que as escolas têm sido palco de frustrações, principalmente as públicas.
Muitas vezes, a vítima se sente desprotegida, como se ninguém se importasse com ela. A escola tende a silenciar diante de casos de conflito.

Comentários

Giulia disse…
Caraminholando: como é que um menino de 10 anos - que não deve ter mais do que 1,50 de altura - consegue manipular um revólver com tanta "destreza"? Ele acertou dois alvos, de primeira... E o tranco?...
cremilda disse…
Giulia
Ontem sem querer ví a entrevista que o pai deu para a Rede Record em horário nobre.
Fiquei perplexa !
O pai declarou que vai pedir desculpas para a professora e sua família.
Isso reforça a minha suspeita que o aluno não poderia reclamar para os seus pais de maltratos e humilhações sofridas.
Se nem morto seu pai lhe dá crédito, imagina se estivesse vivo
Imagino também se o pai não o castigou já outras vêzes e injustamente por causa dessa professora.
Aluno já chega na escola com dois grupos de inimigos poderosos.
A escola e a sua família.
cremilda disse…
Giulia
A destreza do aluno para mim, se deve ao desespero.
O desespero faz coisa que se contar até Deus duvida.
Nada de mudar o foco...
Giulia disse…
É mesmo para se pensar, Cremilda!... Eu vi a entrevista dos pais no Fantástico e fiquei arrepiada, eles não têm qualquer sentimento de culpa!!! Gente, eu ia ficar umas duas semanas em estado de choque. Dá a impressão de que eles foram orientados por algum advogado. E certamente todos vão dizer que somos maldosas... rsrs
cremilda disse…
Giulia
A reunião na Cogesp de hoje foi adiada para quinta feira as 11 da manhã
Para resolver os problemas da escola Andronico de Mello e Adolfo Gordo
Bora lá me dar uma força ????
Giulia disse…
Cremilda, confirma dia e horário, por favor.
Giulia disse…
Essa história está cada vez mais confusa. O garoto teria pensado em fazer uma brincadeira??? Se fosse um menino de 5 ou 6 anos, ainda vá lá. Ainda por cima, era filho de um profissional das armas! Que pai seria esse, se não tivesse conseguido ensinar ao filho que não se brinca com armas?...
cremilda disse…
Não Giulia
O aluno não estava brincando...
Se não fosse a arma do pai ele acabaria arrumando outra arma
Teria que desarmar as professsoras
cremilda disse…
A reunião na cogesp foi adiada de novo e eu aviso dois dias antes.
Anônimo disse…
"O aluno não estava brincando...
Se não fosse a arma do pai ele acabaria arrumando outra arma
Teria que desarmar as professsoras"

As senhoras não se emendam mesmo! Como é que criança de boa família, religiosa, vai no submundo comprar ou alugar uma arma? Vai usar o dinheiro da mesada? É difícil admitir que udo foi uma fatalidade, que escapa ao nosso contole e compreensão?


Odair