A voz do aluno nº 3


Estamos encantados com a resposta dos alunos a esta nova seção do blog: eles estão dando uma clara visão da ESCOLA TABU que sempre tentamos mostrar aqui. O garoto que acaba de nos escrever é mais um aluno "de ouro", tratado como sucata neste país onde a educação só vale como cabide de empregos (na rede pública) ou negó$$io (na particular). Quem tiver ouvidos de ouvir, ouça!


Meu nome é Thalles, tenho 16 anos e atualmente estou cursando o 2º ano do Ensino Médio na melhor escola da minha cidade, que ocupa a posição 193 no ranking nacional do ENEM. Venho relatar sobre o preconceito que sofro na minha escola quanto à minha maneira diferente de aprender e estudar.

Primeiramente, deixo claro: meu conhecimento é tudo pra mim. Sou menor de idade, não trabalho, não possuo renda e vivo às custas de meus pais. Logo, a única coisa que é (e sempre será)  exclusivamente minha, é meu conhecimento. Por isso, considero meu conhecimento e minha educação como meu foco principal de vida, agora e pelos próximos anos de faculdade.

Pois bem, sou um aluno literalmente mediano, já que minhas notas são muito próximas da média que é 60%, mas estão sempre acima dela. O meu diferencial quanto aos outros alunos é a minha forma de aprender. Não copio a matéria passada em sala de aula e raramente faço minhas tarefas, além de não estudar em casa. Todo meu conhecimento é adquirido pelo simples ato de prestar atenção nas aulas e assistir ao noticiário, assim como a documentários.

Pois esta minha particularidade, que poderia ser encarada como um desafio pedagógico para os professores, é levada como uma afronta. Sou taxado pelos professores e coordenação (e desculpem-me pela palavra) de “vagabundo”. Uma característica minha que poderia ser explorada, ou que merecia ao menos alguma atenção ou procurar ser entendida, é simplesmente  inaceitável para a escola.

A Coordenadora Pedagógica do Colégio, que tem fama de autoritária e mal educada junto aos alunos, agora ameaça me “expulsar” do Colégio, pois para ela minha atitude é incompatível com a escola e é prejudicial para os colegas (mesmo que isso não afete ninguém em nada). Curiosamente, a reclamação sobre a minha postura chegou a essa coordenadora por meio do meu professor de Geografia, que é marido da coordenadora e me conhece a menos de 1 mês. É válido destacar que já tive outras experiências desagradáveis com a mesma coordenadora, no ano passado.

Como se ainda não bastasse, a ameaça de “expulsão” vem 4 meses antes da minha saída do Colégio, que já foi informada à coordenação. Felizmente, irei terminar meu Ensino Médio no exterior e poderei sair desta escola.

Agora fica a pergunta final: como, numa escola de “elite”, que é considerada excepcional e possui alguns dos melhores professores do estado, se comete uma atrocidade como esta? Não cabia à escola respeito pela maneira que cada aluno tem de estudar, e pela EDUCAÇÃO que cada um recebe em casa?

A resposta é simples, porém trágica: a “qualidade” da educação é algo tão importante no Brasil, seja na rede pública ou privada, que a relação escola-aluno é considerada inútil. Inútil a ponto de uma escola cuja mensalidade para o ensino médio gira em torno de R$ 800,00 por mês, contratar profissionais despreparados e autoritários, que muitas vezes levam assuntos de alunos para o lado pessoal, e tomam como objetivo obstruir a educação do aluno e dificultar que haja algum prazer ao se aprender. E sim, esta é a atual situação da educação no Brasil. 

Leia os posts anteriores:
A voz do aluno nº 1
A voz do aluno nº 2

Este espaço é para você, aluno da rede pública ou particular, que quer expressar sua opinião. Mande seu e-mail para educaforum@hotmail.com

