A escola tabu nº 48 - Novamente o famigerado uniforme

Um dos indicadores da extrema pobreza da pedagogia em vigor no país é o assunto uniforme. Nas escolas onde não há nada mais importante a tratar, ele está sempre na ordem do dia, como tópico principal do regimento escolar. O uniforme, herança do militarismo, se encaixa perfeitamente no modelo de escola burra e autoritária que perdura no país, mesmo um quarto de século após o fim da ditadura militar.

Com o pretexto de que ele preservaria a segurança dos alunos, o uniforme serve hoje principalmente à exclusão escolar. As crianças cujas famílias não têm recursos para adquirir o número de peças necessárias para cada filho costumam ser humilhadas publicamente e muitas acabam deixando os alunos em casa. Leia um dos inúmeros casos clicando aqui.

Escola autoritária não gosta de criança nem de adolescente, se incomoda com a sua vivacidade, curiosidade e esperteza. Se não dá para expulsar os alunos, então que pelo menos se diminua o acesso! Por esse motivo, inúmeras escolas barram diariamente a entrada de alunos, por falta de uniforme ou por vestimenta "inadequada".

O último caso que deu na mídia saiu ontem na Folha de São Paulo. Trata-se da EE Alarico Silveira, aqui em São Paulo, uma das "escolinhas de 1,99" que comprovam o que escrevi acima: escolas de péssima qualidade se preocupam, em primeiro lugar, com questões de vestuário. Leia o inteligente post do Mauro clicando aqui.

Mas houve casos muito mais graves já noticiados neste blog, como o ocorrido na jurássica EE Brasílio Machado, também em São Paulo. Leia sobre isso clicando aqui.

O caso mais chocantes do qual tivemos notícias ocorreu na EE Mário Arminante, leia clicando aqui. O resumo da história é bem triste: duas alunas de 13 anos foram barradas no portão por falta de uniforme. A escola fica no extremo Sul da Capital, próxima à represa. As adolescentes, dispensadas das aulas, resolveram ir se refrescar na represa e morreram afogadas. É claro que o caso teve repercussão mínima na mídia, por se tratar de alunas pobres da periferia. Aliás, não espere que algum dos assuntos mencionados aqui seja transmitido no Fantástico...

Não adianta bater na tecla de que as escolas não podem exigir o uso do uniforme, conforme reza a Lei Estadual nº 3913, de 14/11/83pois a própria Secretaria da Educação é conivente com esse crime. Já cansamos de dar murro em ponta de faca! Fica porém definitivamente claro o seguinte: o argumento de que a escola exige o uniforme para segurança dos alunos cai por terra na hora em que ela os dispensa justamente por falta de uniforme ou por roupas "inadequadas". Está claro que A PREOCUPAÇÃO DAS ESCOLAS NÃO É COM A SEGURANÇA DOS ALUNOS, mas com a preservação de práticas autoritárias, jurássicas e principalmente ILEGAIS. Durante o horário de aulas, as crianças e adolescentes estão SOB A GUARDA DA ESCOLA, elas não podem ser dispensadas a bel prazer.

Somente quando ocorrer um acidente grave com algum aluno cuja família possa pagar um bom advogado, a dispensa de alunos na porta da escola por questões de vestuário começará a ser tratada com seriedade na sociedade e na mídia brasileira.

Comentários

Anônimo disse…
Pois é, que mal tem em ir a escola quase pelada, feito piriguete...
Giulia disse…
Anônimo cegueta, você acha que essas meninas fotografadas pela Folha estão "quase peladas"?
Anônimo disse…
A questão é que os próprios pais valorizam o uso do uniforme. A maioria considera isso uma forma de organização. Escola sem uniforme é escola desorganizada, e os diretores não querem isso. Saia perguntando e veja quantos pais apoiam o uso do fardamento, você se surpreenderá. Menos de 1% não estará de acordo.