Comentários

Giulia disse…
Esclarecendo melhor: o Thalles não atrapalha o curso da aula, prestando atenção sempre, e até mesmo trabalhando como voluntário, dando monitorias sobre matérias com as quais tem facilidade. Está claro que se trata de uma perseguição que visa prejudicá-lo, pois, se ele for expulso da escola, não será aceito no intercâmbio que está solicitando no exterior. Enfim, a escola quer "dar-lhe uma lição" perante aos outros alunos: que ninguém se atreva a agir da mesma forma!
cremilda disse…
Giulia
O nome da escola ???
Dê nome aos bois, ou melhor as vacas, como todo respeito as vacas.
cremilda
Giulia disse…
Cremilda, meu compromisso é com o aluno. Ele mesmo pediu para não divulgar o nome da escola, até que ele tenha certeza de que não será expulso.
cremilda disse…
Então, a escola onde você divulgou o nome eu posso copiar e protocolar no Palácio do Governo ?
Acho que a gente tem que mandar pilhas para lá. Uma vez que o Secretário Adjunto alega não ter recebido reclamações das escolas, então elas param sabe Deus onde.
No Palácio e protocolo e tem um local onde você pode pela internet acompanhar lá no Palácio onde está o documento e na mão de quem.
Normalmente fica meses na casa civil, mas eles tem necessariamente que despachar.
Jà falei isso para o Tertuliando.
Como eu moro perto do Palácio do Governo, fica mais fácil para mim
cremilda
Giulia disse…
Pode sim claro.
Anônimo disse…
O nome da escola é Colégio Santo Agostinho - Unidade Contagem. Fica em Contagem, Minas Gerais. Também sou aluno da escola e não conheço o Thalles, mas simpatizo com sua causa.
cremilda disse…
Então, querida ter compromisso com o aluno é nossa luta.
O que eu não gosto é de omitir o nome da escola, parece que assim a gente favorece as criminosas, acha que elas vestem a carapuça ? Vestem nada.
Giulia disse…
Bom saber que o caso do Thalles está sendo comentado na escola onde ele estuda e que outros alunos são solidários. Só criando redes de solidariedade nas escolas será possível restabelecer o senso de justiça e a noção de cidadania que muitas vezes os alunos levam de casa, mas a escola esmaga de forma perversa.
Giulia disse…
Aliás, Colégio Santo Agostinho, que decepção!! É esse o espírito cristão que vocês praticam? Expulsar aluno da escola por motivo fútil? Ou para esmagar a criatividade e o prazer de aprender dos alunos? Espero muito que esse assunto gere um saudável debate dentro da escola e que estimule uma mudança de paradigma.
Anônimo disse…
Estudei no Colégio Santo Agostinho - Contagem por muitos anos e infelizmente também fui aluno deste professor de Geografia que por acaso é esposo da coordenadora pedagógica.
Acrescento que naquela época, testemunhei este professor fazer apologia, DENTRO de sala de aula, à tortura de prisioneiros em unidades carcerárias, à extinção do Senado Federal e outros barbarismos.
Por sempre ter me posicionado de forma crítica ao que era lecionado, e por ter método de aprendizado similar ao do colega Thalles, fui taxado de relaxado e de "não quer nada com a vida" por este e por outro professor que ainda leciona nessa instituição educacional, mesmo possuíndo excelentes notas e ser um dos poucos alunos a ser monitor de três matérias diferentes durante o ensino médio.
Ao colega Thalles, garanto-lhe que existem meios legais para cessar e impedir que você sofra perseguição de professores e manifesto aqui todo meu apoio, que você tenha uma vida letiva muito melhor estudando no exterior.
Giulia disse…
Oi, Anônimo,bom saber que o Thalles conta com o apoio de outros alunos e ex-alunos. Mas seria mais legal se você se identificasse, já que não tem mais nada a temer, depois que saiu da escola...
Anônimo disse…
Giulia, apenas não me identifiquei pois tenho parentes que ainda estudam no Colégio Santo Agostinho e não quero que sofram represálias, infelizmente esta é a regra por lá.
Giulia disse…
Entendi, anônimo... Você acaba de provar que as atitudes de perseguição e represália são tão comuns nas escolas públicas quanto nas particulares!
yu disse…
olá,
Fiquei tão alviada por saber que outras pessoas também passaram por problemas de segurança com a escola dos filhos.
Estou tendo problemas no colegio santo agostinho, em sp, e o diretor da escola veio hoje falar comigo, dizendo para eu tomar cuidado com os emails que estou mandando para outros pais, que pais estao batendo nos seus filhos por causa dos meus emails, enfim, se ele queria me deixar com medo, conseguiu.
meu filho de seis anos apanhou de quatro meninos no intervalo da escola e ninguem viu. mandei emails para escola solicitando mais segurança na escola, mas eles disseram que não é necessario.
espero realmente que nada aconteça comigo ou com eles, estou ficando com medo.
fica meu apelo por mais justiça e amor no mundo.
de verdade.